Por estes dias, o queijo de ovelha Serra da Estrela é rei. Mas ao mais famoso dos queijos portugueses junta-se também o queijo de cabra, de raça autóctone, produzido pela Quinta da Rigueira, em Meruge, um dos raros produtores da região dedicados exclusivamente à produção desta iguaria gastronómica.
Rita Herdade e o marido Francisco Sousa, são o rosto visível deste projeto agrícola, que além da queijaria tem também o rebanho, atualmente com mais de 500 cabeças. Licenciada em engenharia de produção animal, a paixão de Rita Herdade pelos animais vem desde muito cedo, “herdou-a” do pai que durante anos teve uma das maiores explorações de coelhos do país. A queijaria surge para fechar o ciclo e criar cadeia de valor na exploração.
Rita Herdade explica que a ideia nasceu também da “lacuna” que existia na região no que concerne à produção deste tipo de queijo. “Estamos numa região onde a ovelha é rainha e o queijo da ovelha bordaleira, típica desta região, quando na realidade também existe uma raça de cabra típica desta região, uma raça autóctone”, refere, defendendo que “da mesma forma que se aposta num produto de excelência produzido a partir de leite de ovelha, poderíamos fazer o mesmo com a cabra e aquilo que notava é que não havia nenhum produtor a trabalhar exclusivamente com este animal. A maioria das pessoas tinha um rebanho de ovelhas e depois tinha meia dúzia de cabras e ia fazendo umas coisas engraçadas aqui e ali e a nossa aposta foi trabalhar especificamente com o leite de cabra”.
No mercado com queijos de diferentes curas e o não menos afamado requeijão de cabra, a Quinta da Rigueira afirma-se como um projeto de valorização do mundo rural e de uma das atividades que mais tem sofrido com o êxodo da população. Talvez por isso, Rita e Francisco tenham muitas vezes de ser eles a pôr a mão na massa, ajudando a moldar um produto que ainda tem quase tudo de “artesanal”.
Mas a melhor resposta a este “investimento” tem vindo do mercado e dos consumidores. “Ainda mal o queijo está feito, já está vendido”, dizem, atualmente com uma produção na ordem dos 300 quilos de queijo por semana. “O nosso objetivo é crescer, aumentar o efetivo para garantir a sustentabilidade da exploração, mas o nosso foco é sempre o de manter a qualidade da matéria prima. Se nós tivermos uma matéria prima boa com certeza que vamos ter um produto bom, e isso passa essencialmente pelo melhoramento animal, pelo bem estar animal, pela alimentação dos animais que é o mais importante e depois daí vem o leite e o queijo para fechar o ciclo”, adianta a engenheira que acabou por “arrastar” o marido para esta atividade, depois de anos a trabalhar em Lisboa.
“Não é verdade que a ruralidade tem de ser inferior, nós podemos ser agricultores, podemos ser pastores, podemos ser queijeiros e inovar e ser criativos e acreditamos que o futuro vai passar sempre pela agricultura, porque as pessoas podem mudar os seus hábitos alimentares, mas vão ter sempre de comer”, defendem os produtores, acreditando no futuro deste setor, e sobretudo no crescimento do consumo deste queijo, com características diferentes do de ovelha, mas não menos apreciado.