Em terra de pastores e queijeiras, a queijaria dos Lameiras em Vila Franca da Beira mantém intacta uma tradição de família, dedicando-se há várias décadas à produção do genuíno queijo e requeijão Serra da Estrela.
“Nós aqui já vamos na quinta geração”, garante a produtora que, com a ajuda da sogra e mais alguns elementos da família, todas as manhãs moldam o famoso queijo da serra, com leite proveniente de rebanho próprio de ovelha bordaleira. “Aqui não há refrigeração, não há produtos químicos, o nosso queijo é feito apenas com o leite vindo diretamente da ordenha, com sal e cardo”, conta Paula Lameiras, para quem o “segredo” de um bom queijo Serra da Estrela está também nas “mãos”, e de preferência frias, segundo diz o povo, que o fazem.
“Tudo conta, as pastagens, a qualidade do leite, mas as voltas que lhe damos e o tempo que leva a fazer são muito importantes”, conta a ainda jovem queijeira, temendo todavia pelo futuro desta iguaria única no mundo. “Aqui em Vila Franca ainda há vários rebanhos e com certeza que a nível do concelho somos a terra onde há mais queijarias, mas não acredito que as novas gerações queiram esta vida”, avisa, receando que esta tradição tão enraizada na freguesia e em toda a região acabe, essencialmente por falta de rentabilidade do setor. “Isto é uma vida muito dura, muito presa, para depois não compensar em termos financeiros. A gente trabalha 12 e 14 horas por dia/365 dias por ano para não ver nada comparativamente com outras atividades”, considera, atribuindo esta situação à falta de valorização do único queijo português com Denominação de Origem Protegida.
Apesar dos debates e de “se falar muito de queijo Serra da Estrela o que e certo é que “nós continuamos a não vender este produto ao preço que devíamos vender para o trabalho que dá” entende Paula Lameiras, não escondendo algum “desânimo” com a falta de proteção aos produtores de queijo certificado. “É muito difícil manter a produção de queijo Serra da Estrela, desde logo porque não conseguimos refletir no preço do queijo os custos que temos com a certificação, e os anos passam e nunca ninguém mudou nada”, lamenta, não tendo dúvidas que “no dia em que as fábricas começarem a certificar vai estragar tudo”. “Mas nós, produtores do queijo DOP é que somos culpados, porque não somos unidos”, e o que acontece, segundo diz, é que “alguns produtores baixam de tal forma os preços que não paga minimamente o esforço e o trabalho que isto dá”.
Embora “sem razões de queixa” uma vez que “escoa quase tudo à porta”, Paula Lameiras não sabe dizer por quanto tempo, ela e os restantes produtores, vão conseguir resistir e manter a tradição ancestral de “manufatura” de um dos melhores queijos do mundo, pois “não compensa”, diz.