Portugal é o segundo país em que os jovens mais acreditam no voto como um agente de mudança e de influência na sua realidade. É preciso por isso criar propostas políticas que consigam tirar partido dessa mobilização.
Quando comecei a desenhar este texto na minha cabeça, a ideia era falar sobre “um ano a pensar nos jovens”. Mas, pensei melhor, e decidi mudar: “um ano para fazer pelos jovens”. Pensar é fundamental (e faz tanta falta), mas é importante passar à ação quando ela parece tardar.
Daqui a um ano, por esta altura, já estará a pleno vapor a pré-campanha para as Autárquicas 2025, já haverá listas feitas, os programas eleitorais (para quem se dá ao trabalho de os fazer) estarão em elaboração e os principais candidatos já serão conhecidos. É por isso que, caros políticos da nossa praça, que vos dirijo estas palavras: têm pela frente um ano para fazer pela vida, e realço, nesta crónica, para fazer pelos jovens.
A participação eleitoral deste segmento da população, que durante muitos anos foi muito baixa, cresceu nos últimos dois atos eleitorais: as Legislativas e as Europeias de 2024. E se normalmente era nos segmentos acima dos 65 anos que tudo se decidia, os dados recolhidos em estudos pós-eleitorais apontam que, desta vez, os eleitores entre os 18 e os 34 anos, com forte afluência eleitoral, tiveram praticamente tanto peso como este segmento etário.
Por isso mesmo, falar em dar atenção aos jovens na elaboração das propostas para o próximo ciclo eleitoral, ou exigir que estes tenham presença nas listas autárquicas — seja nas juntas de freguesia, nas assembleias municipais ou nas câmaras municipais — não é nenhum favor especial, nenhuma misericórdia em prol dos eleitores desfavorecidos. É uma questão de tática eleitoral e estratégia futura.
Começamos pela tática: tendo em conta que os jovens votam cada vez mais, e estão mais mobilizados para fazer a diferença nas causas que lhe dizem respeito, como tem sido visível até no tecido associativo aqui em Oliveira do Hospital, estamos a falar de uma questão de matemática simples — envolver os jovens, chamá-los para liderar e fazer propostas concretas, vai trazer votos. Votos esses que, em muitos casos, têm estado adormecidos por falta de boas alternativas.
E passemos à estratégia: dizem as boas práticas da política autárquica que o truque para ganhar eleições autárquicas passa por criar uma coligação que represente a população. Não estou a falar de uma coligação de partidos, estou antes a falar de uma coligação de vontades, de interesses e de personalidades.
Especialmente em Eleições Autárquicas, o voto é personalizado e é um voto de confiança pessoal. Votamos nos candidatos em quem confiamos, que acreditamos que vão gerir a coisa pública com honestidade, e que vão dar voz às nossas preocupações e interesses. É por isso que é tão importante fazer listas representativas da sociedade: com pessoas de várias freguesias, de várias idades e proveniências, com diferentes graus de experiência, para podermos associar a prudência dos veteranos à irreverência dos mais novos e, desta forma, também semearmos o futuro.
Os valores seguros dos candidatos mais maduros são basilares na constituição de listas, mas só fazendo a transição para uma nova geração de políticos se garantirá uma renovação segura, sem percalços, e que permita também um amadurecimento destes jovens perante a responsabilidade de representar os seus eleitores.
Falo-vos disto nesta altura porque acredito que, agora, um ano antes, é tempo suficiente para corrigir uma situação dominante que, em termos gerais, nos deve preocupar: Programas eleitorais pensados, escritos e discutidos maioritariamente por homens, tendo a esmagadora maioria deles mais de 50 anos.
De acordo com o Eurobarómetro de abril deste ano, 51% dos jovens portugueses acreditam que a melhor forma de fazer ouvir a sua voz por parte dos decisores políticos é votando nas eleições, sejam elas europeias, nacionais ou locais. Portugal é o segundo país em que os jovens mais acreditam no voto como um agente de mudança e de influência na sua realidade. É preciso por isso criar propostas políticas que consigam tirar partido dessa mobilização.
De acordo com o mesmo inquérito, as cinco causas que mais preocupam os jovens portugueses são, por ordem: direitos humanos, alterações climáticas e proteção ambiental, saúde e bem-estar, desigualdade económica e bem-estar social e igualdade de direitos.
O que é que os partidos estão a pensar para melhorar as condições nestas áreas ao nível local? Já pensaram em ouvir os jovens sobre o que mais os preocupa? O que é que os jovens querem para poderem ficar mais tempo na sua terra?
Na fase da política TikTok, em que sobretudo os partidos populistas têm tirado partido das redes sociais para desinformar e galvanizar em torno de preconceitos e falsidades, a política local está a falar a língua dos jovens? Não vamos estar com rodeios: não está.
Desde as últimas eleições autárquicas, em 2021, não houve nenhuma evolução na forma como se comunica a política ao nível local, seja por parte dos partidos ou das juventudes partidárias. É uma comunicação desorganizada e desadequada às plataformas usadas. É excessivamente formal, por um lado, e extremamente amadora por outro. Além disso, não tem nenhuma mensagem nem nenhuma proposta além de meros chavões ou slogans batidos. E aqui tenho de ser justo: nem tem essa mensagem para os jovens, nem para nenhum outro segmento da população.
Será que não é possível fazer melhor? Acredito que sim, e há recursos e pessoas para isso. Tenho tido oportunidade de, na minha vida profissional, lidar com jovens da nossa região que começaram os seus negócios, que alavancaram as associações das suas terras ou que se envolveram ativamente em causas e projetos. É preciso trazê-los para a luta por um bem maior e pelo bem comum — seja qual for o seu quadrante partidário. Mas, para isso, é preciso ter a humildade de entender que, se não existe nas atuais equipas quem possa dar a volta em todos estes temas, é preciso ouvir outras pessoas, rejuvenescer grupos de trabalho, abrir espaço para que outros intervenham e se sintam bem-vindos nos partidos e nas instituições.
O que está em causa é a renovação da democracia local e o futuro da nossa região: que tem de ser feito com todos, para todos. Sem amarras ou o medo bacoco de perder lugares cativos.
Pedro Miguel Coelho
Profissional de comunicação