A Assembleia Municipal de Oliveira do Hospital insurgiu-se, esta sexta-feira, contra a proposta do deputado municipal do PSD, João Brito, que manifestava o seu “profundo desagrado” pelo investimento previsto para os territórios de Baixa Densidade, onde se inclui o concelho de Oliveira do Hospital, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
João Brito disse ter uma “visão muito negativa” deste documento estratégico, porquanto não contempla os grandes investimentos estratégicos para a competitividade e desenvolvimento da região, e fez questão de lembrar que a sua posição é a mesma já assumida pelas instituições representativas da região, nomeadamente a CIM da Região de Coimbra, presidida pelo autarca José Carlos Alexandrino.
“Aquilo que era visto como um balão de oxigénio para a recuperação económica da região, afinal não é, a montanha pariu um rato”, acusou o deputado municipal que propôs um voto de “protesto e descontentamento” pelo documento, também apelidado de “bazuca europeia”, devido ao volume de financiamento aprovado por Bruxelas, para fazer face aos efeitos da pandemia na economia nacional.
A posição do PS não se esperar. A começar pela deputada e presidente da Assembleia Municipal, Dulce Pássaro, que mostrou a sua discordância com o teor da moção social democrata, que considerou “despropositada” numa altura em que “a obra mais desejada por todos os oliveirenses: a conclusão do IC6” integra o documento. “Se há concelho que está beneficiado neste pacote, é o nosso. A região pode ter razão de queixa, mas Oliveira do Hospital não tem em comparação com outros municípios”, afirmou a antiga ministra do PS, em reação à proposta de João Brito contra o PRR.
Também o deputado municipal socialista, Carlos Maia, acusou o PSD de, mais uma vez, “querer prejudicar e de querer parar o desenvolvimento da nossa terra” com este tipo de proposta, ainda mais numa altura, em que “pela primeira vez vemos a luz ao fundo do túnel” acerca do investimento mais esperado por todos os oliveirenses que é o IC6.
Antes mesmo já tinha feito saber “aos mais descrentes” que dizem que o anúncio da abertura do concurso para a execução do projeto do IC6 entre o nó de Tábua e Folhadosa é uma manobra eleitoralista, para se “desenganarem”, pois “agora é que vai haver obra”. “Agora sim, estamos todos a ver a luz ao fundo do túnel, todos os que acompanhámos este processo, o IC6 irá ser feito porque houve vontade política e luta do nosso presidente da Câmara e do PS”, afirmou, lembrando os prazos previstos para a conclusão da obra, que apontam para 2025/26, altura aliás em que os investimentos no âmbito do PRR têm de estar todos executados. “Os outros investimentos poderão sempre ser feitos com outros instrumentos financeiros que não se esgotam no PRR”, adiantou ainda Carlos Maia, considerando por isso, a proposta do social democrata “pouco credível” e até “politicamente desonesta”.
Presidente do Município e também líder da CIM região de Coimbra, José Carlos Alexandrino, explicou os motivos que levaram este organismo a tomar uma posição contra o documento, que “têm que ver mais com a construção de uma nova maternidade em Coimbra”, considerou não fazer sentido a Assembleia Municipal de Oliveira do Hospital estar a aprovar uma moção que vai contra umas das aspirações mais antigas dos oliveirenses, e de “uma obra em que tanto nos empenhámos” porque “é a primeira vez que nós temos 39 milhões para fazer o IC6”. “Esta moção vai contra os interesses do Município”, afirmou o edil, adiantando que “vai haver muito dinheiro para outras áreas, como a saúde, muito afetadas pela pandemia”.
Também o deputado eleito pelo PS, Rui Monteiro, acusou o PSD que “nunca contribuiu com um centímetro, nem com um cêntimo para o IC6” de tentar “descredibilizar um projeto em que pelos vistos nunca acreditou”, entendendo o deputado municipal que a proposta de desagrado pelo PRR tem mais a ver com as próximas eleições autárquicas do que propriamente com o documento. “Conseguimos ler isso nas entrelinhas”, afirmou Monteiro.
A partilhar da mesma posição esteve de resto toda a bancada do PS, que acusou o PSD de querer “prejudicar aquilo que está previsto relativamente ao IC6”. A oposição reagiu pela voz do deputado do CDS/PP, Nuno Rafael, que contra atacou, registando o “desespero do PS” em ano de eleições autárquicas, e quando “existem outras alternativas a este rumo e a desnorte”, de se ir “agarrando à boia do IC6”.
Também o deputado municipal do PSD, Rafael Costa, considerou tudo isto “surreal demais”, verificando que relativamente ao IC6 “vamos trazer isto outra vez, quando são estudos atrás de estudos e nada avançou”.
João Brito voltou mesmo à carga para dizer que esta posição mostra o “PS no seu melhor”, “ o PS a votar contra aquilo que tinha dito, apelando nuns locais a uma coisa e noutros a outra complemente diferente”.
Dulce Pássaro saiu novamente em defesa do executivo socialista, deixando claro que “isto não é mais um número político” e que o IC6, ao fim de “muita negociação”, de “muito empenho”, e de se “bater a muitas portas”, está finalmente inscrito com uma verba para a sua concretização, lembrando que em 2017, apesar da grande expectativa desta obra ser contemplado a seguir ao grande incêndio, Bruxelas veio dizer que “afinal Portugal tinha rodovias a mais”.
José Carlos Alexandrino rematou o debate sobre o IC6 e o PRR, lembrando ao PSD que “atraso encontrámos nós quando chegámos a Oliveira do Hospital (CM)” e que não adianta trazerem números numa folha A4, porque o que o PSD “conseguiu nada para OH foi nada, zero, bola”, e o CDS, que tinha ministros quando foi Governo, a única coisa que queria trazer para Oliveira do Hospital “era um grande eucaliptal na Quinta da Costa”. “Essa é que era a vossa estratégia para o nosso concelho”, afirmou, acusando o PSD de não querer que o IC6 avance” porque isso “será uma derrota para eles”.
“Nós sabemos que para conquistarmos as coisas é preciso sofrermos, mas houve quem ficasse dentro do castelo, e desistisse de lutar pelo concelho”, referiu ainda o edil, em resposta às criticas da bancada laranja, antevendo o “sofrimento do PSD” por saber que vão ser os governos do PS que vão fazer o IC6. “Isso um dia vai-vos custar muito a engolir”, entende Alexandrino, que lembrou a luta incessante do seu executivo, e o papel decisivo da presidente da Assembleia Municipal junto das Infraestruturas de Portugal, para que esta obra fosse desbloqueada neste organismo.