Hospital de Oliveira sem encaminhamento de emergências médicas por falta de pagamento do Ministério da Saúde.
Protocolo foi finalmente homologado esta semana permitindo o envio de doentes urgentes ao hospital da FAAD.
O caso de um jovem de Lagares da Beira, com traumatismos vários, que esperou mais de três horas para ser levado até aos HUC, não sem antes ter sido transportado para o hospital de Seia, que nem RX tem a funcionar há cinco meses, voltou a acender a polémica sobre a falta de um serviço de urgências a funcionar 24 horas no concelho de Oliveira do Hospital. Mas, sabe-se agora, que mesmo no horário em que este serviço se encontra assegurado pelo hospital da FAAD, os doentes são encaminhados para outros serviços hospitalares, porque o Ministério de Saúde não paga as emergências ao hospital de Oliveira.
“Não sei a quem isto interessa, mas aos doentes não é de certeza”, entende Álvaro Herdade, o médico e presidente da Fundação Aurélio Amaro Dinis, que desde Novembro de 2017 se encontra a assegurar o único serviço de urgências a funcionar no concelho de Oliveira do Hospital, depois deste ter sido encerrado no Centro de Saúde, por falta de pessoal médico.
O serviço que só está aberto durante a semana, no período da noite, e aos fins de semana 24 horas, continua todavia a ser insuficiente para as necessidades de um concelho com mais de 22 mil utentes, nomeadamente quando se trata de situações de emergência médica. O que acontece nestes casos, explica o médico da FAAD, é que o protocolo com o Ministério da Saúde como só tem sido homologado no final de cada ano, o CODU ( Centro de Orientação de Doentes Urgentes) tem encaminhado estes para outros serviços hospitalares, menos para o hospital de Oliveira.
Casos como o recentemente denunciado por um pai de um jovem de Lagares da Beira nos meios de comunicação social, têm-se repetido nos últimos meses, com as criticas dos utentes a subirem de tom. “Quer situação mais caricata que aquela que aconteceu com um idoso de Ervedal da Beira, que foi encaminhado para Seia, de Seia foi transportado para o Hospital da Guarda, depois para Coimbra e acabou por vir parar à FAAD, mais caricato do que isto não sei”, constata Álvaro Herdade que continua à espera, juntamente com o presidente da Câmara, José Carlos Alexandrino, de serem recebidos pela Ministra Marta Temido, para chegarem a acordo quanto ao regresso de um serviço de urgências 24 horas ao concelho.
Até porque se a FAAD não dá resposta às necessidades, “Seia e Arganil também não são solução”, garante o presidente da instituição que detém o hospital de Oliveira. “Como é possível Seia estar há cinco meses sem rx e ninguém dizer nada e Arganil é uma central de camionagem, um entreposto, onde os doentes são largados numa ambulância, para apanharem outra até Coimbra”, acusa, lembrando que apesar da FAAD não ganhar “nada” com este serviço, “o hospital está cá para servir as populações e para dar este apoio”. “Não podemos falar em interior e em fixar as populações e depois não termos serviços condignos com as situações e com as localizações” refere o médico, que esta semana viu finalmente homologado o protocolo com a tutela relativamente às emergências.
“Estava publicado em DR desde setembro, e só agora foi homologado, pelo que desde de dia 18 que o CODU pode encaminhar os doentes urgentes para a FAAD, no período em que estamos a funcionar como urgência”, garante Herdade, criticando o facto deste acordo ter demorado três meses a ser assinado. Neste período, foram várias as situações relatadas de utentes que andaram às “voltinhas” de hospital em hospital, com esperas prolongadas que poderiam ter sido fatais, tratando-se nomeadamente de doentes do foro cardiaco.
“Tivemos sorte porque foram tudo casos que correram bem por eles próprios, não pelo tipo de encaminhamento”, entende o médico que não se conforma com este “modelo” e reclama para a FAAD um serviço de urgências condigno e a tempo inteiro que evite deslocações desnecessárias, muitas vezes, a outros serviços hospitalares.
O caso de Lagares da Beira foi também tema de discussão na última reunião pública de Câmara, com a vereadora do PSD, Emília Moreira, a criticar o “famigerado” serviço de urgências criado na FAAD depois do encerramento do serviço 24 horas no Centro de Saúde. O presidente da Câmara Municipal, José Carlos Alexandrino respondeu à vereadora da oposição, recusando o epíteto de “famigerado”, entendendo antes que este é um serviço “abençoado” na medida em que se não fosse o acordo conseguido com a FAAD, Oliveira do Hospital poderia estar neste momento e desde há dois anos sem qualquer resposta ao nível da urgência.