Bispo de Dili passou ontem o dia no concelho de Oliveira do Hospital, onde recebeu inúmeras manifestações de carinho e admiração.
O Bispo de Dili e prémio Nobel da Paz, D. Carlos Ximenes Belo, deixou ontem uma mensagem de tolerância e de paz, enquanto se dirigia aos alunos do Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital, o local escolhido pelo sacerdote para iniciar a sua visita ao concelho oliveirense, no âmbito das comemorações do jubileu da misericórdia.
Numa intervenção, escutada por algumas centenas de alunos e representantes desta comunidade educativa, D. Ximenes Belo, falou do significado da palavra paz e questionou, apesar de em Oliveira do Hospital “existir paz social, porque não caem aqui bombas, nem tiros de metralhadoras”, se haverá “paz” no dia a dia das pessoas. “Quando há violência doméstica nas vossas casas não há paz, quando há bulling no pátio da escola não há paz, quando os alunos não respeitam os professores não há paz, quando os alunos não se respeitam a si não há paz”, advertiu o bispo, que apelou a que esta palavra “tão pequena, mas tão significativa”, seja posta em prática “nas nossas casas, nas nossas aldeias e nas nossas escolas”. Como? D. Ximenes Belo garante que “temos de começar por nós próprios”. “É muito importante cultivar a paz pessoal, a paz interior, estar bem contigo próprio para que cada um seja um menino e menina pacífica”, afirmou o bispo, que deixou também um apelo aos jovens para cultivarem a paz social, que se traduz no respeito e na tolerância uns pelos outros.
O Bispo de Dili respondeu ainda a algumas questões colocadas pelos jovens, nomeadamente sobre o que sentiu por ser agraciado com o Prémio Nobel da Paz, em 1996, pela luta contra a opressão indonésia, ao que respondeu “nada”.
Um sentimento que quis dizer sobretudo, silêncio, pois o bispo sabia que qualquer comemoração ou comunicação ao povo timorense poderia dar lugar a mais “sangue” e “tortura” sobre o seu povo. Também na Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, onde foi recebido pelo vice-presidente do executivo, José Francisco Rolo, uma vez que o presidente, José Carlos Alexandrino se encontra ausente no estrangeiro, D. Carlos Ximenes Belo agradeceu todo o apoio que Portugal e os seus municípios deram ao povo de Timor Leste, mantendo “viva a chama da solidariedade” para com este povo que comunga da mesma língua, da mesma cultura e da mesma religião. “Apesar de sermos independentes, continuamos a precisar do vosso apoio”, apelou o bispo, congratulando-se pela forma como foi recebido pelo Município e pelas palavras de amizade que lhe foram dirigidas pelo vice-presidente, que o considerou uma referência e um símbolo da paz em todo o mundo.
“Este é um momento marcante para a nossa comunidade”, afirmou José Francisco Rolo, que leu também uma mensagem do presidente da Câmara a partir do Chipre, onde se encontra numa missão da CIM, a realçar o papel preponderante de Ximenes Belo na libertação do povo timorense.