Vitor Neves – Gestor
Chamava-lhe sempre “Grande Arquiteto” e ele compensava-me com um “Grande Radialista”. Quando lhe “gritava”: Jorge tu podes ser um dos maiores da nossa arquitetura!! Ele respondia-me, sempre em voz baixa e tranquila: já sou!
O talento era não normal. E muito.
Um mero esquisso, assente num guardanapo, podia significar o despertar de mais uma obra de arte, do Senhor Arquiteto.
A personalidade era não normal. O comportamento, também. O ser normal cansava-o incansavelmente. Era especial.
Uma volumosa barba e um volumoso cabelo, que o tempo foi pintando de branco, eram o expoente superior de uma figura irreverente, não normal.
Tudo no Jorge Dinis era não normal, de tal modo, que este tanto não normal, quando conflituava, desencaixava-lhe o corpo e a mente, sendo a inspiração a porta do regresso para a sua normalidade.
Sem explicação normal, a vida afastou-nos muito e há muito tempo. Durante este tanto tempo, qualquer traçado cruzado que provocava um encontro fortuito, era sempre um gosto bilateral.
“Morreu o Jorge Dinis”: foi assim a primeira linha da notícia que me encostou à parede: emocionei-me de tristeza.
Os meus primeiros 10 anos de adulto foram muito desenhados com os Projetos & Ideias do Jorge.
O Jorge tinha tanto talento que foi fácil convencer-me a construir, no espaço da nossa amizade, uma primeira planta de uma sociedade, uma empresa.
Ingenuidades. O Jorge era um criativo, um talento solto, um pássaro livre, nada dado a organizações, planos de negócio ou trabalhos estruturados para ganhar o vil metal.
Tivemos sempre uma relação fantástica, muitas paixões comuns, desde a música à educação – e como ele gostava da escola e dos alunos, paixão só superada por um amor maior e indefinível pela filha.
Chamava-lhe sempre “Grande Arquiteto” e ele compensava-me com um “Grande Radialista”. Quando lhe “gritava”: Jorge tu podes ser um dos maiores da nossa arquitetura!! Ele respondia-me, sempre em voz baixa e tranquila: já sou!
Oliveira do Hospital, a sua casa inacabada, não lhe prestou, em vida, a devida vénia e homenagem. A genialidade do Arquiteto Jorge Dinis está edificada onde se alberga a cultura, o desporto, a educação e o dinamismo social da cidade e do concelho.
Era bonito e merecido alguém se lembrar de colocar o seu nome numa rua, num edifício ou outra qualquer “placa” que transmita a ideia do “para sempre” só atribuível aos génios.
Provavelmente, o Jorge, onde quer que esteja, não vai gostar, vai teimosamente opor-se. Um génio provocado, pode ser uma inestimável contribuição para mais uma brilhante ideia: para não aturar a normalidade, o génio esconde-se na criatividade e aí, talento como o do Jorge, é Eterno.