“Estado” da Saúde agrava-se em Oliveira do Hospital

Falta de médicos obriga ao encerramento de cinco extensões de saúde no concelho.

Vai de mal a pior o estado da saúde no concelho de Oliveira do Hospital, devido à falta de médicos para assegurar o serviço nas extensões de saúde nas freguesias.

Esta situação ditou desde o início da semana o encerramento, ao que tudo indica, temporário, de cinco postos médicos, já que, de acordo com a informação do Centro de Saúde afixada à porta destes serviços, estes não têm sequer data prevista para voltarem a funcionar, devendo regressar com as consultas em “data a designar”.

Também no Centro de Saúde da cidade, a marcação de consultas e outros atos médicos em regime de ambulatório estão igualmente sujeitos a “constrangimentos” em virtude da escassez de clínicos, por motivo de férias, estando a ser dada prioridade ao Serviço de Atendimento Permanente (SAP). Apesar da falta de recursos humanos não ser nova e de já ter colocado este serviço à beira da rutura, noutros períodos igualmente críticos do ano, como férias e datas festivas, a situação voltou a agudizar-se nos últimos dias, ditando o encerramento das extensões de saúde de Nogueira do Cravo, uma das unidades do concelho com mais utentes inscritos, Aldeia das Dez, Alvoco de Várzeas, Avô e Santo António do Alva.

Dos seis médicos colocados atualmente no Centro de Saúde, dois encontram-se de férias, sendo que os quatro que estão ao serviço tiveram indicações para assegurar prioritariamente o serviço de urgências, com prejuízo das extensões de saúde e das suas populações maioritariamente idosas. No Centro de Saúde os utentes são também avisados de que “a marcação e realização de consultas em ambulatório sofrerão constrangimentos e alterações no seu habitual funcionamento”, mantendo-se apenas “os atendimentos administrativos em horário normal para a recolha de receituário, informação, outros assuntos ou esclarecimentos necessários”.

A cada vez maior escassez de profissionais médicos no concelho, que leva a que atualmente mais de metade da população, ou seja mais de 10 mil pessoas, se encontre sem médico de família, levou no passado dia 24 de julho, largas centenas de oliveirenses a sair à rua, numa marcha lenta apoiada pelo poder político autárquico, que considera a situação vivida em Oliveira do Hospital nesta área, uma vergonha. Inconformado com o problema, que afeta sobretudo centenas de idosos e doentes crónicos no seu concelho, o presidente da Câmara, José Carlos Alexandrino, prometeu, aliás, não ficar por este protesto, enquanto os cuidados de saúde locais continuarem doentes como têm estado.

Alexandrino lamenta colapso da saúde em Oliveira do Hospital e admite comparticipar consultas no privado

O presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, José Carlos Alexandrino, já manifestou a profunda preocupação do executivo camarário a que preside com a situação de rutura a que, mais uma vez, chegaram os serviços de saúde do concelho de Oliveira do Hospital.

Numa carta enviada ao presidente da Administração Regional de Saúde de Coimbra (ARS-C), José Manuel Tereso, o autarca responsabiliza aquele organismo do Ministério da Saúde por todos os prejuízos causados à saúde dos cidadãos de Oliveira do Hospital, em consequência do encerramento que ocorreu no dia 8 de setembro, das extensões de saúde de Aldeia das Dez, Alvoco das Várzeas, Ervedal da Beira, Lagares da Beira, Nogueira do Cravo, Santo António do Alva e Seixo da Beira.

A Câmara Municipal lamenta o facto de ter sido informada do encerramento daquelas extensões de saúde, até “data a designar”, pela comunicação social, “por motivo de falta de recursos humanos (médicos) no Centro de Saúde de Oliveira do Hospital e por ser considerado prioritário o Serviço de Atendimento Permanente (SAP) “ às extensões de saúde agora encerradas.

Na carta dirigida ao presidente da ARS-C, o presidente da Câmara Municipal considera inadmissível que os serviços médicos do Centro de Saúde responsável pela assistência médica a mais de 22 mil utentes estejam a ser suportados por apenas quatro clínicos.

Solidário com a revolta e a angústia vividas por toda uma população que está desprotegida, José Carlos Alexandrino sublinha que este retrato angustiante era evitável, ao passo que também recorda que, durante cerca de 12 meses, a Câmara Municipal de Oliveira do Hospital alertou para a possibilidade de se chegar a esta dramática situação, apresentando propostas concretas com soluções em diversas reuniões de trabalho.

O presidente da CMOH refere também que no dia 9 de abril, reuniu com o Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, tendo-lhe proposto um projeto para evitar o colapso dos serviços, que foi acolhido com entusiasmo por aquele membro do Governo.

A questão, sublinha o autarca, é que depois dessa reunião nunca mais foi possível estabelecer qualquer contacto com aquele membro do Governo, pelo que José Carlos Alexandrino diz não tolerar que por meros interesses político-partidários se tenha boicotado um projeto, reconhecido como viável e inovador, sem se perceber que o direito dos cidadãos no acesso à saúde, consagrado na Constituição da República Portuguesa, sobrepõe-se aos interesses mesquinhos de qualquer partido político.

Autarca admite comparticipar consultas no privado

Perante este cenário dramático e com a perspetiva de minimizar os danos provocados pela situação – em Oliveira do Hospital, existem também mais de 10 mil pessoas sem médico de família –, o presidente da Câmara admite disponibilizar recursos financeiros para comparticipar aos cidadãos que estão desprotegidos a consulta privada de clínica geral e familiar em funcionamento no Hospital da Fundação Aurélio Amaro Diniz.

No entanto, o autarca explica que, até que a situação fique resolvida pela via da há muito prometida colocação de mais médicos em Oliveira do Hospital, esta resposta de emergência da Câmara Municipal terá sempre um caráter provisório, porque essa é uma competência do Governo de Portugal.

Perante o facto de o Centro de Saúde de Oliveira do Hospital estar mais uma vez à beira do colapso, José Carlos Alexandrino exige àquele organismo do Ministério da Saúde a tomada de medidas urgentes e imediatas, manifestando, por último, uma palavra de reconhecimento e apreço pelo esforço e dedicação de todos os profissionais do centro de saúde que – conforme sublinha – “são o que resta da dignidade, qualidade e proximidade do Serviço Nacional de Saúde”.

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