Queijaria Dos Lobos perdeu 106 ovelhas no incêndio de outubro.
A Queijaria Do Lobos, em Gramaços, no concelho de Oliveira do Hospital perdeu grande parte do rebanho Serra da Estrela no incêndio de 15 de outubro. Das 106 ovelhas que morreram no fogo, 78 estavam a dar leite, situação que comprometeu a produção do Queijo Serra da Estrela que em cada ano é rei na Festa que é promovida pelo Município.
A Festa está à porta. Acontece já neste fim de semana, 10 e 11 de março, e a queijaria Dos Lobos vai marcar presença. “Este ano, a participação vai ser diferente, porque há menos queijo e a bancada vai estar mais limitada”, refere Mariana Vaz Patto, contando que na sequência do incêndio, a produção de leite registou uma quebra de 75 por ceno. “A seca também afetou os produtores que trabalham connosco e vêem a produção de leite diminuída”, constata.
A poucos dias da Feira do Queijo, a queijaria Dos lobos apura a quantidade de queijo com que se vai fazer representar no certame. A certeza é de que o produto vai ser em quantidade reduzida. “Em novembro de 2016, estávamos a produzir, no fim do mês, 1600 litros de leite. Em novembro de 2017 produzimos um terço disto”, refere Mariana Vaz Patto, sem deixar de notar que as ovelhas estão a ser alimentadas graças “à solidariedade dos portugueses com palhas e rações a que as ovelhas não estavam habituadas e que leva a alterações do próprio queijo”. “O queijo está diferente”, afirma.
O queijo velho deverá ser o principal produto da Queijaria dos Lobos na Festa do Queijo de Oliveira do Hospital. Em menor quantidade, disporá tembé do queijo amanteigado. Um sucesso em cada ano é o queijo creme que voltará a ser uma aposta da queijaria. Marmelada, compotas, vinhos, livros alusivos à temática da Serra da Estrela da autoria do seu pai, António Va Patto e artigos de merchandising encherão a banca Dos Lobos. O objetivo é “transformar o que temos, em comparticipação para aumentar o rebanho” e para que “consigamos dar o salto mais alto do que o tempo prevê”.
O fogo destruiu os ovis em Gramaços e Penalva de Alva. A esta altura, “as ovelhas ainda não estão em condições corretas de habitabilidade”. Sem recursos para aquisição de ovelhas adultas, a opção passa pela recria de borregas, contando com cerca de três dezenas naquele processo que é “demorado”. “Só vão estar a produzir leite daqui a um ano”, conta Mariana Vaz Patto, constatando que pela via da recria, só daqui a quatro anos é que será possível repor o efectivo com que contavam à data do grande incêndio.
Desde o dia 15 de outubro, somam-se os prejuízos que passam, em muito, meio milhão de Euros. A candidatura aos apoios do PDR 2020 fica-se pelas 120 mil Euros e sem certeza de que seja validada. Até agora, valeu o apoio da Segurança Social e do IEFP, mas não é suficiente para vislumbrar um futuro risonho no setor. “Se efetivamente não houver um apoio maior, não sei como é que vai ser possível sobreviver. Os custos fixos mantêm-se. Temos sete empregados e as pessoas precisam de receber o salário”, verifica a responsável pela empresa agrícola, de base familiar que registou perdas totais na floresta, colmeias e vinhas, sendo que no último caso, a indicação é para que se aguarde pelo comportamento das plantas (videiras).
A esta altura, o desafio é continuar a lutar. “Enquanto há vida, há esperança. Apesar de tudo isto, nenhum de nós sofreu fisicamente com os incêndios. Estamos vivos e de saúde. Temos que olhar para a frente, ter coragem e trabalhar, trabalhar …para sermos melhores do que já fomos”, afirma Mariana Vaz Patto.