A Comissão Organizadora da edição deste ano do Carnaval de Lagares da Beira está em pé de guerra com a direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lagares da Beira, que, no inicio do ano anunciou não ter disponibilidade para apoiar a realização do corso carnavalesco.
Na origem da polémica, está o facto da Direção dos Bombeiros ter decidido colocar na rua os carros alegóricos que se encontravam desde o dia do desfile dentro das suas instalações, alegando que os mesmos estariam a ocupar indevidamente o pavilhão onde devem estar estacionadas as suas viaturas.
Decisão que a Comissão Organizadora, constituída por vários elementos da população, diz não compreender “por todo o sacrifício e trabalho” que teve ao longo de semanas para “não deixar morrer uma tradição e um ícone cultural da freguesia”, e acusa a Direção dos Bombeiros Lagarenses de “má fé”.
A Comissão lembra que quando decidiu avançar para a organização do Carnaval já a Direção dos BVLB tinha tomado a decisão de não organizar o evento, pelo que considera não se ter sobreposto aquela entidade, nem ter colocado em causa a sua vertente humanitária, mas apenas substituir-se na realização daquele que é um dos momentos altos da freguesia e uma tradição com mais de 50 anos.
“Sempre realçámos que a Direção tem todo o direito de não o querer organizar, e nunca quisemos sobrepor o Carnaval à vertente Humanitária daquela Associação, mas achámos que deveríamos ter todos o bom senso perante uma tradição de longa data” esclarece a CO do Carnaval de Lagares da Beira 2023, numa nota enviada ao nosso jornal, surpreendida com a atitude dos BVLB de colocar “os carros alegóricos na rua a sofrerem os mais diversos efeitos das condições climatéricas”, e da intenção de “destruir e desmantelar” os mesmos.
“A Direção da Associação Humanitária de Lagares da Beira, não está a destruir apenas madeiras, e a rasgar folhas de papel, está destruir décadas de muito suor destas gentes e dinheiros públicos, que na nossa filosofia de vida e na conjuntura em que vivemos, ensina-nos que nada pode ser desperdício”, repudiam os elementos que organizaram o último carnaval da freguesia, que esperam encontrar uma solução, em conjunto com a população, para o reaproveitamento dos materiais existentes, assegurando assim o futuro de uma das grandes apostas culturais e turísticas da freguesia, que atrai todos os anos milhares de pessoas à vila.
A Direção esclarece que foi eleita para zelar pelos interesses dos Bombeiros e não do Carnaval
Contactado pelo nosso jornal, o presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lagares da Beira, o médico Álvaro Herdade, esclarece que os BVLB nunca organizaram o carnaval da freguesia, mas apenas davam apoio à organização, como fizeram ainda com o desfile deste ano. “Não podemos pôr em causa a prestação do socorro a vitimas e bens, para organizar o carnaval, apenas ajudávamos naquilo que podíamos, porque a nossa missão não é organizar festas”, garante o presidente, dizendo que foi claro na reunião preparatória com a Comissão Organizadora de que terminados os festejos carnavalescos, os carros alegóricos deveriam ser retirados do pavilhão dos Bombeiros, assim como os atrelados devolvidos aos seus proprietários.
“A direção exigiu que o pavilhão fosse entregue completamente limpo e vazio e eles (CO) aceitaram, mas a verdade é que não quiseram saber de mais nada e deixaram tudo na mesma”, relata Álvaro Herdade, visivelmente indignado com as posições vindas a público nos últimos dias, por parte da Comissão Organizadora do Carnaval 2023. “Nós temos um pavilhão que foi financiado com fundo europeus para pôr as nossas viaturas em em vez disso temos lá os carros alegóricos, isto cabe na cabeça de alguém?” questiona o presidente, referindo além disso que “tem os donos dos atrelados a pedir para estes serem devolvidos. Ninguém compra um atrelado por 3 e 4 mil euros para emprestar ao carnaval todo o ano”.
“Isto só pode ter a mão de alguém que quer destruir a imagem dos Bombeiros e como não tem coragem de dar a cara , vai picando esta gente para fazer isto”, entende o médico lagarense, lembrando que foi eleito para “zelar pelos interesses da Associação Humanitária dos BVLB e não do Carnaval”. Pelo que, os carros alegóricos vão continuar na rua à espera que retirem deles alguns dos materiais utilizados, porque “não vamos pôr nós as nossas novas ambulâncias à chuva”, assegura Herdade.