Número de ovinos Serra da Estrela continua a diminuir na região.
Vice presidente da Associação Nacional de Criadores de Ovinos Serra da Estrela (ANCOSE), com sede em Oliveira do Hospital, Paulo Rogério é uma das vozes que mais tem alertado, nos últimos anos, para o risco de extinção da raça bordaleira ou churra mondegueira, cujo leite é a principal “matéria prima” para a confeção do genuíno queijo Serra da Estrela.
Em vésperas de mais uma festa do queijo na cidade oliveirense, o dirigente e simultaneamente produtor de queijo Serra da Estrela DOP, não deixa de se manifestar preocupado com o futuro de um setor que se diz há vários anos ameaçado, apontando o dedo, mais uma vez, à falta de medidas por parte do Estado que defendam verdadeiramente este produto único no mundo. “A ANCOSE tudo tem feito para que a ovelha bordaleira se mantenha até para que a desistência dos pequenos produtores não seja ainda mais drástica, mas o que temos vindo a assistir é à introdução, cada vez mais, de raças exóticas na nossa região”, lamenta Paulo Rogério, para quem esta situação se fica a dever ao facto dos principais clientes do leite – a indústria de lacticínios – “pagar esta matéria prima toda ao mesmo preço”.
À introdução de animais “mais rentáveis” nos rebanhos da região, Paulo Rogério soma ainda a “publicidade enganosa” e a desinformação do consumidor quando compra queijo produzido nesta região. “A verdade é que continuamos a ter dois queijos muito parecidos, mas com preços diferentes uns dos outros, e o consumidor fica baralhado”, afirma o vice presidente da ANCOSE, referindo-se à “confusão” que continua a reinar entre o que é um verdadeiro queijo Serra da Estrela e o queijo de ovelha curado. “Se nós compramos um queijo com leite proveniente de Espanha não pode ser Serra da Estrela, e isto só se resolve obrigando os produtores a colocarem a origem do leite no rótulo”, entende o dirigente, alertando para o facto de na última década ter desparecido cerca de 50% do efetivo de raça Serra da Estrela, o que se refletiu, só em 2012, numa diminuição de cerca de 20 toneladas de queijo em toda a Região Demarcada da Serra da Estrela.
Com a maioria dos produtores a caminhar para uma “idade avançada”, o dirigente associativo garante que “se nada for feito”, a pastorícia e produção de queijo DOP por pequenas explorações corre sérios riscos de “morrer”, pois “ não é rentável”. “Nisto não há sábados, não há domingos, não há férias, só há trabalho, e quando as coisas não são rentáveis é difícil atrair gente nova”, garante o produtor que, apesar de ter seguido as pegadas do pai e do avô, ambos pastores, “não é exemplo”, pois “filho de pastor dificilmente agora quer ser pastor”. Paulo Rogério entende que a única forma de inverter este cenário é “valorizar” este queijo no mercado, até porque “se é um dos melhores do mundo deve ser pago como tal”. Aliás, “se o queijo Serra da Estrela fosse vendido a 25 euros o quilo, de certeza que apareciam jovens no setor”, entende o dirigente da ANCOSE, que fala na necessidade de politicas que valorizem e diferenciem este produto dos demais, caso contrário “os pequenos acabam”, adverte.