Vitor Neves – Gestor
Se ouvir um daqueles autarcas da narrativa da defesa do Interior, pergunte-lhe quanto já reduziu aos impostos, quanto já reduziu à despesa pública que gera e, se não tiver “medo”, pergunte-lhe se já fez alguma coisa na vida que tivesse gerado riqueza para a sociedade?
Este termo alemão encanta-me. Talvez por não dominar o idioma, talvez por viver sob a globalização do inglês e a errónea similitude fonética que daí resulta, talvez pela sedução do que significa: mudança, viragem, reviravolta.
O Interior está na sua Wende crucial, quiçá derradeira.
Não importa se o Interior é transmontano, beirão ou alentejano. Ou o atual estado de (sobre)vivência muda drasticamente, ou a inexorável marcha do despovoamento, do abandono, do cada vez menos de tudo, será o desenho de um futuro triste feito de memórias, ausências e de nadas.
Não é fácil inverter o que parece não ser invertível. É mais fácil escrever do que fazer, opinar do que concretizar.
No entanto, também é fácil ver: e está à vista que tanta política de inclusão de desenvolvimento e proteção não resultou. Gastou-se tempo, dinheiro, mas não resultou. Só resultou para quem disso se ocupou como emprego e ganha-pão.
É tempo de separar as águas, ganhar objetividade, frieza e ser concreto: o Interior só inverte o seu envelhecimento, despovoamento e abandono se tiver pessoas e capacidade para gerar riqueza, sendo determinante a captação de investimento privado.
Tudo que não passar por “isto” é mais do mesmo, a treta costumeira e o alegrete continuar da tragédia.
Quando lhe falarem de “coisas” como um think tank, que agora parece querer nascer no Douro para combater o centralismo, pergunte como é que esse combate fixa pessoas no Interior? Pergunte se é a combater o centralismo, seja lá o que isso for, que se gera riqueza no Interior?
Se, nesta temporada de regresso das feiras do queijo, lhe falarem nos produtos endógenos, e se ainda não estiver enjoado com tanto “endógeno”, pergunte a quem os faz se é negócio? Se querem ver os seus filhos a fazer queijo, chouriços ou quejandos no futuro?
Se ouvir falar de como é bom o (re)viver das tradições das aldeias de montanha, pergunte se é sustentável, se se paga? E, se for capaz, pergunte ao palrador se lá tem casa, se quer lá viver?
Se ouvir um daqueles autarcas da narrativa da defesa do Interior, pergunte-lhe quanto já reduziu aos impostos, quanto já reduziu à despesa pública que gera e, se não tiver “medo”, pergunte-lhe se já fez alguma coisa na vida que tivesse gerado riqueza para a sociedade?
Vivemos tempos de uma incerteza assustadora, provocada por bancas rotas, pandemias e agora uma inacreditável e esmagadora guerra.
Não há (mais) paciência para políticas florais, bacocas narrativas e festas para o umbigo. Os recursos são escassos e o tempo não espera: o Interior está obrigado a resultados.
A Wende do Interior pode muito bem começar por perceber e reconhecer que (quase) tudo o que se tem feito tem gerado resultados desastrosos e que é imperativo não insistir: o mesmo não gera resultados diferentes.
Pode parecer pouco, mas pode ser o muito para iniciar uma nova vida. E é de Vida que o Interior precisa.