Apesar dos milhões de prejuízos, a empresa J. Guerra nunca parou. Um mês e meio após os incêndios estava a laborar com praticamente todos os funcionários.
Se há imagem que retrata a devastação provocada pelo incêndio de 15 de outubro, é a imagem da J. Guerra, na Zona Industrial de Oliveira do Hospital. Impressionante, dantesco, digno de cenário de guerra, não fosse esse o nome de família dos seus proprietários.
Na manhã de 16 de outubro, a conhecida fábrica das “franjas” – com 16 mil metros de área coberta – ainda fumegava, e era já um amontoado de ferro retorcido e escombros. Nada, mas nada restou da história de 50 anos desta empresa de sirgaria e passamanaria, a não ser a força e a determinação dos seus administradores: Joaquim Guerra e os filhos, Paulo e Cláudio Guerra.
Apesar dos 81 anos do pai e fundador da empresa, Paulo e Cláudio garantem que a palavra desistir nunca esteve em cima da mesa. “No fim de semana a seguir já estávamos no Porto a ver máquinas”, conta Paulo Guerra, que ao fim de um mês e meio, conseguiu pôr de novo a “máquina” a laborar, num pavilhão entretanto adquirido na Zona Industrial da cidade. “Nós fomos formatados para isto, o que é que íamos fazer” questiona Paulo, o irmão mais velho, que pese embora a perda total da empresa, lembra que o mais importante estava do seu lado: “Tínhamos os clientes, o mercado, os funcionários” e um grande “know how”, garante.
A somar a isto, o irmão, Cláudio, não esconde que foi determinante a disponibilidade financeira do pai, que permitiu que nos dias a seguir ao incêndio começassem logo a ir a feiras e a comprar maquinaria para substituir a que ardeu, e ao mesmo tempo, a pensar numas “novas” instalações próprias.
Um recomeço que se dá em tempo recorde, com praticamente os mesmos funcionários, cerca de meia centena, mas menos de metade do parque de máquinas da antiga fábrica. “Tínhamos 400 máquinas, aqui estamos com umas 150”, aponta Paulo, que espera regressar à antiga fábrica dentro de um ano, e aí repor a capacidade produtiva da empresa, líder de mercado na sirgaria e num produto das passamanarias.
Aos 3,5 milhões de euros já investidos no atual pavilhão (sendo um milhão elegível em termos de financiamento) vão somar-se agora seis milhões na fábrica ardida (no âmbito do programa de apoio à recuperação de empresas) investimento que fica ainda assim um pouco aquém dos prejuízos contabilizados – cerca de 15 milhões. “Este recomeço não foi a contar com os apoios, a nossa preocupação foi pôr primeiro a máquina a andar, e só depois pensar na candidatura aos apoios”, dizem, agora já refeitos do “choque” de há um ano, quando viram uma vida inteira de trabalho do pai ser destruída numa noite. “Era uma coisa que nunca nos passava pela cabeça”, adiantam os irmãos Guerra, que do edifício ardido fizeram questão de manter a porta principal – porque também foi a única que ficou intacta- para fazer a “transição entre o passado e o futuro”.