As aparições de Fátima, cujo centenário se assinala este ano, motivaram a realização de uma tertúlia no Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital (AEOH) que contou com a participação de vozes “dissonantes” e que teve como principal objetivo “debater Fátima”.
Assim aconteceu por iniciativa das áreas disciplinares de História e Filosofia do AEOH, que convidaram para a tertúlia Anselmo Borges, professor de Filosofia da Universidade de Coimbra e padre da Sociedade Missionária Portuguesa, Carlos Esperança, presidente da Associação Ateísta, Francisco Prior Claro, diácono da Unidade Pastoral de Oliveira do Hospital e Luís Filipe Torgal, docente de História do Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital e investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra – CEIS20
A Biblioteca da escola sede do AEOH serviu de cenário à iniciativa que teve transmissão em direto pela Rádio Boa Nova (em 100.2 Fm e em www.radioboanova.pt) e em formato vídeo pela rede social facebook. Diante de uma sala cheia, coube a Vítor Neves moderar a iniciativa, puxando da boa disposição, sem com isso descurar a seriedade da iniciativa e do tema associado. “Vamos falar sobre Fátima e fé, de forma séria e honesta, sem que isto seja um drama”, logo desafiou o moderador que gracejou com a história do vestido de Nossa Senhora. “Os primeiros relatos diziam que o vestido tinha alguma sensualidade, que ficava ali pelo joelho. Depois o Dr. Formigão é que puxou o vestido para baixo… até aos pés”, referiu, partindo assim para a discussão sobre Fátima e diante de “um painel com qualidade”. Impunha-se discutir aquele que será “o maior fenómeno que teve lugar em Portugal” e que todos os anos mobiliza “mais de cinco milhões de peregrinos”, podendo este ano o número chegar aos oito milhões.
No decorrer da tertúlia confirmou-se o que tinha antecipado Luís Filipe Torgal, ficando a iniciativa marcada pelas “vozes dissonantes” sobre o fenómeno de Fátima. Em Oliveira do Hospital, o padre e professor Anselmo Borges reforçou a sua convicção de que “Fátima não é um dogma”. “Pode-se ser bom católico e não acreditar em Fátima” registou o sacerdote que admite que os três pastorinhos tenham feito uma “experiência religiosa”, mas “que não foi a melhor”. “Que mãe mostra o inferno aos seus filhos?”, questionou, para depois também se mostrar cético quanto aos segredos de Fátima.
Presidente da Associação Ateísta Portuguesa, Carlos Esperança disse sem reservas que “Fátima é seguramente um embuste, que nasceu no seio da Igreja Católica, fomentado pelo Clero”. Manifestou, por isso, o seu repúdio por o Presidente da República participar no vídeo promocional de Fátima”. Do mesmo modo condena o governo por dar tolerância de ponto no dia 12 de maio.
Totalmente diferente foi a posição de Francisco Prior Claro, diácono da Unidade Pastoral de Oliveira do Hospital que, na tertúlia, defendeu a veracidade das aparições, entendendo mesmo que “o que aconteceu em Fátima, tem efeito extraordinário, na vida de cada um de nós…”. “Estou em crer que os pastorinhos fizeram uma experiência de Deus extraordinária, de uma beleza que até dá inveja”, disse ainda o diácono que, a propósito do tema da tertúlia, também considerou que “para Deus é mais fácil bailar o sol, do que os corações.”
Elemento da organização da iniciativa, Luís Filipe Torgal, autor do livro “O Sol Bailou ao Meio-Dia. Criação de Fátima”, integrou também o painel de intervenientes, para logo considerar, sobre o centenário das aparições, que “são 100 anos de muitas contradições…”. Com “respeito” por Fátima, Luís Filipe Torgal apresenta uma visão mais historiográfica do fenómeno entendendo que o mesmo é resultado do contexto que se vivia na época. Partilha também da opinião de Anselmo Borges de que “Fátima não é dogma de fé” e verifica, pelo trabalho de investigação que vem realizando, que “o discurso de Fátima esteve sempre muito politizado”.
A tertúlia ficou ainda marcada pela intervenção de elementos da plateia. À saída era unânime a opinião de que a tertúlia/debate resultou numa iniciativa “enriquecedora” pela diversidade de opiniões.