A História e o tempo não foram generosos com a obra de Brás Garcia Mascarenhas, por uma ou outra razão, quiçá precisamente por morrer antes de ter tempo para a burilar e aperfeiçoar, o labor limae.
A propósito das comemorações dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões,1524 – 2024 e do Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor, instituído pela UNESCO em 1995 e comemorado a 23 de abril, lembrei-me de vos trazer aqui um nome maior da literatura portuguesa que o país tem esquecido e até negligenciado. Falo-vos de Brás Garcia de Mascarenhas.
Natural da vila de Avô e filho de uma família nobre vai para Coimbra estudar Direito Canónico, mas envolvendo-se em conflitos terá de fugir para Madrid, ao tempo capital do reino de Portugal e Espanha. Após inúmeras aventuras e viagens chega ao Brasil onde inicia a sua vida como militar. Sabendo da revolução de 1 de dezembro de 1640 vem juntar-se ao Rei para libertar Portugal do jugo de Espanha. Como recompensa pelos seus serviços o monarca fá-lo governador da Praça de Alfaites. Quando mais tarde se retira da vida militar regressa a Avô, onde se dedica a escrever e onde veio a morrer em 1656.
Viriato Trágico será a única das suas obras a chegar até nós. Este que será o poema heroico mais importante sobre a Restauração Nacional, foi publicado na sua edição prínceps, postumamente, em 1699.
Um arco temporal de 127 anos separa-o dos Lusíadas. De acordo com inúmeros estudiosos Brás Garcia Mascarenhas é depois de Camões, um dos nossos maiores poetas épicos.
A obra Viriato Trágico celebra a liberdade, a luta dos Lusitanos contra a subjugação dos romanos, remetendo para a dominação estrangeira que durara sessenta anos. O poeta canta ainda nesta obra o seu amor pelas terras beirãs, exaltando as suas belezas, como quando descreve o bucólico Alva com as suas águas límpidas.
Claramente, Viriato Trágico terá sido influenciado pelos Lusíadas, pois numerosos versos foram moldados pelas formas de arte camonianas.
Os Lusíadas são compostos por 10 cantos e 1102 oitavas e Viriato Trágico por 20 cantos e 2287 oitavas.
A História e o tempo não foram generosos com a obra de Brás Garcia Mascarenhas, por uma ou outra razão, quiçá precisamente por morrer antes de ter tempo para a burilar e aperfeiçoar, o labor limae.
Contribuamos para que se faça justiça à memória deste herói, que lutou pela independência de Portugal, falando dele, e lendo a sua obra.
As edições de Viriato Trágico são raras e parcas, sendo a mais recente da Imprensa da Universidade de Coimbra.
Edições:
1699- (prínceps) Univ. Coimbra
1846 -Duas edições – Livreiros Pereira da Silva, Lisboa
1940 – Livraria Sá da Bandeira
1996- Fundação Calouste Gulbenkian
2015 – Imprensa da Universidade de Coimbra
Paula Frade
Investigadora Instituto de Estudos de Literatura e Tradição – Universidade NOVA de Lisboa