De Oliveira do Hospital para o mundo. Assim se resume o trabalho que, desde o início da década de 90, tem vindo a ser desenvolvido pela Davion, empresa de confeções em Oliveira do Hospital. Um percurso que, pese embora as dificuldades, se tem pautado pelo “sucesso” que a administração desta unidade empresarial atribui, em exclusivo, ao empenho e ao saber fazer dos 262 funcionários.
“Colegas” é o termo que na Davion se utiliza para se falar a propósito de homens e mulheres que, ao longo dos anos têm, juntamente com a administração, ultrapassado verdadeiras provas de fogo. Caminhos difíceis de trilhar, mas que têm permitido à Davion ser, hoje, uma empresa de referência no setor das confeções a nível nacional e até mundial.
Especializada na confeção de fatos para homem, a Davion assume-se essencialmente como indústria e tem o mundo como principal cliente. Revela-se pertinente perguntar: “quem compra um fato Davion?”. “As melhores marcas europeias e mundiais”, responde prontamente Pedro Brito que, recém chegado ao conselho de gestão, se orgulha em constatar que “a qualquer hora do dia está a ser vendido um fato Davion”. Uma realidade só possível graças à capacidade de resistência de Carlos e Mário Brito que souberam dar continuidade ao legado do pai, Carlos Brito, que num momento considerado de grande dificuldade soube abrir as portas da fábrica ao mercado externo. “Desde a primeira hora, a Davion ousou ser diferente, ao especializar esta unidade como indústria de casacos semi tradicionais de confeção italiana”, refere Pedro Brito, encarando aquela aposta como um fator capaz de diferenciar a empresa, que hoje marca presença em Espanha, Inglaterra, Bélgica, Holanda, Suíça, Alemanha, Rússia, Austrália, Moçambique, Brasil e Estados Unidos. “Este ano temos o primeiro cliente em Portugal, a Fashion Clinic (FC) que é uma marca de referência”, conta Pedro Brito, realçando a estratégia da empresa em produzir para o mercado externo. Apostas que têm levado a Davion a atingir um volume de negócios “invejável”, registando-se no final de 2011 a duplicação da faturação, num total de mais de 21 milhões de euros. Uma situação que, explica o novo rosto da empresa, reflete um aumento de 40 por cento da atividade do grupo Davion e que é resultado da operação de consolidação das três unidades: Ep Garment, Medbiz e Davion.
Números que mais não são do que uma resposta positiva aos desafios assumidos, numa clara aposta de levar longe o produto Davion. “Se há quatro anos tínhamos quatro clientes que tinham 90 por cento da operação da Davion, hoje temos mais de 50 clientes ativos”, informa um dos principais rostos da empresa de cariz familiar que, por todo o mundo, tem vindo a estabelecer “alianças” empresariais destinadas à produção em grande escala. “Não existe em Portugal nenhuma unidade que tenha capacidade de produzir 50 mil peças em dois meses”, refere Pedro Brito, verificando que por via do avultado investimento em mão de obra “altamente qualificada” e maquinaria, a empresa tem conseguido assegurar o volume de encomendas que todos os dias chegam à unidade oliveirense.
Produção personalizada e exclusiva
Num ano de sucesso, mas – admite Pedro Brito – de “grandes dificuldades”, a Davion insiste em marcar a diferença, prevendo até que, num futuro próximo, a empresa se dedique em exclusivo àquela que já foi uma aposta iniciada há 10 anos: a confeção por medida. Em causa está a produção de um fato personalizado e exclusivo. Uma aposta que vem alterar todo o modo de produção da indústria Davion, que deixa de ter uma encomenda de vários fatos, para ter várias encomendas de um único fato. “Trará valor acrescentado”, antevê o responsável pela gestão, confiante na boa capacidade de resposta dos “colegas” da casa ao novo desafio. “Tem associado um grau acrescido de responsabilidade”, verifica, entendendo também ser esta uma forma de responsabilizar a equipa de trabalho.
Apostas pela diferenciação que têm permitido à Davion fazer face às tormentas e seguir em contra ciclo com aquilo que é panorama económico nacional. Para além de nunca ter protagonizado “despedimentos em massa ou entrado em processos de lay off”, a empresa tem, pelo contrário, assistido ao aumento da sua equipa de trabalho. “Este ano, na altura de maior desemprego em Portugal e em quase toda a Europa, aumentámos 10 por cento de pessoal, desde costureiras, chefes de linha e quadros qualificados”, contou satisfeito Pedro Brito, registando o facto de na Davion a juventude dos novos trabalhadores se misturar positivamente com a experiência de quem trabalha há várias décadas – há pessoas com 40 anos de casa. Um aumento de pessoal que coloca a descoberto a exiguidade das atuais instalações da fábrica que, recentemente se viu obrigada a arrendar dois pavilhões nas imediações, num total de mil metros quadrados, onde instalou uma moderna sala de corte e todo o armazém da indústria.
“Temos feito ajustes ao perfil das nossas necessidades, mas neste momento o espaço é um constrangimento”, refere Pedro Brito, vincando que a estratégia é de “tornar o trabalho mais eficiente, proporcionando melhores condições de trabalho aos colegas”. Em estudo estão várias alternativas de crescimento da empresa, por via de novas instalações, havendo a clara intenção de a empresa se manter no concelho de Oliveira do Hospital.
Mais do que dar emprego, é valorizar pessoas
Local de trabalho de homens e mulheres de várias gerações, a indústria Davion orgulha-se de possibilitar a evolução dos que fazem daquela a sua segunda casa. Engana-se quem pensa que um ajudante de armazém, um eletricista ou uma costureira não tem possibilidade de “progredir” na carreira. A valorização dos “colegas” da Davion é hoje uma prioridade naquela unidade industrial que, na hora de recrutar pessoal para novas funções, o faz primeiro a nível interno, só depois recorrendo ao exterior da empresa. São vários os exemplos de progressão na carreira numa empresa onde chefias e funcionários convivem familiarmente e se tratam por “tu”.
Sandra Aleixo é disso exemplo. Admitida para o lugar de ajudante de armazém de corte e de linha de confeção, a funcionária passou a assistente de armazém de matérias primas, passando também pela secção de etiquetagem. Chamada a assumir o cargo de assistente administrativa, Sandra Aleixo já foi gestora de clientes, sendo atualmente responsável pelo departamento de Trading.
Ana Fonseca também deixou a máquina de costura para integrar a secção de pessoal, passando mais tarde a ajudante de armazém de matérias primas, do qual veio entretanto a ser responsável. Neste momento, Ana Fonseca é responsável de planeamento.
Costureira, chefe de linha, chefe de fabrico e responsável de departamento de qualidade foi o caminho trilhado por Alda Cruz. De eletricista a controlador de qualidade, Eugénio Mota foi ainda mecânico de máquinas, técnico de confeção e chefe de linha. Jorge Mendes e Pedro Brito são os rostos mais recentes da empresa. “Uma mistura de saberes que faz a empresa evoluir”, refere Pedro Brito que enquanto presidente do Conselho de Gestão da Davion é também “sangue novo” na empresa da família Brito, onde espera profissionalizar toda a equipa de gestão e prestar apoio na mudança de procedimentos a que os novos desafios da Davion obrigam.
“As confeções têm que voltar a ser a força do concelho”
A propósito de uma empresa que, só por si tem tido a capacidade de correr o mundo, Pedro Brito não deixa de destacar a necessidade de a Câmara Municipal ter um olhar diferenciador para este “cluster” que existe em Oliveira do Hospital e onde as várias empresas – “antes eram 10 e agora são quatro ou cinco”, frisou – deveriam estar unidas em torno da ideia de que “em Oliveira do Hospital se fazem alguns dos melhores fatos do mundo”. Na opinião do gestor, aquela deve ser a ideia, porque as empresas concelhias “não são concorrentes”, devendo pelo contrário atuar em complementaridade. “As outras empresas são melhores do que nós, nos produtos que fazem”, refere Pedro Brito, admitindo que a aproximação das várias unidades industriais ainda venha a acontecer com o “passar dos anos”. “As confeções têm que voltar a ser a força do concelho”, considera, sem deixar de criticar aqueles que, há pouco tempo diagnosticaram a morte das confeções no concelho. “Como indústria temos sido amplamente desprezados e despeitados pelas autarquias, governos e oposições que consideravam que esta indústria não tinha futuro”, regista Pedro Brito, satisfeito por a Davion conseguir provar que, com muito trabalho, resistência e qualidade de trabalho dos seus colegas tem vingado o setor das confeções no concelho de Oliveira do Hospital. Um caminho que a empresa quer continuar a trilhar, na certeza porém de que 2013 surgirá repleto de dificuldades, nomeadamente no que ao financiamento tão necessário às empresas, diz respeito.