Pedro Neves foi uma das vítimas mortais de 15 de outubro. Morreu a tentar salvar-se a ele e à mãe, na estrada entre Gramundes e Vilela.
Um ano depois de ter perdido o filho enquanto fugiam do fogo, em Vilela, Maria Odete Ribeiro ainda não enxugou as lágrimas.
“Se já ia muitas vezes ao cemitério, agora passo lá a minha vida”, conta a mãe de Pedro Ribeiro, 45 anos, uma das vítimas mortais dos incêndios de 15 de outubro. Ainda inconsolável com a morte do seu “rico filho”, de resto, o único herdeiro que lhe restava, já que tinha outra filha e também faleceu há cerca de ano e meio, vítima de doença, aos 49 anos, Maria Odete nem quer que lhe lembre a “tragédia” de há um ano, quando o filho Pedro decidiu abandonar a casa de ambos na tentativa de se “salvarem” e de pôr a salvo os carros dele e da mulher.
“Ele ia à minha frente de carro, eu ia com o carro da Isabel (a mulher) e ele com o dele, íamos a fugir para Vilela, porque aqui na quinta estava tudo a arder e ele só me dizia que íamos morrer aqui ”, relata, dizendo que só se recorda de a meio caminho entre a quinta e Vilela, o carro do filho ter invertido a marcha, deixando de o ver. “Eu continuei e o meu filhinho voltou para trás, porque ele não me via, o fumo era muito, e devia ir à minha procura” supõe agora a mãe, que ficou logo de coração apertado, porque Pedro não chegou a aparecer na sede da coletividade em Vilela, onde se encontravam outros populares que tinham largado as suas casas, como tinham combinado.
Ainda mais, quando sabia que chovia fogo por todo o lado. “Eu consegui passar mas as chamas estavam a bater na estrada, chovia fogo por todo o lado, como se fossem foguetes de lágrimas”, lembra Maria Odete, que à uma da manhã, quando o pior já parecia ter passado, decidiu regressar a casa, para se certificar que o filho estaria por lá.
No caminho, passou por um carro já carbonizado e havia um corpo estendido na berma da estrada, mas pediu aos vizinhos que a acompanhavam para não pararem, porque queria chegar à quinta depressa para ver se o filho já tinha chegado. “Só pensei que tinha ficado sem filho e sem casa”, conta, já pouco convencida que Pedro pudesse ter escapado ao horror.
A casa não ardeu, mas o pior veio a confirmar-se “o meu filhinho não chegou, estava caído a 80 metros do carro”, o tal carro por que passara com os vizinhos, já carbonizado e o mesmo corpo que lhe queria parecer ser de um cidadão estrangeiro que habitava numa quinta próxima. “Não estava queimado, morreu asfixiado o meu rico filho”, recorda a mãe, de olhar sofrido, que esta segunda-feira, voltou a reviver tudo, na homenagem que a Câmara Municipal prestou às vítimas. “Até o senhor presidente se emocionou, ele emociona-se fácil, é uma pessoa muito humana”, observa Maria Odete, que tenta agora recordar o filho com a tal saudade doce, que o presidente da Câmara falava na cerimónia evocativa do 15 de outubro, até porque “o Pedro não queria tristezas”.