Projeto tem como objetivo homenagear uma “arte” que há mais de um século deu origem a uma gíria própria – os verbos dos arguinas – usada pelos pedreiros para que ninguém os percebesse.
A Junta de Freguesia de Santa Ovaia não quer deixar cair em esquecimento um oficio e uma gíria usada durante décadas pelos pedreiros da freguesia, conhecidos pelos arguinas, e decidiu criar um Museu com esse objetivo.
“É uma tradição antiga, aqui da zona. Somos uma terra de canteiros e pedreiros e achámos sempre que era uma coisa que não se devia perder. Afinal é a nossa história”, explica o presidente Licínio Neves, lembrando que os arguinas foram os verdadeiros engenheiros e arquitetos de muitas das “grandes” obras realizadas na região. “Eles faziam tudo”, desde projetar a obra, a edificá-la até aos trabalhos de cantaria mais delicados, recorda o autarca, também ele um antigo canteiro.
Verdadeiros mestres em trabalhar o granito, os arguinas da freguesia, não se limitavam a deixar o seu cunho no concelho, “muitos iam a pé para a Covilhã, para Trás-os-Montes fazer obras”, recorda o presidente da Junta de Santa Ovaia, lembrando que hoje a freguesia não tem “meia dúzia de arguinas”, devido à substituição do trabalho artesanal pelas novas tecnologias.
Foi precisamente para não deixar morrer esta tradição que a Junta de Freguesia lançou mãos à obra, criando um espaço para dar a conhecer, ao público em geral, esse passado. “Estamos a construir um museu, com três salas de exposição, e estamos a tentar reunir o máximo possível de instrumentos desta arte: o cinzel, esquadro, e outros” garante o autarca, acreditando que este vai ser mais um espaço de visita obrigatória no concelho. “Este era um projeto que eu já tinha em mente há muitos anos, porque é algo que tem a ver com a nossa identidade, e finalmente estamos a concretizá-lo”, adianta o presidente Licínio Neves, para quem esta é mais uma homenagem a um conjunto de pessoas que ajudaram a construir a história de Oliveira do Hospital, e que estão imortalizadas em várias publicações de autores concelhios.
Um dos estudiosos desta gíria tem sido o pároco da freguesia, António Borges de Carvalho, que há 50 anos aprendeu os verbos e nunca mais os “largou”. “Aprendi para não ser gozado, creio que esta linguagem surgiu para fugir ao entendimento do patrão e das pessoas que passavam”, explica em declarações à Renascença, ao mesmo tempo que lembra o esforço que tem feito “para não deixar perder esta linguagem”.