Quando Oliveira do Hospital optou por investir fortemente no Queijo Serra da Estrela, fê-lo por ter condições e matéria-prima para isso, mas também por ter uma visão para o produto e para o evento – este município nem sequer era um dos que mais facilmente era associado ao queijo.
Já a caminho do fim de janeiro, a revista Forbes publicou um artigo intitulado “A fugir dos lugares comuns em Portugal: Festivais gastronómicos estranhos, maravilhosos e muito específicos”. Na lista de 12 eventos surge a Festa do Queijo de Oliveira do Hospital.
O evento, dedicado ao Queijo Serra da Estrela, tornou-se um fenómeno nacional após um investimento forte da autarquia, que deu uma volta de 180º ao evento e o reformulou, passando este de uma pequena feirinha no Mercado Municipal para uma celebração com centenas de expositores, dois dias e milhares de visitantes. Olhando para isto agora, e já tendo ouvido tantas vezes esta história, parece-nos tudo muito simples. E talvez até seja, porque o sucesso não tem de ser complicado, tem é de ser lógico.
A fórmula pode ser resumida de forma sintética: concelho com pequena dimensão, e com dificuldade para se impor enquanto marca, seleciona um produto endógeno no qual tem conhecimento e tradição únicos, e promove-o de forma única e inédita, com dimensão, visão e autoestima. É preciso sermos críticos e exigentes, e como consequência dessa crítica e exigência, esforçarmo-nos o suficiente para gostarmos de nós e acreditarmos naquilo em que somos bons. Arrisco dizer que foi isso que aconteceu aqui, com um trabalho político que fez o que deve fazer o Estado, seja ele central ou local: apoiar, incentivar e promover o que é bem feito, neste caso pelos nossos pastores e queijeiras, de modo a que isso traga retorno para todos, para o bem comum.
No último texto que publiquei aqui no Folha do Centro, sobre a diminuição da população e os fatores positivos que estamos obrigados a aproveitar para sobreviver, referi alguns destes pontos e por isso não vou ser repetitivo ou exaustivo sobre eles, mas aquilo que se fez com a Festa do Queijo é uma lição, à dimensão de um evento, daquilo que deve ser feito enquanto política de comunicação e marketing territorial, mas em ponto grande, de forma abrangente, para um território.
A Forbes, que coloca a nossa terra ao lado de autênticas celebridades gastronómicas portuguesas como as Bifanas de Vendas Novas, a Sardinha de Portimão ou a Cereja do Fundão, diz assim: “O queijo das montanhas portuguesas é tão distintivo – e amado – que tem uma denominação de origem protegida (como o DOC existe para os vinhos e uma grande festa para o celebrar”.
Ann Abel, veterana jornalista e colaboradora da popular publicação norte-americana, que assina a peça, continua e relembra que a “Festa do Queijo Serra da Estrela, na cidade de Oliveira do Hospital, no sopé da montanha, é um evento que capta muita atenção a nível local e tem o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, como visitante habitual”. Depois, enuncia como o evento junta cerca de 300 expositores e, ao queijo, produtores de enchidos, mel, vinho, bebidas espirituosas, pão e bolos, bem como o maior requeijão do mundo, servido com doce de abóbora acabadinho de fazer.
Quando Oliveira do Hospital optou por investir fortemente no Queijo Serra da Estrela, fê-lo por ter condições e matéria-prima para isso, mas também por ter uma visão para o produto e para o evento – este município nem sequer era um dos que mais facilmente era associado ao queijo, e ainda hoje está a trabalhar nessa credibilização junto do mercado, mas conseguiu construir um evento que se diferencia dos outros, que dá espaço e visibilidade ao produto, e que o mistura com uma oferta abrangente de outros serviços e produtos.
Não tem de ser complicado, não tem de ser rebuscado, não tem de ser erudito. Tem de ser bom. O melhor possível. Tem de ser autêntico. Porque as imitações e contrafações topam-se à distância. Ninguém consegue ser melhor que nós a sermos nós próprios.
Pedro Miguel Coelho
Jornalista do “Expresso”