Ovinicultores queixam-se de falta de valorização do setor

Grupo de Trabalho da Assembleia da República visitou explorações na região da Serra da Estrela e prometeu dar alguns contributos para a promoção da fileira.

Os ovinicultores da região da Serra da Estrela queixam-se da falta de valorização do setor, com reflexos na baixa rentabilidade das suas explorações.

Os produtores receberam ontem a visita do Grupo de Trabalho da Assembleia da República para o setor leiteiro e aproveitaram para partilhar velhas preocupações aos deputados que estiveram no terreno, nomeadamente as questões relacionadas com a carga burocrática que é imposta às explorações e o “congelamento” dos preços do leite, que segundo dizem, é praticamente o mesmo de há 20 anos, enquanto os custos de produção não param de subir. Dificuldades que não são novidade para técnicos e dirigentes da ANCOSE, Associação Nacional de Criadores de Ovinos Serra da Estrela, cujos quatro mil associados sentem diariamente o peso destes problemas.

A acompanhar esta visita a uma exploração em Vila Franca da Beira, o técnico Rui Dinis mostrou-se apreensivo com o futuro de um setor que tem vindo a definhar, tendo passado, na última década, de 120 mil para 80 mil animais, o que corresponde a uma diminuição de 30% do efetivo. “Constatamos que não há gente nova a ingressar nesta atividade”, referiu, lamentando que “independentemente dos vários quadros comunitários”, a fileira não tenha sido devidamente valorizada.

Dificuldades sentidas pelos pastores e produtores de queijo Serra da Estrela. Com ovil certificado em Vila Franca da Beira, João Lameiras que, tem uma longa tradição familiar ligada à pastorícia, queixa-se da “muita burocracia” que teve de enfrentar para legalizar o ovil, mas também dos preços do leite, que não acompanharam a subida dos custos de produção. “Há 20/30 anos já pagavam ao mesmo preço”, lamentou o produtor, que alerta para a necessidade de valorização de um produto que é único – o queijo Serra da Estrela, junto dos consumidores. “As pessoas ainda não conseguem diferenciar muito bem o verdadeiro queijo da Serra da Estrela do outro” aludiu João Lameiras, que é já um dos raros produtores jovens a seguir a tradição familiar ligada a esta atividade.

A integrar o grupo de trabalho da Assembleia da República, o deputado Maurício Marques mostrou-se sobretudo preocupado pelo facto de estar em causa um “um produto de inegável qualidade” que é o “nosso queijo Serra da Estrela” que “deve ser protegido”, através da “diferenciação do preço”. “Temos de promover e valorizar este produto que é o nosso cartão de visita”, referiu o deputado, defendendo uma nova “rotulagem” do queijo para que “o consumidor saiba o que está a comprar”. “É uma das medidas que o grupo vai propor à Assembleia da República, tal como a eliminação da burocracia em torno da ovinicultura”, garantiu, julgando que o queijo Serra da Estrela “tem de se diferenciar do «tipo serra» pelo preço”, pois só assim se consegue “dar rentabilidade económica” às explorações.

Também o deputado António Ventura, coordenador do Grupo de Trabalho para o setor, pode constatar, de viva voz, os constrangimentos e dificuldades dos produtores, e não teve dúvidas em reconhecer a necessidade de valorização de uma fileira que é o “BI” de uma região. “Os produtores têm papéis a mais do que precisam, há uma burocracia crescente que só prejudica a atividade e afasta novos produtores”, admitiu o deputado, que promete levar as preocupações da fileira até ao Parlamento Europeu, para que Bruxelas possa contribuir também para a valorização do setor.

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