Oliveira do Hospital realizou àquela que já assume como a “maior feira do queijo de Portugal”. Uma festa, que é também uma homenagem a uma das maravilhas da gastronomia portuguesa – o queijo Serra da Estrela – cuja produção artesanal continua ameaçada, apesar de alguns sinais de inovação no setor.
Lado a lado com esta luta pela “sobrevivência” das pequenas explorações, encontramos em Oliveira do Hospital uma indústria agro alimentar cada vez mais pujante, a apostar cada vez mais em novos mercados e novos compradores que se traduzam em mais oportunidades de negócio. Exportar ainda não é para todos, mas é esse o desígnio dos empresários oliveirenses também neste setor.
Câmara Municipal aposta na “maior festa do Queijo de Portugal”
Faça chuva ou faça sol, Oliveira do Hospital recebeu aquela que já é rotulada como a “maior festa do queijo do país”. Os avisos de mau tempo levaram a Câmara Municipal a contratar, à última hora, mais algumas tendas de grande dimensão, para poder acolher nas melhores condições tanto os expositores, como os milhares de visitantes durante os dois dias de certame.
“Estão reunidas todas as condições para que esta possa ser a maior feira do queijo de Portugal”, garantia o presidente José Carlos Alexandrino, dando conta de alguns reajustamentos à disposição desta mostra, uma vez que, estavam apenas previstos espaços cobertos para os produtores de queijo e outros produtos alimentares e a já habitual “tenda de eventos”, tal como em anos anteriores. Um “plano B” que permitiu ao presidente da Câmara estar mais descansado em relação ao sucesso desta feira, que mais que aumentar o número de expositores, teve como objetivo, de ano para ano, trazer mais gente a Oliveira do Hospital “atrás desta feira”.
E a prova de que mesmo antes de acontecer já era um êxito é “sabermos que temos a capacidade hoteleira completamente esgotada”, refere o autarca, lembrando que os milhares de visitantes convidados vieram pelo “chamariz” do queijo, mas foram desafiados a conhecer o património histórico, cultural e paisagístico do concelho, em programas organizados pela Câmara Municipal.
“Não tenho dúvidas que num momento de dificuldades como este, estamos a colocar o concelho na rota do turismo gastronómico”, garante o edil, dando nota da importância deste certame para a “dinamização económica dos pequenos produtores”. “Isto mexe com esta pequena economia local”, reforça ainda Alexandrino, aproveitando para criticar algumas “mentalidades do passado” que pensam que a Câmara se estivesse parada é que estava a trabalhar bem. “Nós achamos que não e que estes eventos são determinantes para o concelho, que hoje é sem dúvida nenhuma um concelho mais conhecido, um concelho com voz, que tem uma imagem de marketing”.
“Nós temos aqui os melhores fatos do mundo, mas também produzimos aqui o melhor queijo do mundo”, sustenta ainda o edil, vendo este produto de excelência da região como a principal “âncora” do concelho e termos turísticos. Temos de transformar Oliveira do Hospital numa marca”, adianta o presidente do executivo, empenhado em “vender” a imagem do concelho, através do queijo Serra da Estrela, mas também através de outras “maravilhas naturais”.
Secretário de Estado inaugura Festa do Queijo
Assumindo-se como a “a maior de Portugal”, a 22ª edição da Festa do Queijo teve como ponto mais emblemático, a Feira propriamente dita, que seguiu a dinâmica iniciada em 2011, quando passou a ter a duração de dois dias, realizando-se, mais uma vez, no recinto da feira de Oliveira do Hospital.
A feira foi inaugurada por Nuno Vieira de Brito, Secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar. Mas o primeiro momento da festa esteve marcado para dias antes, com o início do programa “O Ciclo da Lã”, que teve lugar na Biblioteca Municipal de Oliveira do Hospital.
A restante programação manteve “o modelo” adotada nos últimos anos, com uma forte vertente lúdica e formativa, envolvendo atividades em áreas tão distintas como o Desporto, a Cultura, a Gastronomia ou o Turismo, que tiveram como missão emoldurar a estrela do certame, o Queijo Serra da Estrela.
Para a edição de 2013 a organização recebeu perto de 200 inscrições de expositores, metade de produtos agroalimentares e metade de produtos artesanais. O Queijo Serra da Estrela teve a primazia através das queijarias que têm aderido à certificação e têm estatuto de produtor DOP, sendo ainda dado destaque aos produtores de queijo de ovelha curado que cumprem os requisitos de certificação mas não aderem à DOP. O concelho de Oliveira do Hospital continua este ano a ser uma referência em termos de produção de Queijo Serra da Estrela DOP – das duas dezenas de queijarias que atualmente certificam queijo nos 18 concelhos da região demarcada, quatro delas estão sedeadas no concelho de Oliveira do Hospital.
Outros produtos que tiveram forte presença na feira foram o enchido e os bolos e doçarias, com mais de 30 produtores cada.
Museu do Queijo à espera do momento “para avançar”
Apesar de reconhecer a necessidade de um espaço para a promoção e divulgação deste “ex libris” da gastronomia serrana, José Carlos Alexandrino entende, neste momento, “não estarem reunidas as condições em termos de quadro comunitário” para a Câmara Municipal se lançar a um investimento nesta área. “O projeto não está esquecido, mas também não podemos meter-nos numa obra sem qualquer sustentabilidade financeira, não faço negócios às cegas”, adverte o presidente do Município à espera de “melhores dias” e de eventuais investidores privados, que até já vieram a Oliveira do Hospital com esse objetivo, e ainda podem voltar a mostrar interesse, assim as condições do país melhorem.
Enquanto não há um espaço próprio para a sua promoção, Alexandrino aposta noutras estratégias de “comunicação” para trazer turistas a provar o genuíno queijo serra da Estrela, a Oliveira, como é o exemplo máximo o certame que se segue, nos próximos dois dias, que apesar de se assumir como um dos maiores do país, pode voltar a mudar de formato, já numa próxima edição. Em que moldes? Alexandrino recusa-se a adiantar, apenas diz que, conforme a deslocou do mercado para o recinto da feira, também a pode realizar noutro local diferente da cidade. Com uma certeza, em 2014 haverá mais festa.
Concurso Gastronómico “Com Queijo Serra da Estrela”
Uma vez mais, no âmbito da programação da 22.ª Festa do Queijo Serra da Estrela de Oliveira do Hospital, promoveu-se o concurso gastronómico “Com Queijo Serra da Estrela” que visa incentivar a inovação e o empreendedorismo para a eventual criação de um doce ou salgado de referência.
O concurso foi aberto a todos os residentes no concelho, e integrou duas categorias, Doces e Salgados. Os concorrentes puderam participar a nível individual ou coletivo, podendo apresentar uma única receita a concurso em cada uma delas. A confeção das receitas obrigou à utilização de Queijo Serra da Estrela ou Queijo de Ovelha e seus derivados, e não foram permitidas inscrições ou participações com receitas que já fizeram parte de concursos promovidos em anos anteriores.
Os pratos concorrentes foram avaliados por um júri de 5 pessoas presidido pela chefe de cozinha Cristina Manso Preto e constituído por representantes do Município de Oliveira do Hospital e da Confraria do Queijo Serra da Estrela, o qual fez a sua apreciação tendo em conta critérios de apresentação, degustação, originalidade da recolha ou da receita e viabilidade da sua produção empresarial.
Em cada uma das categorias a concurso foram atribuídos três prémios nos valores de 100, 75 e 50 euros. Com um número de participantes assinalável nos anos anteriores, o concurso já revelou iguarias distintas.
Confraria do Queijo Serra da Estrela teme pelo futuro desta maravilha gastronómica
São os embaixadores do queijo serra da Estrela, mas dizem já ter visto dias melhores na vida de um produto, que apesar de ser único no mundo, continua a ser cada vez mais escasso. É assim, num misto de preocupação e esperança, que a Confraria do Queijo Serra da Estrela, sedeada em Oliveira do Hospital, vê o futuro do queijo que promove e defende em todos os locais e cerimónias por onde passa. “ Não vejo sinais positivos de revitalização desta atividade, as dificuldades que os produtores tinham há uns anos atrás mantêm-se hoje”, garante Pedro Couceiro, Grande Conselheiro da Confraria e colaborador da ANCOSE, pouco crente num incremento do setor, a menos que “o desemprego possa trazer mais gente para a terra”.
“Há aqui alguma esperança que haja malta nova a dedicar-se ao setor, porque isto nos últimos 3/ 4 anos levou um trambolhão”, diz, lembrando que só no concelho de Oliveira do Hospital desapareceram mais de 50% das explorações. Uma realidade que é tanto mais preocupante, quando se sabe que “continuam a não existir políticas definidas” em relação á preservação deste produto de excelência da gastronomia portuguesa. “O Estado ou encara este queijo como emblemático ou não, tem de definir se isto é importante ou não defender”, entende este “embaixador” do queijo Serra da Estrela, julgando que enquanto não existir uma “diferenciação” do queijo DOP em relação ao queijo de ovelha, não “há revitalização do setor”. “Temos aqui a dificuldade da introdução de outras raças mais rentáveis que a bordaleira, e o eterno problema do preço do leite que é pago ao mesmo preço, ora, as pessoas precisam de sobreviver”, considera Pedro Couceiro, lembrando que a produção de queijo certificado, no concelho de Oliveira, já está hoje nas mãos de quatro ou cinco produtores
“Teoricamente o desemprego podia ser uma alavanca, mas para já ainda não está a ser”, constata, temendo pelo futuro deste queijo. A não existir um investimento a sério nesta atividade, “a Confraria corre o risco de qualquer dia estar a defender um fóssil, uma coisa que não existe”, sublinha ainda o médico veterinário, defendendo uma valorização deste produto através do aumento do preço e de um “up grade” em termos de mercado alvo a atingir. “Tudo o que é bom e raro no mundo paga-se bem”, refere o Grande Conselheiro da Confraria, julgando que é tudo uma questão de marketing, e de posicionamento de “um dos melhores queijos do mundo” em relação ao mercado. E se as quantidades produzidas neste momento na Região Demarcada da Serra da Estrela são manifestamente insuficientes para apostar “a sério” na exportação, Pedro Couceiro continua a não ter dúvidas do potencial “turístico” deste queijo para a região, funcionando aliás como seu principal “chamariz”.
Tenda de Eventos dinamizou Festa do Queijo
Na Tenda de Eventos da Festa do Queijo Serra da Estrela de Oliveira do Hospital foram dinamizadas, ao longo dos dois dias da feira, diversas iniciativas que complementam a venda dos produtos endógenos de qualidade e do artesanato, e que fazem deste espaço um local de visita obrigatória.
Toda a programação delineada para este espaço girou em torno do Queijo Serra da Estrela, conferindo-lhe ainda um maior destaque. Esteve presente a Chef Cristina Manso Preto, que fez um show-cooking com receitas de base Serra da Estrela e um workshop “Cozinha para Crianças”. Os mais novos foram ainda o público-alvo da já conhecida Escolinha do Queijo, onde foram promovidas diversas atividades ao longo do horário de funcionamento da feira.
Decorreu também o concurso de gastronomia “Com Queijo Serra da Estrela”, com a apreciação das iguarias concorrentes e a divulgação dos premiados. Foi promovida uma apresentação ao vivo de Cães da Serra da Estrela, uma presença incontornável que contou com a presença da Confraria do Cão da Serra da Estrela e da LICRASE.
A Tenda de Eventos acolheu ainda a comunicação “Queijo Rabaçal – uma fatia do Sicó” e a sessão de apresentação e degustação deste queijo convidado da Feira. Seguiu-se uma sessão de cozinha de receitas de base Serra da Estrela pelos alunos do curso de Restauração da Escola Secundária de Oliveira do Hospital.
Rotas da Pastorícia foi outra das atrações do certame
Pelo terceiro ano consecutivo, as “Rotas da Pastorícia” complementaram a programação da Festa do Queijo Serra da Estrela. O certame voltou a envolver um conjunto de atividades desportivas e de lazer organizadas por vários promotores, em articulação com o Município, e que foram responsáveis por trazer centenas de visitantes até à maior feira de Queijo Serra da Estrela de Portugal. No dia 10 de março, um conjunto de percursos a cavalo, em bicicleta todo o terreno e em automóvel atravessou o território concelhio, com passagem obrigatória pelo recinto da Feira.
Realizou-se um passeio equestre participado por cerca de 60 cavaleiros que visitou o recinto da Festa do Queijo antes de seguir para um itinerário pelo concelho.
Este ano, também a 16.ª Concentração e Passeio de Mini se associou à Festa do Queijo Serra da Estrela de Oliveira do Hospital e conduziu os participantes desde Coimbra até à sede de concelho. Do roteiro da concentração, além da visita à feira, constaram também passagens por freguesias como S. Gião e Bobadela.
Outra das atrações desportivas foi a já habitual Maratona BTT de Oliveira do Hospital, uma organização do Clube Seita/BTT Lazer que, em conjunto com a Câmara Municipal, promoveu a realização da 7.ª edição do evento, integrada no programa da feira pelo terceiro ano consecutivo.
Paulo Rogério defende conquista de novos mercados como forma de criar valor acrescentado ao Queijo Serra da Estrela DOP
Crise pode transformar-se em oportunidade
Conhecido proprietário de uma queijaria artesanal em Oliveira do Hospital e vice-presidente da associação representativa do setor – a ANCOSE, Paulo Rogério, continua a pensar que grande parte das dificuldades associadas à produção de Queijo Serra da Estrela estão diretamente ligadas com o problema do abandono da terra e do mundo rural. Lamenta que o setor tenha sido, ao longo de décadas, “desprestigiado” no país, o que faz com que, mesmo com a crise e o desemprego galopante “continue a faltar de mão de obra neste setor”. “A agricultura e a pecuária são dois exemplos. Costumo dizer que pastores, só doidos ou bêbados, daí que atualmente só tenha 200 ovelhas, por falta de pastores sérios”, afirma. Com o país todo em crise, Paulo Rogério espera que “as dificuldades” sejam pretexto para uma mudança efetiva no setor. “Urge que os nossos governantes comecem a valorizar o setor primário, sobretudo na nossa região, onde a grande aposta é a agricultura e, em particular, a produção de um dos melhores queijos do mundo”, diz, acreditando numa “mudança de paradigma” e que, daqui a 15 ou 20 anos volte a haver pastores na região, ainda que em moldes diferentes, pastores mais modernos”, refere.
Para a “mudança” que defende, o produtor é da opinião de que o Queijo Serra da Estrela DOP deve chegar a novos mercados, capazes de pagar “o preço justo” do produto. Até porque, no mercado nacional, o Queijo Serra da Estrela continua a ser comercializado ao mesmo preço que era há 10 e 15 anos atrás, e os custos de produção “não baixaram”, bem pelo contrário. “É caso para perguntar se há 15 anos atrás, os produtores de queijo ganhavam muito dinheiro ou se terão, agora, empobrecido de forma dramática”, questiona, estando convicto de que isto só dará a “volta” se houver uma valorização do produto e uma aposta na inovação, que permita chegar a outros mercados mais longínquos. Nessa tarefa, acredita que terão o apoio do Município e da modernidade aplicada à tradição, com a concretização do projeto da BLC3 para a comercialização de Queijo Serra da Estrela DOP fatiado em unidoses e protegido contra o bolor.
Defensor de um processo de certificação sem custos para o produtor – “a certificação é uma marca do Estado Português que os produtores têm injustamente de pagar” – Paulo Rogério reconhece mesmo que, numa produção em pequena escala não compensa certificar, até porque “a única diferença de um queijo DOP acaba, muitas vezes, por ser o selo de autenticidade”. “Só fará sentido quando os produtores começarem a alcançar um mercado mais deslocalizado da região serrana”, garante, crítico de um sistema “pouco benéfico” para quem luta pela defesa e promoção de uma das sete Maravilhas da Gastronomia Portuguesa.
Quinta do Cruzeiro alia produção e comercialização do queijo ao turismo
Criatividade e inovação ao serviço da tradição
Aos 45 anos de idade, Deorema Coelho não tem mãos a medir na Queijaria da Quinta do Cruzeiro, no Seixo da Beira. O trabalho intensifica-se com os preparativos para a Festa do Queijo, mas no resto do ano, é quase sempre assim.
Conhecida por ser uma voz crítica do setor, a queijeira optou por fazer frente às “mesmas dificuldades de há duas
décadas atrás” se sentem na produção de queijo, de forma empreendedora e inovadora, aliando a tradição da produção e comercialização de Queijo Serra da Estrela à prática de Turismo no Espaço Rural. A comprovar o sucesso desta ideia estão os muitos autocarros de excursionistas que visitam a Quinta quase todos os fins de semana. Deorema revela que, em alguns casos, os turistas não se limitam a visitar a quinta, participando também no processo de ordenha, fabrico de queijo e requeijão, na degustação de uma refeição à base de borrego e produtos endógenos.
“
Cada vez mais temos de ser imaginativos e criativos em tudo o que fazemos”, constata a produtora que, até na comercialização do Queijo Serra da Estrela já começou a inovar, prometendo voltar a apresentar, nesta Festa do Queijo, “novas iguarias” com queijo Serra da Estrela, como queijo curado em frascos com picante, peixe e, imagine-se, até com chocolate.
Consciente da importância do investimento municipal numa “festa que dignifica todos os produtores de Queijo Serra da Estrela”, Deorema Coelho não tem dúvidas que esta é “uma forma de gerar movimento e riqueza, com a qual todo o concelho sai a ganhar”.
Quanto ao futuro do “empreendimento” que ergueu com o marido em ’89 e onde os dois filhos já trabalham, a artesã diz esperar por “tempos melhores”, até porque “nem sequer temos pastor, porque já não há ninguém que queira guardar as ovelhas”, desabafa.
Por outro lado, Deorema Coelho gostaria de ver o seu “investimento” valorizado sugerindo, por exemplo, parcerias com ranchos folclóricos e associações locais, que poderiam aproveitar a vinda das excursões para a sua promoção, através de atuações culturais e recreações de antigas tradições. Para a queijeira, “todos os negócios podem sobressair, mesmo em tempos de crise, dependendo muito de quem está à frente deles”. Criatividade e empreendedorismo que esta produtora concelhia quer levar mais longe, com a exportação já no horizonte, nomeadamente para países como África do Sul, Angola e Brasil.
Empresa líder no setor da transformação de carnes, Indubeira quer continuar a crescer “lá fora” em 2013
“O caminho é a exportação”
“Qualidade” é a máxima que, ao longo dos anos, tem ditado o sucesso da Indubeira. A empresa do setor agroalimentar, com sede na zona industrial de Oliveira do Hospital é hoje líder mercado nacional e tem presença cada vez mais expressiva no mercado internacional, em particular no continente africano.
Fortemente implantada no território nacional, a Indubeira há muito que abriu caminho para novos mercados. Uma realidade que se acentuou nos últimos anos, com a empresa de Oliveira do Hospital a conseguir conquistar a confiança de mercados longínquos, como é o caso de alguns países do continente africano, registando atualmente uma forte implantação dos seus produtos em Angola. Uma presença que, em conjunto com Cabo Verde, Guiné e Timor Leste é responsável atualmente por mais de 60 por cento do volume de faturação registado pela empresa.
Um caminho iniciado pelo seu administrador, Orlando Gouveia, que tem permitido a esta indústria, centrada na transformação de carnes frescas e congeladas, em fatias ou porcionadas, crescer de forma sustentada, tendo nos últimos anos atingido patamares de faturação nunca antes registados. O ‘boom’ aconteceu no final da última década, altura em que a empresa se afirmou na grande distribuição alimentar e que, no imediato, possibilitou o crescimento exponencial do volume de negócios, atingindo em 2008 os 18 milhões de euros. Desde então, o percurso tem sido de crescimento, alicerçado sobretudo na aposta no mercado internacional. “Não seria possível continuar só no mercado nacional”, entende o diretor comercial da unidade alimentar, Pedro Marçalo, que encara a exportação como o “caminho” a seguir pela Indubeira, até como forma de continuar a passar “ao lado da crise”, para a qual outras empresas do setor e não só, não se souberam preparar. “Antecipámos a crise há uns anos e soubemos alargar o nosso leque de clientes, foi a nossa sorte”, confidenciou o responsável comercial da empresa, que já tem em mente a conquista de novos mercados, para que a Indubeira continue a “crescer muito”.
Um percurso só possível por via de uma política de qualidade que, como Pedro Marçalo faz questão de frisar, é transversal aos vários setores da unidade produtiva, e que é o garante de que “o produto colocado no mercado nacional é da mesma qualidade daquele que é exportado”. “É tudo igual”, assegura o diretor comercial, chamando a atenção para o facto de nos últimos anos a empresa vir a melhorar o processo de corte dos vários tipos de carne e de embalamento por via da higienização e do sistema de vácuo. Afinal, este é “um setor muito fiscalizado em Portugal” e onde qualquer falha pode ser “fatal” na vida de uma empresa.
Em processo de certificação, a Indubeira está presente em Oliveira do Hospital em duas unidades localizadas na Zona Industrial. Para além do edifício sede, onde está localizada a unidade de transformação de carnes e um remodelado espaço de venda ao público, a Indubeira dispõe de um entreposto comercial que abre as portas da empresa para o mercado nacional e internacional. No conjunto, as duas unidades asseguram 130 postos de trabalho a que se juntam outros trabalhadores do entreposto comercial que o grupo Indubeira detém, em Santa Maria da Feira, e a fábrica de charcutaria, com instalações em Alcochete. Unidades que, no seu conjunto, permitiram ao grupo registar no final do ano passado um volume de negócios na ordem dos 30 milhões de euros e fazer da Indubeira uma marca líder no mercado nacional. Uma realidade para a qual também contribui a constante aposta na melhoria da imagem da empresa, por via da atualização e modernização do logótipo e presença assídua na internet e rede social facebook, onde disponibiliza uma página de receitas, com o objetivo claro de promover hábitos de consumo, com a “marca” Indubeira.
Quinta de Jugais e Salsicharia Beira Serra
“Unidas pelo sangue” a desbravar novos mercados
É de Oliveira do Hospital que partem para o país e para o mundo os melhores sabores. Chás, doces, doces 100% fruta, mel, azeite e vinagre são os produtos com que a Quinta de Jugais se tem afirmado entre os principais mercados. De qualidade reconhecida, os produtos aliam o melhor da modernidade com o bom sabor da tradição, tornando-os intemporais, ao mesmo tempo fazendo as delícias de quem os consome. Uma tarefa que tem sido facilitada pela utilização de técnicas milenares e segredos tradicionais.
De espírito jovem e irreverente, a empresa tem vindo a apostar numa estratégia de crescimento, conseguindo ombrear e superar outras marcas do setor. Um caminho desbravado com recurso a uma constante melhoria da imagem empresarial e colocação no mercado de novos e requintados sabores.
Localizada na zona industrial de Oliveira do Hospital, num modelo de co-habitação com a empresa que lhe serviu de berço – a Salsicharia Beira Serra – a Quinta de Jugais apresenta um historial de sucesso que já obrigou à construção de uma moderna unidade de apoio. É que para além da produção e comercialização de iguarias gastronómicas, a empresa que fechou o último ano com um volume de negócios superior a nove milhões de euros, tem dado passos acertados na comercialização de “cabazes de Natal” destinados às empresas. Um serviço que a empresa garante com recurso aos produtos próprios, aos enchidos da “Salsicharia Beira Serra” e a outros produtos nacionais especialmente selecionados para aquele fim, sempre na constante preocupação de preservar e manter vivo o sabor português.
“Unidas pelo sangue”, ambas as empresas – Quinta de Jugais e Salsicharia Beira Serra – são unidades de referência no setor agro alimentar. Fundada em 1995, a Salsicharia Beira Serra é hoje a prova viva de que o “saber fazer” traz sempre bons resultados. A unidade que produz uma diversidade de enchidos respeitando as mais elevadas exigência de qualidade e controlo sanitário assegura mais de duas dezenas de postos de trabalho.
Queijos Lagos quer criar uma “Academia do Queijo”
A crescer para chegar a 25 países
Presente nas principais cadeias comerciais nacionais, Espanha, França, Dinamarca, Estados Unidos, Angola e Cambodja, os Queijos Lagos – PME Excelência em 2012 – prepara-se para chegar a outros tantos países.
Com um historial de crescimento contínuo do volume de negócios, os Queijos Lagos assumem o mercado internacional como o grande desafio a superar. A colocar no exterior 10% da produção da unidade localizada em Meruge, a empresa iniciou um processo destinado a aumentar a capacidade produtiva. Em causa está a construção, já em curso, de uma nova unidade industrial, no concelho de Seia, que possibilitará à empresa de base familiar atingir um novo patamar na escala de sucesso.
“Crescer” é a palavra de ordem para uma empresa que fechou 2006 com um volume de negócios de 36 mil euros e encerrou 2012 com perto de um milhão e meio de euros de faturação. Impõe-se perguntar: qual o segredo? “Muito profissionalismo e não desistir à primeira contrariedade”, desvenda Luís Lagos que, em todo este processo, não deixa de dar valor ao fator “sorte” e ao “estar no local certo, à hora certa”. Ingredientes determinantes para os sucessivos êxitos da empresa que, num futuro próximo, conta marcar presença em 25 países. Espanha, França, Dinamarca, Estados Unidos, Angola e Cambodja são já mercados com venda certa dos produtos Queijo Lagos, decorrendo tal conquista da aposta da empresa na inovação e diferenciação. O tradicional queijo de ovelha curado e amanteigado há muito que deixou de ser o único produto da unidade industrial, que foi pioneira em lançar no mercado o queijo fatiado, queijo curado em azeite, queijo de cabra, requeijão e manteiga de ovelha. A comercializar o queijo Serra da Estrela DOP, a empresa prepara-se a breve trecho avançar para a produção daquele queijo certificado na sua própria unidade industrial.
A apostar numa “estratégia de crescimento” que passa por modernas instalações e a aposta em novos mercados, a empresa Queijos Lagos viu o seu mérito ser reconhecido com a distinção PME Excelência. “Isto tem sido sangue, suor e lágrimas”, assume o empresário que, pese embora o registo de sucesso não deixa de lamentar os obstáculos com que se tem deparado no que toca a levar longe produtos de reconhecida qualidade. Em concreto, a deficiente promoção da gastronomia portuguesa no exterior. “Portugal tem que potenciar a gastronomia e atrás disso vamos vender um conjunto de produtos, como o vinho e também o azeite”, sublinha Luís Lagos que, não deixa de se mostrar satisfeito pela atenção que tem sido dirigida à agroindústria que, aliada ao seu espírito empreendedor garante a presença dos “Queijos Lagos” na grande distribuição alimentar nacional, e assiduidade nos cabazes de Natal do El Corte Inglês. Condicionantes que permitem aos Queijos Lagos passar “ao lado” da crise que afeta o país e perspetivar novos projetos, entre os quais a criação de uma “Academia do Queijo”, destinada ao desenvolvimento de novos produtos e à aprendizagem das técnicas de produção de queijo.
“Quinta do Nina” aposta num processo inovador de embalamento de enchidos, numa lata de conserva
Ter “lata” para chegar a novos mercados
Uma marca própria assente numa linha gourmet, é o objetivo da Quinta do Nina, uma pequena empresa de base familiar sedeada em Nogueira do Cravo que, numa tentativa clara de “diferenciação” no setor da salsicharia, acaba de criar uma embalagem inovadora para enchidos, que venceu o prémio do Concurso Municipal de Ideias de Negócio, no valor de 15 mil euros.
A sair de um momento menos próspero, a empresa iniciou há cerca de ano e meio um processo de renovação que passou sobretudo por conferir uma nova imagem a produtos de reconhecida qualidade: chouriças, alheiras tradicionais, de leitão e até de cogumelos, farinheiras, paiola, butelo e o leitão assado “Quinta do Nina” são hoje produtos de presença obrigatória nas casas da região e de vários pontos do país. “É preciso abrir portas”, entende Patrícia Nina, o rosto mais jovem do projeto, que não hesitou em dar a mão ao negócio de família, juntamente com o irmão, Pedro Nina, conferindo-lhe claramente uma “vida nova”. E é disto mesmo que se trata. Para além de se tentar diferenciar, a unidade de produção “Quinta do Nina” ganhou identidade e é hoje procurada em vários espaços comerciais, onde marca presença em expositores próprios.
A conquistar terreno no mercado nacional, a empresa que, no último ano registou um volume de negócios próximo dos 250 mil euros, já deu os primeiros passos, no domínio das exportações. A Suíça é o país de estreia, perspetivando-se para breve a entrada nos Estados Unidos, Angola e Brasil. “Hoje uma empresa não se aguenta apenas no mercado português”, entende Patrícia Nina que, por isso, concorreu ao concurso municipal Empreender + com uma ideia inovadora de embalamento do enchido tradicional em lata de conserva que, para além de “prática”, permite alargar o período de validade do produto, facilitando a sua exportação para “mercados longínquos”. Uma “lata” que, para além de manter a chouriça mergulhada em conservante, assume no momento após a abertura, a função do tradicional assador, bastando ao consumido abrir uma patilha que permite que, um segundo líquido – ainda em estudo pela universidade do Minho – se misture com o conservante e possa, depois ser incendiado.
“É inovador porque a embalagem assume uma dupla funcionalidade”, realça Patrícia Nina, fazendo notar que o projeto premiado contempla ainda a comercialização de linguiça conservada em azeite em frasco de vidro, e ainda outra novidade: leitão ao retalho ultracongelado. Soluções com que a “Quinta do Nina” espera em breve atingir mercados internacionais e aumentar a produção que, por esta altura, se situa numa média anual de 14 toneladas de enchidos e de três mil leitões assados.
Matadouro Regional continua a ser uma referência no setor, apesar da entrada de carne espanhola a preços mais baixos
“Em Portugal é mais fácil comer-se carne de qualidade do que peixe”
Quando se fala em qualidade da carne nacional, comparativamente com a importada, está-se a ir ao encontro daquilo que é a preocupação do Matadouro Regional, situado na Chamusca da Beira, e que hoje pertence a um conjunto de empresários oliveirenses, que assumiram a sua gestão desde a privatização no inicio dos anos 90.
Numa altura em que qualquer problema no setor alimentar pode ser meio caminho andado para a ruina do negócio, António José Álvaro é o primeiro a dizer que “aqui é tudo inspecionado” e“mais que fiscalizado”, desde a entrada dos animais, durante o abate, até à saída para o cliente. O abate é feito em condições mais do que seguras, o que o leva aquele elemento da administração a concluir que hoje “é mais fácil comer carne de qualidade em Portugal do que peixe”. O problema, adianta, são a dezenas de camiões carregados de gado que entra aí todos os dias vindos de Espanha, a preços mais baixos, porque o abate também é mais barato”, diz, lamentando que as legislações não sejam mais apertada e relação à entrada da carne em Portugal, pois “tenho a certeza que se isso acontecesse muitos dos camiões ficavam apreendidos”. “Hoje em Portugal são precisos mais papeis para abater um animal, do que para comprar uma casa ou um automóvel”, refere, levando o exemplo ao “limite”. “Podemos dizer que a carne que sai do nosso matadouro é 100% segura”, garante o gestor, preocupado ainda assim com a perda de alguns clientes, para a concorrência espanhola.
Com o principal mercado ainda muito dependente da pequena e média distribuição nacional, António Álvaro lamenta que até a indústria do setor, nomeadamente as salsicharias, com cada vez mais produtos no mercadocom o rótulo “tradicional”, optem pela carne que vem de fora, por uma questão de preços. “Chega a ser caricato falar em fumeiro artesanal, quando é feito, por exemplo, com carne holandesa”, critica o gestor, não deixando de lamentar que sendo este o único matadouro numa área territorial bastante alargada, possa perder terreno, simplesmente porque ainda faltam acessibilidades “em condições” até ao concelho. “Ainda agora nos aconteceu com um distribuidor, que se as condições fossem outras em termos de estradas, vinha aqui abater o gado, assim optou pelo matadouro de Aveiro”, refere.
Apesar de ter vindo sempre a aumentar o volume de vendas, representando já uma faturação na ordem dos oito milhões de euros, o Matadouro regional debate-se ainda com outra dificuldade que é a quase inexistência deexplorações, nomeadamente de suínos, na região, isto para não falar do concelho, “em que não temos um único fornecedor que alimente diariamente o matadouro”. “Neste momento temos uma área sobredimensionada para as necessidades, as linhas de abate estão aquém da capacidade instalada: isto é, 800 suínos diários e 100 bovinos”, refere o administrador, dando nota da mudança de estratégia na gestão do matadouro, que “deixou de ser um mero prestador de serviços, para passar a apostar na componente comercial, vendendo os animais à peça”.
Criado pelo antigo IROMA, para acabar com os abates clandestinos em garagens e barracões, diz que gere esta sociedade, que o matadouro continua a cumprir a sua função no garante da qualidade do produto que chega ao consumidor final. “A fiscalização é diária, e é um imperativo de segurança”, sublinha o gestor, consciente da importância deste “selo” em toda a cadeia alimentar de que são responsáveis.
Queijaria Lameiras expandiu vendas a turistas na última edição da Festa do Queijo
Uma tradição de gerações na família Lameiras
Na Queijaria da família Lameiras, em Vila Franca da Beira, não há “tempo” para fins de semana, feriados ou férias, nem pouco para ficar doente. O trabalho das três queijeiras e do único pastor desta exploração, não dá tréguas “faça sol ou faça chuva”, para assegurar a produção diária de queijo que chega nalguns picos aos 15 quilos e mais… e requeijão. Um trabalho árduo que não retira ainda assim “boa disposição” a Paula Lameiras, a proprietária e uma das conhecidas produtoras de Queijo Serra da Estrela de Denominação de Origem Protegida, do concelho. Com uma longa tradição familiar, a queijaria Lameiras orgulha-se de continuar a oferecer a quem a procura o genuíno queijo serra da Estrela, escoando a produção quase “sem sair de casa”. Se, durante a maioria do ano, a Queijaria Lameiras vende quase exclusivamente a clientes fixos, num sistema de porta-a-porta, na última edição da Festa do Queijo de Oliveira do Hospital teve oportunidade de expandir as suas vendas a turistas vindos de norte a sul do país, num total de 400 kg de queijo vendidos. Paula Lameiras considera que este é o momento ideal para divulgar o produto e interagir com compradores de outras regiões, uma vez que “os clientes da zona preferem guardar a compra para o dia comum, quando sabem que o queijo pode até ser mais barato”.
Se é uma realidade que há perda do poder de compra, no caso do queijo Serra da Estrela a queijeira diz estar mais habituada a ouvir a clientela “falar no colesterol” do que na “magreza da carteira”, pois “quem procura queijo certificado tem noção de que está a contribuir para a preservação do Queijo Serra da Estrela”. Convicta da mais valia da certificação, condena, no entanto, os custos que lhe estão associados e admite só compensar manter a queijaria após algumas décadas de luta, que permitiram reunir um património e acima de tudo um “rebanho selecionado”.
Um património que Paula gostava se mantivesse na família apesar de não desejar para os dois filhos o “mau bocado” que ela, a avó e a bisavó passaram. “Se encontrarem algo melhor…embora o meu filho não descarte a possibilidade de se dedicar à mesma atividade do avô”, diz, acreditando claramente no futuro deste “nicho” de mercado.