Há um ano, 13 pessoas morreram só no concelho de Oliveira do Hospital “apanhadas” pelas chamas.
O salão nobre da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital foi pequeno para acolher todos aqueles que quiseram prestar homenagem às vítimas do grande incêndio de 15 de outubro, no concelho.
Familiares das 13 vítimas mortais, queimados e lesados do fogo, fizeram questão de marcar presença, numa cerimónia que teve tanto de comovente, como de encorajadora. Uma cerimónia marcada pela apresentação do memorial às vítimas, um projeto que teve como vencedora uma jovem arquiteta holandesa radicada no concelho e que pretende ser representativo do sofrimento não só dos oliveirenses que perderam a vida naquele dia fatídico, como de todo um povo que se viu a braços com a maior catástrofe de sempre. O monumento, foi escolhido de entre nove propostas apresentadas ao concurso de ideias promovido pelo Município, e será agora erguido num local da cidade, que para já ainda não foi revelado, mas que o presidente quer que seja um local de “recolhimento e de silêncio”.
Emocionado, o presidente do Município, José Carlos Alexandrino, começou por se dirigir aos que já partiram, pronunciando, um a um, o nome das 13 vÍtimas que “acabaram por ser sacrificadas” e “também os seus familiares”. “Sabemos as angústias que tiveram que passar as suas famílias, e como a vida não volta a ser igual”, referiu o edil que considerou mesmo “uma traição completa” o que aconteceu ao concelho no dia 15 de outubro de 2017.
Desafiando as famílias a recordarem com “uma saudade doce” os seus entes queridos, José Carlos Alexandrino lembrou, apesar de tudo, o esforço, nomeadamente de bombeiros e GNR, para tentarem salvar vidas. “Mas era impossível acudir a tanta desgraça”, referiu, apontando a recuperação e o renascimento do concelho, como o único caminho a seguir e a sua única prioridade desde o dia 15 de outubro.
Prioridade cujos resultados são visíveis na área empresarial, nesta área as coisas “correram muito bem” e os “empresários deram uma grande lição ao país”, considerou o edil, para quem a recuperação das habitações já não correu da mesma forma. “Não vale a pena dizer que de repente temos as casas todas feitas, mas a minha esperança é que a 30 de junho de 2019, tenhamos todas as habitações concluídas”, adiantou. Já a presidente da Assembleia Municipal, Dulce Pássaro, salientou o esforço coletivo de fazer renascer o concelho das cinzas, o que na sua opinião, está a acontecer, apesar de “não haver processos perfeitos”, e de “todos querermos que fosse mais depressa”.
Desilusão com os apoios à agricultura
Se há área em que o presidente da Câmara de Oliveira do Hospital volta a não esconder o seu inconformismo é com a agricultura.
“Há um setor em que me sinto desiludido com este Governo” desabafava José Carlos Alexandrino, na cerimónia evocativa de homenagem às vítimas do 15 de outubro, entendendo que os apoios à recuperação das explorações agrícolas continuam mal “resolvidos” e são injustos para com as pessoas que perderam “tudo”. “Não me conformo com os apoios porque os outros (indústria) tiveram apoios de 85% sem teto de investimento”, referiu o edil, pedindo justiça para uns “empresários” que são “tanto como os outros empresários”. Em causa está uma linha de apoio de 50% a investimentos agrícolas superiores a 50 mil euros, quando na indústria os apoios são de 85% qualquer que seja o montante de investimento. “Continuarei a lutar por apoios iguais, porque isto não é justo”, garante Alexandrino.
Num dia em que as memórias do fogo estiveram bem vivas para todos, o Município de Oliveira do Hospital não esqueceu a maior tragédia de sempre no concelho, desdobrando-se em iniciativas que culminaram, ao cair do dia, com a apresentação da maquete do memorial às vitimas e a realização de uma missa na igreja matriz, a que se seguiu a deposição de uma coroa de flores e uma vela gigante, no adro da igreja, em homenagem às13 vitimas mortais de 15 de outubro de 2017, o dia, como o próprio autarca recordou, em que o “inferno desceu à terra”.