No próximo sábado, 08 de fevereiro, pelas 21:30, na Casa da Cultura César Oliveira, sobe ao palco a peça teatral O SAQUE, pelo grupo de teatro Mãos à Obra, do Núcleo Juvenil de Animação Cultural de Oliveirinha, Carregal do Sal. Depois da apresentação de “Oh Zeus”, a partir de textos de Woody Allen, o Mãos à Obra regressa a Oliveira do Hospital, desta feita com um texto do dramaturgo inglês Joe Orton. A entrada é gratuita.
The Loot, ou O Saque em português, foi estreada em 1965 no Arts Theatre de Cambridge e, como qualquer obra de ruptura, causou divisões entre os críticos, causando ódios e aclamações ao mesmo tempo. São os anos 60, uma época de revoluções e de mudanças na sociedade inglesa. Era o tempo da Swinging London, do nascimento dos Beatles, dos Rolling Stones, dos The Who, dos Pink Floyd, dos Kink. Apareciam as super modelos, as revistas de moda, a Bondmania, filmes revolucionários como Blow Up de Antonioni.
Foi neste espírito que nasce O Saque, uma feroz crítica à sociedade pós-guerra, acomodada e conservadora. Nesta obra estão identificados males profundos como a corrupção, a deslealdade e a hipocrisia de uma sociedade vivendo de falsas aparências, onde existe uma repressão muda que motiva reacções inesperadas, tão bem retratadas nos filmes de Kubrick, Laranja Mecânica e Barry Lyndon, também alvos de grandes ódios aquando da estreia.
Recentemente levada a cena por Ricardo Pais no Teatro Nacional São João, O Saque é uma peça bastante pertinente nos tempos presentes, onde uma revolução se prepara silenciosamente, incógnita e ainda por perceber.
Este é sem dúvida um excelente desafio depois da direcção de “Oh Zeus”, a partir de textos de Woody Allen. Por um lado, permite-nos uma liberdade de interpretação sobre problemas actuais, mas acima de tudo, dá-nos a oportunidade aprofundar a raiz da actual Crise, que é económica, de valores, de confiança e, de como diria Miguel Esteves Cardoso, de Desesperança.
Por outro lado, é aliciante trabalhar o ritmo e energia revolucionária de um texto que não deixa ninguém indiferente. Diálogos brilhantes, construção de personagens bastante sólidas e cenas intensas que respiram transgressão, colocando o público no abismo das suas convicções.
Estamos à beira do precipício. Voltamos para trás ou seguimos em frente num enorme salto para o vazio? Temos coragem para isso? Basta acreditar que temos asas e voar. Começar de novo.