Recentemente, três jovens do concelho de Oliveira do Hospital foram distinguidos pelo seu trabalho académico e científico. Em diferentes áreas do saber, em diversos locais.
Eduarda Vaz foi vencedora do Prémio Maria de Lourdes Pintasilgo, criado pelo Instituto Superior Técnico (IST) para distinguir os seus antigos alunos. Atualmente estuda na Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, e desenvolve investigação para tornar mais rápido o diagnóstico de cancro pancreático. Na intervenção em que agradeceu este prémio sublinhou como ideia-chave a liderança pela igualdade, dedicando o prémio “a todas as mulheres extraordinárias e a todos os homens, igualmente extraordinários, que lutam para ser líderes que permitam essa igualdade”.
Andreia Santos venceu o Prémio de Investigação Pina Manique, com a dissertação “Quotidianos e Sociabilidades Rurais Setecentistas nos Concelhos da Figueira da Foz e Oliveira do Hospital”, vendo reconhecido o seu mérito académico no âmbito da História de Portugal. É natural do Rio de Mel e tem também mantido intervenção cívica enquanto secretária da junta de freguesia de São Gião.
E, ainda noutra área, a das Ciências da Educação, João Pedro Caseiro recebeu o Prémio de Melhor Comunicação da Mostra do Doutoramento em Ciências da Educação de 2024. Além disso, e depois de já ter sido presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra, foi agora eleito representante dos estudantes de 3.º Ciclo (Doutoramento) no Conselho Geral da Universidade de Coimbra. É também comentador na Rádio Boa Nova, aqui em Oliveira do Hospital, e foi mandatário da juventude distrital na candidatura da AD às Legislativas 2024.
Saúdo estes jovens, cujo percurso e capacidade de intervenção nos deve orgulhar a todos. E, feita esta introdução, porque é que trago este tema à crónica desta edição do Folha do Centro? Porque estes jovens, e outros como eles, devem ser auscultados sobre o que pensam, e sobre o que têm aprendido que podemos aplicar aqui, no nosso território. Acredito, vendo os seus percursos, que esse seria um reconhecimento e um impacto que gostariam de ter.
A Eduarda, a Andreia e o João são só três exemplos de jovens com valor: há muitos outros, por aí (e por aqui), que desenvolveram as suas ideias de negócio, que se notabilizam nas suas profissões, que lideram projetos de impacto social a nível local. Vamos localizá-los e saber: O que têm aprendido nessas experiências? Que desafios encontram? O que é que podemos fazer para que, aqui, na nossa terra, haja mais iniciativa jovem, e para que os jovens sejam protagonistas e estejam na linha da frente para construir o futuro — nas empresas, nas associações, no setor social e na política?
Um barómetro, alguns problemas e muitas soluções
Recentemente foram publicados os resultados do Barómetro do Desenvolvimento Local, um estudo elaborado anualmente pelo Iscte e que avalia os municípios portugueses. O barómetro mede nove índices articulados que, no entender dos autores do estudo, exprimem as diferentes dimensões do desenvolvimento local, que estão associadas à atividade empresarial, do governo e das autarquias locais.
Normalmente vemos estes estudos como um medidor da eficácia do poder local, mas é redutor que o façamos. O Estado, e os órgãos municipais, têm um papel preponderante no desenvolvimento local; mas não há desenvolvimento sem a participação ativa e empenhada das empresas, das associações e IPSSs, e de todos os trabalhadores e cidadãos. E é aqui que podemos, e devemos, lutar para incluir e integrar cada vez mais pessoas: em particular os jovens que, na sua atividade académica ou profissional, dão cartas.
Numa avaliação de 1 a 5, onde o 1 é “em perda” e o 5 é “muito bom”, o município de Oliveira do Hospital sai particularmente penalizado quando é avaliado o índice de atratividade socioeconómica, onde é pontuado com apenas 1. Pela positiva destacam-se o índice de acessibilidade habitacional (3) e o índice de acesso a serviços coletivos (4) – que são particularmente importantes para solucionar as carências evidenciadas nos outros resultados, que podem ser consultados na íntegra em https://bit.ly/barometro-municipal.
Foco-me, para já, neste índice de atratividade socioeconómica. Este compreende informação relativa a questões tão diversas como a variação da população residente, o saldo migratório (saída de emigrantes vs. entrada de imigrantes), população residente estrangeira, procura turística, capacidade de atrair/gerar emprego (variação % do emprego), capacidade de atrair/gerar investimento (número de empresas e variação do número de empresas). Uma parte destes resultados são de tendência demográfica e difíceis de contrariar — mas nem por isso devemos deixar de tentar procurar resolução para eles e, sobretudo, de discutirmos em conjunto possíveis soluções.
Voltando ao nosso tema central: O que é que estes jovens pensam que falta para que mais pessoas como eles queiram viver aqui? O que podemos fazer para atrair profissionais estrangeiros necessários em diversas áreas da nossa economia, nomeadamente nos serviços? Que tipo de práticas podem implementar as nossas empresas e organizações para serem atrativas para que um jovem faça aqui a sua carreira e invista num futuro em Oliveira do Hospital? O que é que a experiência deles em projetos de investigação e associativos lhes diz sobre isto?
Temos assistido a uma crescente apologia de comportamentos que incentivam o fechamento, o pessimismo e a desconfiança. Isso revela pequenez.
Quando nos encerramos em nós mesmos, quando não falamos uns com os outros, quando não estamos abertos ao que é novo e diferente e pensamos em circuito fechado, vamos necessariamente pensar pior. Porque teremos menos perspetivas diferentes, menos abrangência nas questões sobre as quais refletimos, menos capacidade para apresentar e defender argumentos.
Vivemos na era da participação e da comunicação constantes. Não vale a pena tentar contrariar isso, porque será como segurar o vento com as mãos: devemos, isso sim, integrar isso nos processos decisórios, e canalizar essa participação e comunicação para o bem comum. Há uma “multidão” de jovens líderes que temos de convencer a liderarem, também, pela sua terra. Porque serão eles a ter de lidar com o futuro.
A todos os leitores de quem nos despedimos por agora, em 2024, desejo um ano de 2025 cheio de participação, construção e ambição coletiva.
Pedro Miguel Coelho
Jornalista do jornal Expresso