O oliveirense Carlos Antunes, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que há mais de um ano estuda a evolução da pandemia Covid-19 no país, alertou para “o crescimento exponencial” da taxa de incidência no concelho de Oliveira do Hospital, aconselhando à “supressão dos contactos”.
Com uma incidência de 130 casos por 100 mil habitantes (à data de 2 julho), o concelho assiste à subida do número de infeções ativas, à semelhança do que se verifica um pouco por todo o país. Em declarações à Rádio Boa Nova, no habitual espaço de análise à pandemia, o especialista alertou para a elevada transmissibilidade da nova variante da Covid-19, a Delta, que é 140 vezes mais transmissível do que a variante normal e aconselhou à diminuição dos contactos. “A testagem já não está a ser solução para conter a incidência”, pelo que é preciso “atacar na supressão de contactos”. “Temos que reduzir os contactos que cada um tem e não estar à espera que o Governo ou Câmara Municipal apliquem no terreno uma medida, porque esta é uma onda que se propaga mais rapidamente”, disse o especialista.
Na Rádio Boa Nova, o especialista considerou que a vacinação não está a conseguir evitar “uma quarta vaga” da pandemia, porque “o ritmo de vacinação é muito mais lento, do que o ritmo de uma variante, que é 140 por cento mais transmissível do que a variante original”.
Carlos Antunes chega mesmo a comparar a “dinâmica” da pandemia ao grande incêndio de outubro de 2017. “Algo que antes levava muito tempo a chegar ao pé de nós, em poucas horas passou dezenas e dezenas de quilómetros. A variante Delta é 60 por cento mais transmissível do que a variante Alfa e esta já era 50 por cento mais transmissível do que a variante comum. O que quer dizer, que a carga viral, que se desenvolve no nosso trato respiratório, é dezenas de vezes superior”, comparou.
O momento atual é para Carlos Antunes, um déjà-vu. Para evitar novo confinamento, o especialista defende, tal como anteriormente, “medidas a montante”. “Nós podíamos ter parado este problema um bocadinho antes. Lisboa cidade já esteve no amarelo e no laranja e porque é que o deixámos chegar ao vermelho? O Porto cidade já esteve no amarelo e está no laranja, vamos deixá-lo chegar ao vermelho? Ou seja, vamos atuar só mesmo depois de termos um grande incêndio à nossa volta, quando nós podemos atacar e dominar o incêndio e anulá-lo? Nós já alertámos para isto em novembro, dezembro e janeiro e estamos novamente a alertar”, afirmou.
Carlos Antunes considera que o problema “está na inércia da decisão, em esperar duas semanas para tomar uma decisão”. Sesimbra foi “um exemplo extraordinária de como um autarca tomou a própria iniciativa de querer recuar e conseguiu conter. Está ali nos 350 e não tem subido. É isso que nós temos que fazer do ponto de vista das instituições e da saúde pública”, explicou.
Já do “ponto de vista individual”, o especialista entende que é “preciso atacar com a medida de saúde pública, não farmacológica, que é a proteção individual, reforçando o uso da máscara, “especialmente com máscaras de elevada proteção, elevada eficácia, que são as FP2”.
Carlos Antunes considerou ainda que, para o país atingir a imunidade de grupo, com o nível de transmissibilidade desta variante, é preciso vacinar mas de 95 por cento da população. Para isso “temos que vacinar crianças abaixo dos 12 anos”, estando já a ser estudado o impacto da vacinação nas crianças. “Porque as crianças transmitem. Esqueçamos o mito de que na escola não há transmissão. As crianças transmitem o vírus, o problema não é eles adoecerem é serem veículos de transmissão do vírus”, referiu. É o que acontece com o Sarampo, em que “temos que ter 95 por cento da população vacinada, para que o Sarampo não seja epidémico”, concluiu.
No dia em que Portugal registou , nas últimas 24 horas, mais 2436 novos casos e sete óbitos, com subida das taxas de incidência e de transmissibilidade, Carlos Antunes verifica que o país está “ num ponto de inflexão, para passar para um crescimento extremamente exponencial”. Destacou o caso da região Norte do país que “estava estável nos 150 casos dia e disparou para os 500 casos, com o Rt acima de qualquer região e com capacidade de duplicar a cada seis ou sete dias”. “A região Centro está com Rt acima de 1,3 com duplicação de casos a cada 8 dias, com incidência de 109 casos, em termos médios estará nos 200 casos diários. O país está todo numa situação idêntica”, disse o especialista.