É insólito que um jovem de Oliveira do Hospital, uma cidade, diga que o cinema que tem mais próximo é na vila de Tábua, onde há uma sessão por semana.
Falar da ESTGOH é uma repetição aqui neste espaço de opinião. Eu sei. Não vale a pena repetir discursos já muito conhecidos sobre a Educação ser uma ferramenta essencial de transformação e progresso para as comunidades e para as sociedades, contudo vale a pena enaltecer o trabalho que tem sido feito na Escola Superior.
A oportunidade que é, para Oliveira do Hospital, ter todos os graus de ensino desde a pré-primária até, em breve, os doutoramentos, deve ser sublinhada e lembrada. E não foi assim há tanto tempo que foi necessário lutar para que este fator-chave de desenvolvimento não fosse perdido.
E começo com alguns números:
- 50% dos estudantes colocados na ESTGOH na primeira fase escolheram a Escola como primeira opção. Ou seja, de todas aquelas faculdades e escolas a que podiam concorrer em todo o país foi a nossa aquela em que decidiram que mais queriam estudar.
- De acordo com os dados divulgados pelo próprio IPC, houve um aumento de 120% no número de alunos das zonas limítrofes a Oliveira do Hospital: é um reconhecimento do valor da Escola para toda a região, mas mais do que isso, uma boa notícia para a própria região e para a sua capacidade de fixação de talento e de jovens.
- 161 alunos ficaram já matriculados na primeira fase. É um número recorde e que deixa boas esperanças para a segunda e terceira fases, bem como para o crescimento da escola.
Aproveito estes bons dados para saudar toda a equipa da ESTGOH, na pessoa da sua Diretora, a Professora Vera Cunha, também ela uma mulher de Oliveira do Hospital, que regressou à sua terra e que tem vestido a camisola da Escola. Estendo, claro, estas felicitações a todos os trabalhadores, docentes e não-docentes, e ainda aos estudantes que, com orgulho e brio, e perante um período recente com enormes adversidades, não se cansam de erguer alto a bandeira da sua escola.
Concluídas as boas notícias, que prefiro sempre, ou não fosse eu um otimista, deixo aqui alguns alertas:
- Continuamos com um problema sério de habitação para os estudantes, e precisamos como de pão para a boca da construção da residência programada para o espaço do antigo Hotel São Paulo, bem como seria bem-vinda a requalificação de vários imóveis atualmente devolutos, aproveitando oportunidades criadas pelo pacote Mais Habitação.
- Os profissionais que sairão da ESTGOH, agora estudantes desta que é uma das unidades de ensino do Instituto Politécnico de Coimbra, sairão daqui mais qualificados e com ambições legítimas de um futuro melhor. Por isso mesmo, os empregadores locais têm de pensar global na hora de apostar neles, contratando-os com boas condições, à medida das suas ambições e competências únicas, que não são de um salário mínimo.
- O crescimento que a Escola tem tido torna evidentes a necessidade e a urgência de se avançar com as novas instalações, sob pena de as dores de crescimento se tornarem demasiado pronunciadas. Temos de ser efetivos na capacidade de darmos espaço para que este sucesso se continue a desenvolver.
- A vivência da cidade e uma oferta cultural adequada ao público jovem são fundamentais para uma boa experiência de vida aqui. A falta, demasiado prolongada, da Casa da Cultura, é uma grande pedra no sapato, e continua a ser pouco claro para a generalidade das pessoas os motivos para tal bloqueio. Era bom esclarecê-lo e, claro, ultrapassá-lo.
É insólito que um jovem de Oliveira do Hospital, uma cidade, diga que o cinema que tem mais próximo é na vila de Tábua, onde há uma sessão por semana. A ausência de uma discoteca da cidade é também uma má notícia para os estudantes da ESTGOH, e aqui a bola fica mesmo do lado da iniciativa privada. É uma pena que desde o fim trágico do Espíritos Club, um espaço icónico a nível nacional, nunca tenhamos voltado a ter um espaço dessa envergadura.
Ultrapassados estes alertas, quero dar as boas-vindas a quem agora chega a Oliveira do Hospital. Estão no sítio perfeito para serem felizes. Aqui a vida faz-se perto, e as pessoas estão também sempre por perto. Mesmo se às vezes parecem perto demais.
Espero que, ao longo dos anos que estudarem aqui, se apaixonem tanto como nós por estas terras sulcadas entre montes, que apreciem as cores da paisagem, a solidez granítica das nossas tradições, que mergulhem nas nossas praias fluviais e descubram tudo o que há por aqui à vossa espera. E que fiquem ou, se não ficarem, que voltem sempre.
E que sejamos um passo no vosso caminho para cumprir objetivos e realizar sonhos. É bonito ficar na história de alguém em momentos assim.
Pedro Miguel Coelho
Jornalista do “Expresso”