É a quarta candidatura à Câmara Municipal de Oliveira do Hospital pela CDU. João Dinis ou Jano, como gosta mais de ser tratado, parte para mais um acto eleitoral autárquico com um objetivo: diminuir o peso das maiorias na vida autárquica concelhia e manter a governação da Junta de Meruge nas mãos da CDU. Numa entrevista conjunta à Centro TV/ Jornal Folha do Centro, João Dinis, apresenta-se novamente como a voz mais critica da atuação do executivo socialista que acusa de exibicionismo e de propaganda a mais.
Porque é que se volta a candidatar?
Da parte da CDU não deixamos por mãos alheias a nossa intervenção e portanto achamos que é altura de intervirmos uma vez mais numa campanha em Oliveira do Hospital para aumentar a transparência, o debate de ideias, de propostas, muitas delas pioneiras, alternativas, para dar uma contribuição no esclarecimento da população e para afirmar um direito democrático conquistado pelo 25 de abril que é este dos portugueses se reunirem em forças políticas ou não para serem candidatos.
Eu volto a ser candidato, nunca fui eleito para o executivo da Câmara Municipal, porque há aqui um problema: os eleitores não têm visto na CDU uma alternativa eleitoral às forças que têm sido maioritárias, embora reconheçam a resistência, a persistência, a lucidez, a combatividade, a transparência, a honestidade que a CDU demonstra. Aliás, nós CDU já fomos Junta de Freguesia em Vila Franca da Beira, eu próprio fui presidente da JFVFB durante doze anos, e a CDU tem tido a presidência da Junta de Meruge há vários mandatos também.
Além de Meruge, vão apresentar lista em mais alguma freguesia?
Eu próprio sou também candidato à União de Freguesias de Ervedal da Beira e Vila Franca da Beira, sou aí cabeça de lista, vamos apresentar candidaturas à União de Freguesias de Oliveira do Hospital e S. Paio , também em Nogueira do Cravo, na Bobadela, e em Meruge que é uma Junta da CDU e que tem tido maiorias sucessivas pela CDU.
Não é fácil. Nós estamos a encontrar dificuldades em candidatos aceitarem dar a cara pela CDU ao nível de 1979. Portanto, cinco anos depois do 25 de abril, isto era terreno difícil, era difícil as pessoas darem a cara por uma candidatura da CDU, porque temiam retaliações. Atualmente está ao nível de 1979, porque de facto as candidaturas do PS têm tido votos a mais. Têm tido maiorias absolutas, mais que absolutas até, e depois esses votos têm subido à cabeça dos principais candidatos do PS que praticam uma autêntica ditadura da maioria PS, aqui na vida autárquica. Isto tem asfixiado a vida democrática e leva a esta consequência que é uma consequência má e profundamente anti democrática de as pessoas não puderam dar a cara pela sua própria predileção política partidária numas eleições autárquicas porque receiam ter problemas, retaliações da parte do poder instituído no nosso município.
Mesmo com essas condicionantes, esperam manter Meruge?
Sim, é claramente um objetivo da CDU manter a Junta de Freguesia de Meruge e lutar nas outras para ter boas votações e até poder eleger, como eu tenho sido eleito na Assembleia de Freguesia da União de Freguesias de Ervedal e Vila Franca da Beira, representantes noutras freguesias.
É preciso que as maiorias aprendam, nem que lhes custe, a praticar a democracia na sua verdadeira essência, que é respeitar as minorias e mobilizar as populações todos os dias e não apenas para o acto da eleição. As candidaturas (do PS e do PSD) ainda nem começaram a discutir as propostas estratégicas para o concelho e já encheram o concelho de propaganda cara. E o PS com a agravante de se mostrar arrogante, exibicionista, despesista na quantidade e na forma como tem espalhado propaganda pelo concelho, em que o exemplo exemplar é aquele cartaz enorme colocado a todo o diâmetro na rotunda do Senhor das Almas. Aquilo transpira, naquele local, imune aos perigos que representa colocado numa estrada nacional (EN17), isto é exibicionismo, arrogância e despesismo. Muito dinheiro têm para investir nas eleições.
É lamentável que num momento que se diz de dificuldades para as pessoas, e de facto estes anos têm sido muito difíceis para muita, muita gente, que gastem tanto dinheiro em propaganda e de forma tão ostensiva e desnecessária. Não é preciso aquilo para se dar a conhecer quem são os candidatos. Eles parece que não andam neste concelho, nem neste país, andam tão entretidos com a propaganda que nem se apercebem de coisas complicadas que se estão a passar e que é preciso agarrar e resolver.
Um desses problemas, na vossa opinião, tem muito a ver com a área do ambiente. Que medidas é que propõe em concreto a sua candidatura?
Nós até apresentámos há pouco tempo um manifesto ambiental por entendermos que os recursos naturais e ambientais do nosso concelho estão numa situação critica, como nunca estiveram, particularmente desde os incêndios de 2017 que varreram a cobertura vegetal toda do nosso concelho. E daí para cá o que é que foi feito? O que é que se vê de novo a nascer de vegetação? Estamos a ver muitos eucaliptos, outra vez e estamos a ver as mimosas. Mas uma floresta ordenada, virada para a defesa do ambiente e dos produtos naturais, não estamos a ver. Houve aí uma iniciativa, a Câmara Municipal forneceu árvores, mas isso é uma gota de água em termos de reflorestação.
A floresta é porventura um dos setores em que mais dinheiro foi anunciado, entretanto as coisas não acontecem no terreno, pela principal razão: as aldeias não têm pessoas e sem pessoas nas aldeias, as coisas são muito mais difíceis e tem que haver processos alternativos. Os proprietários rústicos, a maior parte deles, não está presente e como é que se intervém numa floresta de minifúndio, como a nossa? Ainda agora da “bazuca” foram anunciados mais 600 milhões para a floresta, mas isto é ilusório, porque a experiência diz-nos que quem é que lá vai buscar, são os grande grupos do costume: Amorins, Sonae’s, as celuloses, esses é que continuam a absorver muito destes dinheiros públicos, porque os pequenos proprietários não têm capacidade e nem ânimo para investir.
Então como é que vamos intervir? Isto não pode ser para daqui a 20 anos. Isto foi um desastre ambiental de tal ordem que tem de ter medidas intensivas de tratamento. Ou seja, a autarquia tem de ser um agente catalisador, mobilizador, organizador no terreno, no dia a dia das populações. E aqui as autarquias têm um papel insubstituível, têm que ser as autarquias, que aliás já se metem em tudo.
Como é que eu sendo presidente da Câmara ou vereador do ambiente, como é o atual cabeça de lista do PS à autarquia, olho todos os dias para este desastre quando me levanto e venho para a Câmara? Exijo o quê? Exijo ao Ministro do Ambiente, mas apresento propostas, iniciativas, porque para nós, CDU, esta questão do ambiente está ao nível estratégico da saúde e do trabalho que é outro problema sério que se está a pôr aqui em Oliveira do Hospital, com nuvens muito negras.
Na educação, porque é que se mostra contra a solução agora apontada pela Câmara Municipal de transferir a ESTGOH para o edifício da escola do 1º ciclo?
Este é um assunto estratégico na cidade de Oliveira do Hospital e no Município. A Câmara Municipal, há uns anos atrás, comprou um terreno especificamente para a construção da nova ESTGOH e o vendedor desse terreno expressou no negócio que fez que vendia por um preço relativamente baixo pela finalidade a que se destinava . As Câmaras Municipais de repente esqueceram-se disso. E vêm agora falar em transferir a ESTGOH para a escolinha das crianças que vão passar para o Centro Educativo. Eu pergunto se os alunos também vão utilizar o mobiliário que lá vão deixar as crianças. Eu diria que é pior a emenda que o soneto.
Eu pergunto porque que é que um governo com bazucas e um executivo do PS que se diz tão pró activo ainda não conseguiu que o Governo assumisse a construção das novas instalações da ESTGOH, num terreno que a CMOH comprou e já deu uma grande contribuição (era a maioria PSD na Câmara), e agora vêm com essa inovação para tentar justificar que vão gastar 7 milhões no novo campus educativo e aquilo que não dizem é que vão fechar as escolas básicas e pré primárias aqui por perto. Aquele investimento só se justifica com o injustificável que é fechar as escolas todas das redondezas. Porque o caminho que isto está a tomar, infelizmente, é que mesmo as escolas da Cordinha, de Lagares da Beira, as escolas lá de baixo do Alva é virem a ser progressivamente encerradas e as crianças transportadas em maus transportes e em que as pessoas para terem um transporte público têm de utilizar os transportes escolares. Esse é outro problema, a ligação entre as povoações e a cidade Oliveira do Hospital, é das coisas que tem falhado em 12 anos.
A questão da Casa da Cultura César Oliveira admite-se que uma obra que já vem do mandato anterior demore tanto tempo, que ande há tanto tempo a perturbar a circulação dentro da cidade. Mas também a obra da zona industrial, há quantos anos anda para ser posta em condições? A casa amarela na Bobadela… isto revela uma grande incapacidade, para não dizer incompetência em gerir as obras.
Falou na zona industrial, que medidas é que propõe para a criação de emprego e fixação dos mais jovens?
Quanto mais empresas houver, melhor. Mas o problema hoje de Oliveira do Hospital não é o problema de há 12 anos atrás. E as outras candidaturas ainda não deram conta disso. A situação é diferente. Hoje a questão é segurar as empresas que estão em funcionamento, algumas delas há décadas. As empresas de confeções estão com a corda na garganta. A pandemia, a dificuldade na chegada das matérias primas, a falta de encomendas tem dificultado a laboração dessas empresas, empresas que são emblemáticas. E isso pode ser um desastre económico e social para o nosso município, como é que vamos segurar as empresas que cá estão a laborar e para isso é necessário que a autarquia assuma aqui um papel reivindicativo junto do poder central, mesmo sendo do mesmo partido, porque aquela treta do IC6 é a demonstração clara da conversa da treta, das marchas lentas, toda essa conversa que andaram a fazer e que não fizeram nada do que ameaçaram fazer. E o cabeça de lista do PS ainda está mais vinculado ao PS do que o atual presidente da Câmara e isso só pode piorar as coisas.
E entretanto a Câmara meteu-se naquilo que não devia. Andou a dar a cara sistematicamente pela presidente da CCDRC na questão dos incêndios e das primeiras habitações e meteu-se agora nisto da pandemia. Onde é que estava a responsável do Ministério da Saúde em Oliveira do Hospital, a delegada de saúde, está em apagão institucional desde o inicio da pandemia. E atualmente é indigitado o vereador municipal da saúde, o atual cabeça de lista do PS, como o pivot da covid, porque sabe que é dos programas mais vistos pelas pessoas, porque as preocupações das pessoas estão muito viradas para a questão da pandemia e justamente.
A pergunta que nós estamos a fazer é: imunidade de grupo em Oliveira do Hospital a que percentagem? Quando é que se atinge? Há escassez de vacinas ? Que conhecimento real há de situações de pessoas que ainda não foram vacinadas, povoação a povoação? Que planificação é que está a ser feita? Isto é que tem de ser respondido pelo atual vereador “covidiano” em Oliveira do Hospital.
Relativamente ao IC6 de que falou há pouco acredita na sua construção, tal como foi anunciado recentemente?
O IC6 um dia vai continuar a ser construído, quem estiver vivo verá. O que se assiste é que cada vez que há eleições surge o número do IC6 e do PS a vangloriar-se que agora é que vai ser, quase que já disseram que até já estava construído. Isto desde 2007/2008 que se tem assistido a isso. Ainda agora esteve para ser incluído na famosa bazuca, o governo do PS deixou cair, entretanto aqui tinham cantado vitória numa assembleia municipal, agora já dizem que já não é na bazuca é noutro programa…agora remetem para a venda das novas frequências da internet.
Nós dizemos um dia vai ser construído, o problema é que já devia estar construído e não era só até Seia, era até à Covilhã. Eu sinto-me envergonhado como oliveirense pela maneira como o presidente da Câmara tem tratado este assunto, quem for ler as declarações dele de há anos atrás, de guerrilha, que não se voltava a candidatar, mas onde é que estão essas promessas todas e onde é que está a palavra de honra desse eleito do PS, que agora é cabeça de lista à Assembleia Municipal. Eu sinto-me envergonhado como oliveirense. E agora nesta empresa das águas.
Senhor cabeça de lista do PS à Assembleia Municipal o que é que vai fazer, enquanto administrador da empresa Águas Públicas da Serra da Estrela, depois das eleições, vai manter-se como administrador não remunerado, ou vai obter remuneração depois das eleições de 26 de setembro? Responda agora para nós nos esclarecermos. Uma vez que se blindaram nos estatutos da empresa, que diz que este mandato do Conselho de Administração da APSE é de quatro anos, ou seja, depois das eleições vão continuar? Esclareçam-nos antes das eleições, senão podemos concluir que criaram uma empresa que é um centro de emprego de reformados da política e dos respectivos afilhados, que já estão a meter como estagiários na empresa.
Se formos ao site da empresa onde é que está lá a dizer que admitem estagiários, esses estão a entrar e os outros? Isto não pode ser. Mais, esta empresa para não ir à falência, vai ter que aumentar os preços, se não vai à falência como foi a antecessora. Nós não concordaremos jamais com o aumento dos preços, porque a água podia ser mais barata, até agora ainda não mexeram nos preços, mas de certeza logo a seguir às eleições vão aumentar os custos, e portanto nós queremos saber como é que isto está a girar nos números, porque isso dá-nos indicadores de porque é que esta empresa foi criada.