Muitos pensadores da Antiguidade trabalharam com o propósito de assegurar a preservação da memória do Homem dedicando-se a registar o conhecimento e o saber em tratados que durante séculos instruíram historiadores e investigadores.
Os livros e as bibliotecas são o habitat da memória humana. A memória monumental, preservada pelas bibliotecas permitiu que o saber resistisse séculos e fosse perpetuado e transmitido aos vindouros, a base para a sua continuidade e para a construção do futuro.
Bibliotecas convocadoras do futuro, guardiãs do passado, guardiãs da memória humana. Onde estaria o indivíduo contemporâneo sem o conhecimento desse passado? De onde teria a humanidade extraído o seu presente e como inventaria o seu futuro sem as bibliotecas? Como teria sido escrita a nossa História sem o acesso a obras de autores, como por exemplo, Galeno, que terá sido o primeiro a conduzir pesquisas fisiológicas, como Crates de Malo ou Plutarco? O que seria a literatura contemporânea se não tivessem chegado até nós a obra de Virgílio, de Dante, de Shakespeare e de tantos outros que escreveram antes e depois deles? Tudo isto devemo-lo às bibliotecas, que durante milénios souberam proteger, conservar, investigar e, também, reproduzir obras, cujo manancial de conhecimento pôde assim chegar ao indivíduo do Séc. XXI. E, apesar de toda a destruição de obras e de bibliotecas, que aconteceu ao longo de séculos, a damanatio memoriae que Flávio Josefo descreve na introdução da sua obra Antiguidades judaicas, onde alerta para o perigo da destruição de arquivos, de inscrições, de representações, para a manutenção da imortalidade e para a relevância do papel das bibliotecas na construção da História, os livros e as bibliotecas conseguiram resistir e abrir o seu caminho até ao Séc. XXI.
Porém, tempos vão em que o livro e as bibliotecas eram tão centrais na vida dos indivíduos e da sociedade que estavam presentes em diversos momentos e áreas da sua existência. Os egípcios, por exemplo, encaravam a leitura como método terapêutico e os romanos, com Galeno, seguiram esta corrente, como terá sido o caso, do santuário de Asclépio, famoso pelas suas águas miraculosas, onde se encontrava uma pequena biblioteca para complementar os tratamentos.
No início do Séc. XIX renascia o interesse na biblioterapia, como método terapêutico e muito se escrevia sobre o impacto das bibliotecas na saúde e bem-estar. Tendo este movimento tido início nos Estados Unidos, esta terapia chegou à Europa em 1900, onde terá atraído o interesse de muitos especialistas, mas não apenas da área da saúde. Na década de 1930, Charles Hagberg-Wright, prestigiado bibliotecário da London Library, discursou na British Red Cross Conference, defendendo a Biblioterapia como parte de um processo curativo.
Muitos pensadores da Antiguidade trabalharam com o propósito de assegurar a preservação da memória do Homem dedicando-se a registar o conhecimento e o saber em tratados que durante séculos instruíram historiadores e investigadores.
Tal foi o caso de Plínio, que viveu no Séc. I d.C, na sua obra Naturalis Historia, pretendeu compilar um inventário do mundo, em 37 volumes, com base no repertório manuscrito que chegara até ele. Também, Isidoro de Sevilha, Séc. VII, d.C, com a sua obra Etimologias , tinha como objetivo preservar o saber antigo em Latim, tratando das denominadas artes literais, de direito, de medicina, de línguas, ciências sagradas, História da Igreja, anatomia, botânica, zoologia e muitos outros. Ou Denis Diderot, que pensou a Encyclopedie, o extraordinário dicionário universal, denominado por muitos “o livro dos livros”, para reunir todo o conhecimento do mundo. Produzida por Diderot, D´Alembert, Voltaire, Rosseau e muitos outros colaboradores, é considerada o mais representativo documento do Iluminismo.
Paula Frade
Investigadora Instituto de Estudos de Literatura e Tradição – Universidade NOVA de Lisboa