“Eu pensava que era o local mais seguro da freguesia e mesmo assim o vírus entrou”, desabafa Manuel Nunes, presidente da Sociedade Recreativa de Defesa e Propaganda de Avô, responsável pelo lar de Nossa Senhora da Assunção, onde há agora 34 utentes e cinco funcionários infetados com Covid-19.
O alerta foi dado na passada terça-feira, quando três utentes da chamada “ala amarela” do lar – a mais recente, manifestaram os primeiros sintomas da doença. “Por precaução mandámos fazer imediatamente testes e dois deles testaram positivo”, conta o presidente da direção da instituição, que desencadeou a seguir o processo de testagem- através de testes rápidos que a instituição tinha adquirido à Cruz Vermelha- aos restantes utentes e funcionárias da mesma ala, de onde resultaram mais cinco testes positivos, mas apenas entre as colaboradoras.
O pior estava, no entanto, para vir quando alargaram os testes à ala “azul” e a mais antiga da instituição. A totalidade dos utentes desta área do lar , ou seja, 31 testaram positivo à Covid-19.
“Temos praticamente metade da população do lar infetada”, lamenta o presidente Manuel Nunes, que desconhece ainda a origem da cadeia de contágio. “Fizemos sempre tudo, o possível e o impossível, para conter estas situações, tomámos todas as medidas de contingência, numa linha muito rigorosa e até impopular, no início, para muitas famílias, que depois vieram a reconhecer que tínhamos razão, e mesmo assim o vírus entrou”, observa o dirigente, lembrando que, uma das medidas adotadas e que funcionou desde o inicio da pandemia foi a divisão do lar em duas alas, fazendo com que as funcionárias e utentes nunca se cruzassem. “Isto funcionou, porque nesta situação se houvesse cruzamento estava tudo infetado e assim a ala amarela não tem ninguém positivo neste momento”, afirma, ainda a tentar perceber o foco da infeção.
“Para despistar o canal de contágio testámos os familiares diretos das funcionárias infetadas e deram todos negativo à exceção de um que deu inconclusivo”, revela, considerando que “está a ser difícil” encontrar o início da cadeia. “ Não havendo outras entradas e saídas, o mais provável é que tenha entrado por uma funcionária, mas para já também não podemos concluir isso”, diz o presidente, lembrando que também que as visitas de familiares há muito que são restritas e sem qualquer possibilidade de contacto físico.
“Eu estava convencido que isto nunca acontecia, porque se há instituição que tomou todas as precauções e mais algumas fomos nós, em termos de equipamentos, de acompanhamento, de organização, dizia que este era o local mais seguro de Avô e, afinal, que alguém apanhou o vírus, é verdade”, relata, ainda incrédulo com o surto que está a assolar a instituição, que com 5 colaboradoras positivas à Covid-19 e outras cinco de baixa médica, está a braços com uma situação difícil também do ponto de vista dos recursos humanos. “2/3 do quadro de pessoal está em casa”, refere Manuel Nunes, contentando-o o facto de não haver, para já, nenhuma situação crítica entre os utentes e as funcionários infetados, encontrando-se todos “estáveis”.