Confraria teme pelo futuro da iguaria após o incêndio e a seca.
Prestes a realizar o 29º capítulo, a Confraria nunca temeu como agora pelo futuro do Queijo Serra da Estrela. “Já sofreu vários abalos. Mas este talvez seja o maior”, verifica o Grande Conselheiro da Confraria que, a juntar a seca ao grande incêndio de outubro, está certo de que este “foi o maior embate que os nossos produtores sofreram”.
É por isso, com “algum cinzentismo” que, Pedro Couceiro antecipa o próximo capítulo da Confraria do Queijo da Serra da Estrela que, pela primeira vez em 29 anos, não é presidido pelo seu Grão Mestre, o professor Manuel Leal Freire, recentemente falecido. “Tudo terá a ver com a tragédia de outubro”, antecipa o Grande Conselheiro, recordando que o fogo matou oito mil ovelhas Serra da Estrela em toda a região demarcada, sendo que três mil ocorreram na área do concelho de Oliveira do Hospital, resultando em “problemas gravíssimos para os nossos produtores”. “No concelho, corresponde à perda de 50 por cento do efetivo. Foram muitos animais que morreram”, refere Pedro Couceiro, registando ainda a falta de alimento causada pelo incêndio e as condições em que ficaram muitos animais, que tiveram mesmo que ser abatidos.
À perda do efetivo corresponde a consequente quebra da produção de leite e do genuíno Queijo da Serra da Estrela, na ordem dos 50 por cento. “A feira terá um carácter menos significativo. Os nossos produtores, que são poucos, não sei se terão queijo para os dois dias de feira”, adivinha Pedro Couceiro que, ainda assim, encara o certame que vai decorrer em Oliveira do Hospital nos dias 10 e 11 de março, como um estímulo para os produtores.
Criada há 29 anos em Oliveira do Hospital, a Confraria “vai fazendo o que pode” para defender o Queijo Serra da Estrela, considerando também determinante tudo o que tem sido feito pela Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Serra da Estrela, que coordenou no terreno as ajudas que chegaram de todo o país, assim como pela própria Câmara Municipal. “Se não fosse a solidariedade humana podíamos falar em perda de 100 por cento dos animais”, refere Pedrou Couceiro.
Passado o momento de enterrar os animais mortos e arranjar alimento para o vivos, o responsável pela Confraria entende que “é preciso tratar do futuro”. Aplaude, por isso, o processo de recria de borregas promovido pela Ancose, tendo em vista a doação das ovelhas aos pastores.
Importa repor o setor que pode ser abalado pela subida dos preços praticados. Ainda que possa ser benéfico para o produtor, para fazer face aos elevados custos de produção, Pedro Couceiro teme pela subida do preço do queijo, levando a que este deixe de ser o produto popular que estava ao alcance de toda a gente, com o preço a rondar até agora os 15 Euros/Kg. “Não duvido de que haverá alteração de preços. Não sei se daqui a uns anos, não estaremos a falar do Queijo Serra da Estrela como um produto luxo, pago a verbas a que não estamos habituados. Espero que isso não aconteça”, alerta Pedro Couceiro.
Para valorizar a produção do Queijo Serra da Estrela, mantém-se a luta pela diferenciação no preço de leite de ovelha Serra da Estrela que ronda atualmente um Euro por litro. Um valor que é considerado baixo e que tem permitido a introdução de raças exóticas nos rebanhos desta região, por se apresentarem mais rentáveis já que produzem mais leite. Teme-se, por isso, pela falsificação do produto.
A confraria do Queijo Serra da Estrela conta com 70 confrades, entre eles o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recentemente entronizado confrade de Honra. Mais do que nunca, importa defender esta que é uma maravilha da gastronomia portuguesa. “Temos que explicar às pessoas aquilo que os produtores passaram e a crise que setor está a passar” para perceberem a possível subida do preço do Queijo Serra da Estrela, refere o Grande Conselheiro.