Vitor Neves – Gestor
Antes do boletim – até a designação tem um ar de outro tempo – ser depositado na reciclagem que o espera, importa perguntar: para que serve? É mesmo necessário e útil a edição em papel? 9000 exemplares?
O boletim municipal do município de Oliveira do Hospital chegou até Si? Sim?
Por certo que sim. Foram editados 9000! São muitos exemplares. Contas redondas, é um exemplar por cada dois habitantes do concelho, com distribuição gratuita.
É uma edição anual, saiu para a rua em Dezembro, em papel e online.
É a informação municipal, lê-se no topo da página.
Leu? Alguém leu?
O boletim em papel encontrou-se comigo na minha caixa de correio. Guardei-o para posteriormente conferir o papel de tanto papel para “prestar contas com transparência”, como refere no seu texto o agora presidente da assembleia municipal, José Carlos Alexandrino.
A propósito, importa esclarecer que o boletim não presta contas. Nada. Apenas refere os milhões de euros aprovados no orçamento para 2023 e mais uns milhares de euros para uns tantos investimentos, alguns realizados outros por realizar.
Também não é um documento sobre obras feitas, dado que também se anunciam obras que se vão fazer. Deve ser por isso que o diretor do boletim e presidente do município, José Francisco Rolo revela que “estamos diariamente num trabalho imparável”.
Convenhamos, o boletim deve ter dado um trabalhão, ainda que que o resultado seja algo trapalhão: mistura-se tudo – obras, eventos, festejos e homenagens e mais “coisas” incluindo anúncios de obras, eventos, festejos e homenagens e mais “coisas”.
A paginação é sofrível e nada apelativa, as fotografias são de deficiente qualidade e quando a cor aparece para dar cor ao investimento nas freguesias, não parece ser uma ideia muito feliz compaginar separadores em azul claro com fotos de obras com moldura gráfica em verde claro – é clarinho que faltou (bom) gosto.
A página 76 exibe as fotos do presidente e dos vereadores da câmara municipal (2021-2025), ainda que da assembleia municipal só o presidente tenha direito a foto e os presidentes das juntas são contentados com… o nome! A seguir, as deliberações, para ler com lupa…
Antes do boletim – até a designação tem um ar de outro tempo – ser depositado na reciclagem que o espera, importa perguntar: para que serve? É mesmo necessário e útil a edição em papel? 9000 exemplares?
E nem a estafada argumentação de que “é a propaganda política” tem cola que pegue nos dias de hoje. Parece um evidente desperdício, qual ponta que nos pode obrigar a imaginar (e temer) o tamanho do icebergue…com ou sem justificação.
Talvez este texto seja, também, de utilidade questionável. Ou não.
É serviço público alertar quando o gasto público não serve para nada.