Neste momento, para uma larga franja do eleitorado, este não é o exato governo que queria, mas é aquele que está disposta a aguentar. Se por um lado, a pressão está do lado do PS, condenado a fazer uma oposição que não catalize uma crise política e a vitimização da AD, por outro lado estes números também deixam um recado ao Governo: o caminho é estreito e isto não é um passeio no parque. Depois da fúria dos anúncios, a obra tem mesmo de surgir.
As sondagens nacionais dos últimos dois meses, com poucas nuances, apontam um cenário eleitoral que em caso de eleições antecipadas seria o seguinte: o PS, enquanto partido, teria mais votos que os dois partidos que compõem a AD, mas Luís Montenegro é mais popular e tem mais confiança por parte dos respondentes desses inquéritos de opinião que Pedro Nuno Santos.
Este cenário está longe de ser inédito, e os atos eleitorais dos últimos dois anos dão-nos algumas pistas sobre o que significa um resultado destes numa sondagem.
Embora o PS esteja, circunstancialmente, na liderança das opções de voto, existe maior agrado dos eleitores com o papel desempenhado pelo primeiro-ministro atual do que com a performance do líder de oposição. Esses valores podem ser explicados de forma simples: embora o PSD e o CDS somados não consigam hoje congregar uma maioria, ou sequer uma maioria entre os eleitores de direita e centro direita, Luís Montenegro e as opções do governo que lidera são mais agradáveis para esse eleitorado, que é hoje maioritário em todos os estudos de opinião, do que seriam aquelas de um executivo liderado por Pedro Nuno Santos. Há, além disso, um “estado de graça” que permite ao governo ser hoje mais popular do que, na sua fase final, era o executivo Costa.
Isto coloca-nos num cenário que é relativamente simples de entender: o terreno a pisar em caso de eventuais eleições antecipadas é pantanoso e ninguém parece muito interessado em experimentar fazê-lo.
Se por um lado, na coligação, a ideia de governar em duodécimos começa a deixar de ser tão indesejada quanto isso, o que implicaria usar por dois anos o OE 2024 aprovado por António Costa, isso até poderia ser um belo álibi para evitar despesa pública.
Por outro, no PS, toda a gente parece entender que em caso de eleições, e conhecidos os dados que conhecemos atualmente, o mais provável era que esta magra vitória que as sondagens indicam acabasse por se converter em derrota,à medida que os eleitores de direita se apercebessem que, ou votavam em Montenegro, ou teriam um primeiro-ministro do PS.
A política é, quase sempre, uma escolha de uma solução de compromisso que, não sendo perfeita, é aquela que naquele momento melhor serve o nosso interesse enquanto eleitores. Até porque, é fácil de entender, nunca haverá cenários perfeitos ou ideais. Já diz o ditado: o ótimo é inimigo do bom.
Neste momento, para uma larga franja do eleitorado, este não é o exato governo que queria, mas é aquele que está disposta a aguentar. Se por um lado, a pressão está do lado do PS, condenado a fazer uma oposição que não catalize uma crise política e a vitimização da AD, por outro lado estes números também deixam um recado ao Governo: o caminho é estreito e isto não é um passeio no parque. Depois da fúria dos anúncios, a obra tem mesmo de surgir.
Pedro Miguel Coelho
Profissional de comunicação