O Município de Oliveira do Hospital celebrou o 25 de abril, numa cerimónia solene onde as diversas forças politicas com representação autárquica, recordaram a luta para derrubar a ditadura, as conquistas dos últimos 50 anos, e as ameaças “populistas” que emergem por todo o lado, e o concelho não é exceção.
Uma cerimónia que exaltou todos quantos se sacrificaram em nome da democracia e da liberdade, onde o presidente da Câmara Municipal, José Francisco Rolo, fez questão também de lembrar e agradecer o trabalho de todos os autarcas desde as primeiras eleições livres. Fazendo uma retrospectiva dos últimos 50 anos, o edil confessou-se orgulhoso do concelho que lidera :“vivo, dinâmico e em franco desenvolvimento” e, acima de tudo, “saudável do ponto de vista democrático e em paz”. “Somos um concelho inclusivo e não é por acaso que hoje temos cidadãos de Israel e do Libano a procurarem para viver aqui”, observou, garantindo que a ação social e nomeadamente o apoio às familias continua a estar no topo das “nossas prioridades”.
Neste contexto, não escondeu “um acontecimento triste” com a notícia do encerramento da mais antiga e emblemática empresa de confeções do concelho – a IRSIl, que fechou, este mês, lançando 180 pessoas no desemprego. “Neste momento complexo e dramático queria deixar também a nossa solidariedade com estas trabalhadoras”, afirmou o presidente do Município, garantindo estar na “linha da frente para encontrar uma solução” e de “tudo fazer para tentar encontrar um novo rumo para estes trabalhadores” que, durante quase seis décadas, fizeram desta fábrica uma unidade de referência no setor das confeções. Para estes pediu uma salva de palmas e, aproveitou para deixar uma palavra de incentivo, a todos os empresários, pelo “papel decisivo” que têm tido no crescimento do concelho
Em dia de celebrar a luta pela liberdade e igualdade, Rolo destacou o investimento municipal nas várias áreas, da habitação social, onde estão previstos 3,5 milhões de euros de obra, à educação, onde em breve se prepara para inaugurar o maior investimento municipal de sempre na ordem dos 6,5 milhões de euros, no novo centro educativo, passando pela saúde, com a requalificação do centro de saúde, apesar de reconhecer que este é um setor que “não está bem” e que é preciso continuar a trabalhar para melhorar a qualidade da prestação dos cuidados, pois “não há saúde sem médicos”. “Celebrar abril é um trabalho diário” considerou o edil, pedindo para “não nos deixarmos intimidar com os populismos que emergem por toda a Europa”.
Num balanço do que foram os últimos 50 anos de vida em democracia, o presidente da Assembleia Municipal, José Carlos Alexandrino, falou das conquistas, e deu o exemplo “simples” da evolução da taxa de mortalidade infantil, mas também observou que “o 25 de abril não resolveu os problemas todos”. “Os poderes centrais ainda precisam de olhar mais para o país como um todo”, constatou o ex deputado do PS, lamentando que em Oliveira do Hospital “abril ainda não se tenha cumprido”, porquanto “ainda temos uma saúde débil e um IC6 por concluir”.
Do lado do PCP, João Abreu recordou, emocionado, a coragem dos capitães de Abril, e de todos quantos lutaram contra o fascismo, mas considera que continua a fazer falta um Estado que dê respostas “aos interesses da maioria e não de uma minoria”.
Sara Marques foi a voz “inconformada” do CDS-PP na sessão solene comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, falou dos esquecidos e confessou-se “injustiçada” perante os jovens que vivem nos centros urbanos. Falou dos desafios do interior e do concelho, nomeadamente a nível demográfico, onde “temos freguesias a lutar pela sobrevivência”, a nível sócio económico, em que o salário médio está 300 euros abaixo do salário médio nacional e onde só 10% dos jovens que concluem a formação na ESTGOH ficam em Oliveira do Hospital e ainda o desafio a nível florestal, em que a situação, segundo descreveu, está novamente no “limite”.
Do PSD, Francisco Rodrigues recordou também ele o país antes de Abril de 74 “reprimido e isolado do resto do mundo” e o progresso atingido 50 anos depois da revolução, que deve “interpelar-nos para dar aos jovens um futuro com oportunidades e sem amarras”.
Simbolo vivo de Abril, e primeiro presidente da Comissão Instaladora da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, António Campos foi o “convidado de honra” do PS. O ex governante e antigo eurodeputado socialista manifestou-se, desde logo, preocupado com a “continuação da democracia e da liberdade”, mas convicto da evolução que o país conheceu nestes 50 anos, sobretudo a partir do momento em que entra na então CEE. “Recuperámos um país do pé descalço, senti o que era viver num país de miséria”, recordou António Campos, para quem é “muito fácil perder a liberdade” e “ainda mais dificil conquistá-la”. Referia-se às ameaças que representam, neste momento, a extrema direita que “se alimenta do caos para chegar ao poder” e os “especuladores da palavra e do pensamento” que são autênticas “vedetas” contra a democracia.
“Evoluimos em tudo, menos na mentalidade”, lamentou ainda, concluindo que oferecemos “tudo aos jovens” menos “a dar valor à liberdade”.
A sessão solene foi pontuada por vários momentos musicais alusivos às comemorações, a cargo de Luis Antero e David Oliveira, pela poesia de Lucinda Maria, e a intervenção do pedagogo e artista Álvaro Assunção.