Metade da população desempregada tem menos de 35 anos

Jovens representam grande fatia do desemprego no concelho

São uma multidão heterogénea, forçada ao pior projeto de vida das últimas décadas e a uma luta permanente, uma vez que a maioria – grande parte das vezes após ter investido afincadamente na sua formação – se vê impedida de fazer o que para as gerações anteriores sempre foi um direito/dever adquirido: trabalhar. Uma geração que acaba, gradualmente, por deixar de parte os seus projetos pessoais, pois o trabalho ou não existe ou é precário e pode acabar a qualquer momento.
Dos 1051 desempregados inscritos na extensão do Centro de Emprego e Formação Profissional de Oliveira do Hospital [dados de agosto de 2012], 433 têm menos de 35 anos. No concelho, o desemprego afeta maioritariamente as mulheres e os indivíduos com escolaridade correspondente ao 3º ciclo ou ensino secundário. Embora os níveis nacionais de desemprego tenham vindo a subir, segundo fonte do Gabinete de Inserção Profissional, criado pelo município oliveirense em parceria com o IEFP, em setembro ter-se-ão registado 3 novos empregados, em consequência de programas de incentivo ao emprego, como a medida Estímulo 2012.
Sandra Coelho, 20 anos, terminou há dois anos o ensino secundário e é, desde então, presença assídua no Centro de Emprego de Oliveira do Hospital. “Regra geral, passo por lá todas as semanas, em busca de novas ofertas de emprego”, afirma. Contudo, Sandra confessa que é com “grande desilusão” que acaba por sair, grande parte das vezes, do Centro de Emprego, onde “as ofertas exigem experiência profissional que um jovem, em início de carreira, não pode ter e já há muito deixaram de satisfazer a procura”. A jovem, desempregada há um ano e meio, viu-se privada de seguir o ensino superior devido aos baixos recursos do seu agregado familiar e faz, em tempo de crise, contas à vida. Sem direito a subsídio de desemprego, reconhece que é a família a sua grande “salvaguarda”. Situação que não a conforta nem tão pouco conforma, uma vez que, como explica, “gostava de ter uma vida independente e de constituir família sem receio do futuro”.

“Trabalhar para aquecer”

Já Filipe Oliveira, 27 anos, prefere chamar ao instituto que assume a missão de auxiliar o cidadão na procura ativa de emprego “Centro de Desemprego”. Ao contrário de Sandra, Filipe já não pode contar com a retaguarda parental: vive com a namorada – também desempregada – num apartamento alugado, lidando mensalmente com a preocupação de conciliar o pagamento da renda, contas de água e luz com a alimentação diária. Desempregado há mais de 3 anos, este jovem vai buscar os seus parcos rendimentos a um trabalho em part-time enquanto técnico de montagem de palcos de um conhecido grupo musical da região. A namorada vai fazendo horas enquanto empregada doméstica. “Ter filhos é um projeto adiado”, comenta Filipe.
Por seu lado, Miguel Veloso personifica aquela que muitos teóricos têm vindo a descrever como a geração “mais qualificada e educada de Portugal”. Com 25 anos, Miguel é mestre em Antropologia Social e Cultural pela Universidade de Coimbra. Para além do part-time como empregado de balcão que conseguiu manter ao mesmo tempo que terminava os estudos, o único posto de trabalho fixo que este antropólogo conheceu foi o de comercial para uma empresa de televisão por cabo, onde ganhava pouco mais do que o ordenado mínimo. Desempregado há 5 meses, Miguel brinca com o drama e consegue soltar um sorriso quando lhe perguntamos se já tentou arranjar emprego na sua área, afinal, qualificações não lhe faltam. “Sei que não vale a pena, é uma perda de tempo, ainda assim todos os dias respondo a anúncios pela Internet, já enviei centenas de currículos”, afirma. Profundamente revoltado com a regra do “fator C”, este jovem vai mais longe e admite mesmo que “em muitos casos, o facto de ter uma licenciatura e um mestrado só prejudica, pois, nos dias que correm, grande parte dos postos de trabalho qualificados só estão reservados para alguns, sobrando os outros, onde a mão de obra não qualificada é sempre privilegiada”.
O jovem antropólogo garante não ter medo de trabalhar, estando “disposto a tudo para obter estabilidade na vida”. “Sou português com muito orgulho e não gostaria de me afastar do país que me viu nascer, mas emigrar é uma opção que não descarto”, afirma Miguel.
Em agosto, Portugal apresentava uma taxa de desemprego jovem de 35,9 por cento, sendo que na Zona Euro a mesma taxa se situava nos 22,8 por cento. Espera-se que, no ano de 2013, estes números venham a aumentar, pelo que o município oliveirense tem vindo a reforçar a sua resposta nas várias situações de carência económica e ocupacional sentidas não apenas pelos jovens, mas por todos os estratos sociais, com grande enfoque na vertente da empregabilidade, recorrendo, para tal, a programas como o “AtivosSociais – Programa de Apoio e Integração Social”, que já criou 15 postos de trabalho.
Carolina Henriques

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