Estão na «última» linha da Covid 19, são eles que nesta altura praticamente se “substituem” às famílias na viagem até à última morada de quem parte, independentemente de ser vitima ou não do novo coronavírus.
E quem parte hoje, parte sozinho, ou pouco mais do que isso, porque as regras no que respeita à morte também mudaram e muito. Deixaram de ser permitidos velórios, missas de corpo presente, e nos cemitérios podem estar apenas os agentes funerários, o coveiro, e o máximo de 10 familiares da pessoa falecida. “A morte já é triste e hoje ainda está mais triste”, conclui Auteberto Brito, da Funerária Brito em Oliveira do Hospital, uma das maiores agências da região, que se preparou nos últimos meses para a pandemia.
“Estamos preparados com todo o equipamento de proteção, mas era bom que não fosse preciso porque não é agradável fazer estes serviços”, diz o empresário, que lida há vários anos com a morte e nunca viu nada parecido. “É complicado porque nunca sabemos se estamos totalmente seguros”, afirma o agente funerário, que já fez um funeral covid 19 em Meruge e “é complicado”, confessa.
Apesar de “oficialmente” ainda não ter feito nenhum funeral covid 19, Paulo Sérgio, da Funerária Sérgio, uma das maiores do concelho, lamenta que as despedidas hoje tenham de ser tão cruéis, tornando tudo mais difícil para as famílias. “Uma pessoa que tem muitos filhos, que é comum na nossa zona, se vão os filhos, já nem os netos podem ir a acompanhar”, diz o jovem empresário que ultimamente sente “muito mais” a tristeza das famílias. “Nem há palavras, isto é uma coisa que nunca ninguém tinha visto”, garante Paulo Sérgio, que hoje em dia lida com a morte com mais cuidado do que nunca.
“Nós estamos preparados com todo o equipamento de proteção individual para estas situações, porque hoje em dia se uma pessoa morre em casa, ninguém tem certezas se é covid19, e temos de ir preparados”, diz, queixando-se do preços “pela hora da morte”, que atingiram os equipamentos de proteção individual. “O que antes custava 15 euros, custa agora 40 euros e mais e não há no mercado”.
Apreensivo com a forma como se está a morrer, levando os agentes funerários a ser muitas vezes a família que não pode estar presente nas cerimónias fúnebres, Paulo Sérgio reconhece que, apesar de tristes, as regras são para cumprir até ao fim da linha.