Cresci a escutar a palavra emigrante sempre com “e”. Significava que alguém estava fora, que se tinha ido, que tinha saído, que era de cá, mas já não estava de cá. O Interior beirão, a par de outros “interiores” do nosso retângulo luso, somava muitos emigrantes, que deixavam um vazio em busca de melhor vida. Uns voltaram, outros não. E os filhos, quase todos, ficaram por lá.
Hoje, crescido, escuto, mais do que nunca, a palavra imigrante com “i”. A sublime ironia é a similitude da palavra repetir-se no dia a dia do nosso país e dos seus “interiores”: o emigrante, ao sair, resolve a sua vida e contribui para o viver melhor dos que ficaram; o imigrante, ao chegar, resolve a sua vida e contribui para o viver melhor dos que (ainda) cá estão.
Este início de texto ocorreu-me quando me despedia de Oliveira do Hospital, após o aniversário número 33 da Eptoliva, a escola profissional da beira serra, que continua a ser um bom exemplo para confronto com o país centralista, talvez mesmo um caso de estudo, e que se prepara para mais um salto de oferta qualitativa com a edificação de dois grandes centros de tecnológicos especializados, com destaque para o digital.
Neste regresso a esta minha escola – pela mão da Dra. Maria Antónia, ali experienciei ser professor – vivi um todo emocionante e gratificante. Ao participar no Eptorádio (está disponível em podcast na Rádio Boa Nova) com os alunos; com o Daniel, o diretor; com a Margarida, a diretora deste jornal; e com Carlos Daniel, o consagrado jornalista da RTP e convidado de honra do evento, perante uma sala repleta de ‘EptoImigrantes’, senti orgulho, alegria e esperança. Jovens oriundos de várias geografias longínquas, integrados e a conferir dimensão e presença a uma área geográfica que precisa avidamente de pessoas.
Que bom ser a Escola, a Eptoliva, a antecipar o futuro, ensinando-nos que os imigrantes são solução, são oportunidade, são desenvolvimento. Que bom constatar que durante a bem conseguida festa de aniversário se anunciava que a hospitalidade a imigrantes de hoje ou futuros, é uma aposta estratégica dos municípios de Oliveira do Hospital, Tábua e Arganil.
Carlos Daniel, que encerrou o evento na casa da cultura César Oliveira com uma alocução estupenda sobre os desafios dos media e do digital, recordou as palavras de 1969 de Manuel António Pina “ainda não é o fim/ nem o princípio do mundo/ calma/ é apenas um pouco tarde”. Uso a inspiração de um e de outro, com vénia à Eptoliva, para espalhar a notícia: com a imigração – sim, com os imigrantes – talvez ainda se vá tempo de recuperar o esplendor perdido do interior.
Se cada um nós, não se deixar levar pelos demagogos, que empurram para os imigrantes os males que são de todos e de sempre, talvez seja “apenas um pouco tarde”, mas não demasiado tarde, para perceber que uma pátria de emigrantes deve ser exemplar como pátria para imigrantes. Que o Eptoliving destes ‘EptoImigrantes’, seja o imigrar do “nunca é tarde” para um interior cheio de pessoas e de vida.