Avô veste-se à “época” para recrear 500 anos do foral manuelino

Uma das mais antigas vilas da região inicia hoje um vasto programa comemorativo que termina no domingo com um cortejo medieval.

A vila de Avô inicia esta quinta feira um vasto programa comemorativo os 500 anos da atribuição do foral manuelino, envolvendo, durante os próximos quatro dias, praticamente toda a população e coletividades locais.

Revestido de grande cariz histórico e cultural, o evento vai tentar recrear a “época” em que um dos mais antigos concelhos da região renovou o seu foral – o primeiro tinha sido atribuído em 1187 – com um conjunto de iniciativas de rua que pretendem demonstrar a “grandiosidade” e a importância que Avô teve noutros tempos. “Quisemos envolver toda a gente, as várias entidades existentes na freguesia, para provar que Avô não só tem um passado histórico que deve ser assinalado, como tem atualmente um forte movimento socio cultural”, lembra o tesoureiro da Junta de Freguesia, António Antunes, em substituição do presidente demissionário.

A partir de hoje a vila avoense veste-se a rigor para receber as comemorações, organizadas em parceria com o Município de Oliveira do Hospital, cujo arranque está marcado para as 21 horas no Castelo onde vai ter lugar uma palestra sobre a história dos forais que será seguida de uma atuação da Tuna e Cantares de Avô. Na sexta feira, o principal palco da festa continua a ser o castelo de Avô, com mais um conjunto de palestras sobre os forais e uma atuação do Rancho folclórico “As Camponesas do Alva”.

Durante os quatro dias de comemorações, o “centro” da vila, mais concretamente o jardim Brás Garcia de Mascarenhas, é o local escolhido pela organização para a realização de uma feira medieval, que terá pessoas trajadas à época a vender produtos típicos da freguesia, nomeadamente algumas das suas iguarias e especialidades gastronómicas como o peixe do rio. Sábado será um dia ainda mais preenchido começando logo pela manhã com uma arruada pela Filarmónica Avoense, seguindo-se, da parte da tarde, o lançamento do livro do autor avoense e atual presidente da Assembleia Municipal, Rodrigues Gonçalves, intitulado “O Foral de Avô de 1514 e o seu Contexto Histórico”.

A noite também promete ser animada com uma “reedição” do desfile da marcha popular de Avô que participou no cortejo de Marchas Populares do concelho, a que se vai somar ainda a atuação do Coro Polifónico do Alva. Para domingo está reservado o ponto alto da festa, com um cortejo medieval, que segundo António Antunes, se pretende “representativo” do clero, nobreza e povo, envolvendo vários figurantes e atuações musicais. O cortejo deverá sair da sede do Lar de Nossa senhora da Assunção e percorrer as ruas da vila, terminando com a leitura da carta de foral de 1514, em frente aos antigos paços do concelho, atualmente sede do posto médico de Avô. À noite, e para terminar em “beleza” a Junta de Freguesia agendou um jantar convívio no Centro Cultural, Dr. Vasco Campos, que será seguido de um pequeno fogo de artifício na praia fluvial da Ilha do Picoto.

Para assinalar a efeméride, 500 anos depois de D. Manuel ter renovado a “autonomia” ao povo avoense através de uma nova carta de foral, a Junta de Freguesia vai ainda descerrar uma placa alusiva às comemorações. E se há 500 anos atrás Avô foi uma das terras mais importantes da região, estimando-se que tivesse na época uma população na ordem dos 800 habitantes, o autarca António Antunes não deixa de constatar, com alguma mágoa, que a vila tenha perdido “vida”, nas últimas décadas, e que hoje tenha apenas metade da população que tinha no “tempo da monarquia”. “E a tendência é para diminuir, não é só aqui, é em todo o interior”, lamenta, não tendo dúvidas que a falta de bons acessos “tem-nos prejudicado muito”, e o que acontece é que “tirando o verão isto aqui está morto”, observa. A desertificação é de tal modo que “hoje eu saio à noite e em vez de encontrar pessoas, encontro raposas e outros animais selvagens dentro da vila”, relata o tesoureiro da Junta, acreditando que, dentro de poucos anos, se nada for feito, estas povoações estarão invadidas pela “bicharada”.

Avô e o concelho veem publicado mais um documento para a sua história

Um dos momentos altos das comemorações será o lançamento do livro “O Foral de Avô de 1514 e o seu Contexto Histórico” da autoria do avoense e atual presidente da Assembleia Municipal de Oliveira do Hospital, Rodrigues Gonçalves. Um documento “histórico” que tem, segundo o autor, a particularidade de fazer aquilo que nunca foi feito que foi “interpretar e clarificar o que é o foral de Avô em concreto”.

Com dois capítulos dedicados à história dos forais manuelinos, Rodrigues Gonçalves reserva a última parte do livro a Avô, “descascando” o seu foral de 1514, analisando-o parágrafo a parágrafo, num trabalho inédito que tem como objetivo dar a conhecer as gerações atuais e aos vindouros, o sentido do documento outorgado por D. Manuel e os direitos e deveres que são conferidos à vila e aos seus habitantes. “É um documento inédito que dá a conhecer o que o foral dizia e que ninguém conseguia perceber”, afirma o autor, realçando a importância da vila na região, como prova a atribuição do seu primeiro foral “no início da nacionalidade”. “Este foral mantém as mesmas prerrogativas, ou seja, mantém as liberdades todas que o povo tinha, o que não acontecia noutros concelhos vizinhos, onde não tinham estatuto de pessoas livres”, conta Rodrigues Gonçalves no livro que acaba de editar e que é assumidamente mais um contributo para a história de Avô e do concelho oliveirense.

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