Gosto muito de ver filmes. Este facto é, provavelmente, conhecido dos meus leitores mais habituais, e até dos leitores que já me leram por outras paragens: ao ponto de até ter tido um projeto jornalístico, o Espalha-Factos, que se dedicava, precisamente, a televisão e cinema. Também nas minhas crónicas, quer aqui no Folha do Centro, quer noutros títulos locais, já tive oportunidade de falar de cinema e de filmes.
O regresso, em pleno funcionamento, da Casa da Cultura César de Oliveira, permitiu-me matar saudades de ver grandes filmes aqui em Oliveira do Hospital, em casa. Começo por dizer que receei muito que, depois de tantos anos desabituados de ir ao cinema, seja pelo período em que este equipamento esteve fechado, seja pelos muitos anos em que os filmes chegavam muito tarde, os oliveirenses já tivessem migrado definitivamente para o sofá e para as plataformas de streaming como a Netflix ou a Prime Video.
Foi com grata surpresa que percebi que não: há mais gente como eu, que acha que não há mesmo nada como ver um filme na sala de cinema, rodeado por mais gente, a viver a sétima arte como um momento de partilha.
E comprovei-o em três momentos distintos, com três filmes também muito diferentes, e com a sala cheia, ou muito perto disso. “Gladiador 2”, que vi na primeira fila da sala, porque já não havia mais lugares, “Red One: Missão Secreta”, em que também já só apanhei lugar na fila C, e por fim com “Vaiana 2”, sucesso de animação para o qual comprei bilhete uma semana antes, tendo assim conseguido conquistar assento na fila H, uma espécie de bancada central da segunda de duas sessões praticamente esgotadas.
A escolha de filmes que agradam ao público em geral, com um cartaz diverso, e uma boa reação ao sucesso dessas mesmas sessões — ao perceber que a primeira sessão de “Vaiana 2” estava quase esgotada, foi marcada uma segunda — demonstram cuidado e pensamento nas opções do cartaz.
E a opção por vários horários e diferentes, para vários tipos de produções diferentes, revelam também uma boa capacidade para tentar perceber onde é que determinados públicos e faixas etárias encaixam melhor. Além disso, e é preciso sublinhá-lo, a sala é muito boa, bem como as suas condições de áudio e vídeo, que permitem ao espectador ter uma experiência de cinema tão boa como em qualquer grande sala numa capital de distrito. E o público também é bom: respeitador, civilizado, e com gosto por ver filmes.
Haverá, com certeza, mais ajustes e testes a fazer. Não sei as condições comerciais de aquisição e exibição dos filmes, e por isso o que escreverei daqui para a frente são apenas teorias.
Os filmes estão a chegar a Oliveira do Hospital com apenas duas semanas de diferença em relação à estreia nacional, o que é ótimo, mas sinto que em alguns casos poderia haver benefício em manter alguns deles mais tempo em cartaz, tendo em conta o sucesso das sessões existentes, rentabilizando mais a sua presença: julgo que quer no caso de “Gladiador 2”, quer no caso de “Vaiana 2”, poderia ter havido audiência para assistir noutros dias e horários, se tivesse existido essa disponibilidade.
A oferta de um serviço de bar, nomeadamente com pipocas acabadinhas de fazer (perdoem a gulodice da minha parte), e outras bebidas e comidas, poderia ser também uma boa hipótese para contribuir para a rentabilização e financiamento das sessões. Mas, mais uma vez, faço esta sugestão sem saber quais as atuais condições do espaço da Casa da Cultura para uma oferta deste género, dado que o atual “Welcome Center” não tem nenhum espaço de bar ou cafetaria.
A disponibilização, em ótimas condições, desta experiência cinematográfica a todos os munícipes, com preços bastante simpáticos, em particular para estudantes (3 euros), contribui para a educação dos públicos e para a diversificação das suas referências culturais, o que ficou patente, por exemplo, na iniciativa “O Dia Mais Curto”, com várias curtas-metragens ao longo do dia, e poderá ser explorado em outras iniciativas e ciclos temáticos futuros. Foi na Casa da Cultura, por exemplo, que assisti pela primeira vez no grande ecrã ao filme “Janela Indiscreta”, do grande Alfred Hitchcock. O aprofundamento e diversificação do cartaz serão a continuação de um caminho que, para já, arranca com enorme sucesso.
Estamos no Natal, também uma altura do ano muito propícia para filmes, pipocas e outras coisas boas que a vida nos oferece. Aos nossos leitores, um agradecimento pela companhia ao longo de mais um ano de crónicas, e o desejo de que 2025 traga saúde, felicidade e muitas concretizações.