Carlos Conceição passou sete meses internado no S. José, em Lisboa, é um dos queimados mais graves do incêndio de 15 de outubro. Sobreviveu por uma “unha negra” mas está cá para contar o final feliz.
Carlos Conceição e Auteberto Brito são dois dos sobreviventes de 15 de outubro.
Ambos sofreram queimaduras de segundo e terceiro grau, na fatídica noite dos incêndios, a tentar salvar os seus haveres, levando-os a uma longa recuperação em diferentes unidades de queimados do país. Um ano depois do pior dia das suas vidas, e apesar de carregarem no corpo as marcas do fogo, ambos conseguiram recuperar e marcaram presença na cerimónia evocativa de homenagem às vitimas, promovida pelo Município oliveirense.
“A mim davam-me 20% de possibilidades de sobreviver”, diz Carlos Conceição, um dos feridos mais graves dos incêndios de outubro do ano passado. Esteve cerca de sete meses hospitalizado, dois dos quais em coma induzido, no S. José em Lisboa, para onde foi transportado de helicóptero dois dias depois de ser “apanhado por uma língua de fogo”, em Avô, enquanto tentava salvar um trator agrícola que tinha na quinta. “Eu quando saí para ir à quinta o fogo andava a mais de um quilómetro e de repente veio cair nas minhas costas”, recorda, lembrando-se de ter voltado para trás com um fumo mais negro “do que se andássemos a queimar pneus”.
No percurso até casa, queimou braços, mãos, cara e os joelhos, pedindo a “duas moças que estavam com uma mangueira na mão para lhe deitarem água no corpo”. “Cheguei a casa já vinha com duas unhas ao pendurão, mas ainda comecei a regar tudo, porque o fogo estava a vir pela retaguarda”, conta, dizendo que só depois aterrou no sofá e “só me queixava do frio”. “Daí para a frente não me lembro de nada, só me lembro de acordar passado mês e meio no hospital”, adianta Carlos Conceição, que regressou a Avô em agosto, depois de várias intervenções cirúrgicas, sobretudo nos braços, onde devido à profundidade das queimaduras foi necessário implantar pele retirada pernas. “Também me reconstruiram a orelha esquerda e dizem que ficou bem”, conta agora até com alguma ironia e boa disposição. “Tive sorte, o S. Pedro estava de férias nesse dia e tinha levado as chaves todas”, continua, irónico, pois apesar de tudo, e de ter consciência que ainda tem “para uma boa temporada” a sua história teve um final feliz. “Essa é a parte principal”, conclui.