“Caminhando por lagares, oliveira e ceia incluída” foi o tema da I Tertúlia organizada pelo Museu do Azeite, na passada sexta-feira, 8 de fevereiro, e que teve como protagonista o conhecido médico e etnólogo local Dr. Francisco Antunes.
O evento, que decorreu na cafetaria do Museu do Azeite e que contou também com a presença do promotor do Museu, António Dias, teve por missão reforçar a vertente cultural e de interação com a comunidade local do Museu que, no entender de Francisco Antunes, “deve ser como uma escola”.
Na pele de “um indígena da Beira Serra cujo território de caça é esta mesma região”, o conhecido nonagenário dissertou sobre a história, a etnografia e a toponímia da região sem nunca esquecer a importância cultural e patrimonial daquele que Homero chamava de “ouro liquido” – o azeite.
Foi, pois, na qualidade de descendente de uma família proprietária de vários lagares de azeite, que o médico aposentado, que diz correr-lhe “azeite nas veias”, revelou ter tido uma “surpresa quase inacreditável” ao saber, através de um dos filhos, proprietário de um hostel em Lagares da Beira, da existência do Museu do Azeite, aberto ao público desde dezembro de 2018, em Bobadela, Oliveira do Hospital.
Com a certeza de que, tal como o proprietário deste museu, teve na sua vida uma “lâmpada mágica de Aladino, que lhe permitiu realizar desejos, sonhos e caprichos”, Francisco Antunes, antigo médico nos concelhos e Oliveira do Hospital e Seia, onde fazia frequentes deslocações ao domicilio dos pacientes, muitas vezes por estradas inexistentes, viu-se frente-a-frente a uma plateia surpresa ao ouvir o quanto têm as “nossas gentes” de herança moura, celta e judia. Numa história que se inicia nos comerciantes fenícios e que passou por 600 anos de ocupação moura, o prestigiado etnólogo realçou ainda a importância que o azeite teve, ao longo dos tempos, na fé destes povos, sendo hoje um bem sacralizado em quase todas as religiões.
No entanto, porque nem só à alimentação e à religião se limitavam os usos do azeite, Francisco Antunes aproveitou ainda para discorrer sobre os usos do azeite na medicina, oficio que exerceu durante décadas. Desde clisteres de água e azeite a injeções de óleo canforado para estimulação do ritmo cardíaco, foram partilhados conhecimentos ancestrais, que vão também passar a enriquecer o Museu do Azeite, com uma nova secção intitulada “O Azeite na Medicina” e constituída por alguns artefactos da coleção pessoal do médico, temporariamente cedidos para exposição pública.
Francisco Antunes confessa-se “Rato de museus” e sublinha a importância de alguns museus rurais existentes na região.
Aplaudido por uma plateia sempre interventiva, o médico local não se poupou nos elogios dirigidos ao Museu do Azeite, que reconheceu ser “ímpar” na região e no País e de grande importância para a preservação de um património “sem preço” e de uma identidade comum às gentes da Beira Serra.
Carolina Henriques