“O Origens está a crescer e com ele cresce a cultura dos que o visitam”

Já foi há cinco anos que os jovens da Liga de Travanca de Lagos fizeram a primeira tarde de jogos tradicionais. Estavam longe de imaginar que seria o início de um festival cultural em contexto rural, com a notoriedade que o ORIGENS já conquistou na região.

Travanca de Lagos, nos passados dias 8, 9 e 10 de maio, recebeu milhares de pessoas. O motivo da visita foi a extensa e variada programação do ORIGENS – Festival Cultural organizado pelos jovens da Liga de Iniciativa e Melhoramentos local.

O festival começou na Sexta-feira, com uma Instalação de “Imagens e Sons de Travanca de Lagos”, no Lagar da Ponte do Rio Cobral, já inativo há 20 anos. As imagens ficaram a cargo do jovem fotógrafo “da casa”, Tiago Cerveira e os sons da responsabilidade do paisagista sonoro, Luís Antero. Estes artistas locais realizaram um trabalho de documentação e arquivo multimédia que foi apresentado naquele “ponto de encontro da memória coletiva, da arquitetura rural e da etnografia”.  A noite de abertura foi longa com um DJset de Folk e Eletrónica nacional, por Luís Antero. Apareceu juventude de vários pontos do concelho.

Poucas horas de descanso e o sol, de sábado, raiou.  Durante a tarde foram chegando os expositores/artesãos. A Feira/Mostra de Artesanato e Gastronomia já contou com 30 expositores selecionados pela qualidade dos produtos e genuinidade.

Às 20h começaram a servir os primeiros jantares, a Sopa Origens foi a novidade gastronómica deste ano.  “Aprovada” dizem os que a provaram ao som do Rancho Folclórico Estrelas da Manhã, este grupo etnográfico de Andorinha, freguesia de Travanca de Lagos, abriu a programação musical deste segundo dia de festival. Seguiu-se a atuação do Grupo de Fado de Coimbra “Cantus do Rio” que trouxe as Capas Negras e o saudosismo dos que passaram pela cidade dos estudantes.  A festa aqueceu os muitos forasteiros quando subiram a palco os “Fonte da Pipa”, um grupo de música tradicional portuguesa que se divertiu e fez divertir. A noite acabou no palco dois, um espaço mais intimista, com a atuação do multi-instrumentista, músico e produtor de Coimbra, Luís Peixoto. Do cavaquinho à sanfona, combinados com elementos de eletrónica dançáveis e projeção vídeo, este artista fez com que o público pedisse encore, já perto das 4 horas da manhã.

Passadas 5 horas, começou o terceiro dia.  Às 10 h, já as Pifaradas de Álvaro Pessoa se ouviam e teve início o “Passeio de bicicletas, à antiga”, contou com dezenas de participantes trajados a rigor. À mesma hora saiu o grupo de caminhantes para o “Passeio Interpretativo”, uma aventura pela freguesia com guias especializados (Rui Marques-Arqueólogo e Hélio Carvalho-Técnico Superior de Ecoturismo), que deram as explicações técnicas e histórias dos vários pontos de interesse espalhados por este território. Junto ao meio-dia já cheirava a “Torresmos à moda da Beira” por toda a aldeia. O almoço foi servido e começava a tarde de jogos tradicionais.  Depois da atuação do Rancho Folclórico e Cultural de Lagares da Beira veio o momento alto do dia, a Corrida dos Púcaros. Este ano houve uma surpresa para os mais novos: habituados apenas a apanhar as guloseimas que caíam dos púcaros partidos pelos mais velhos, foram presenteados com uma ronda do jogo só para eles. Pegaram no pau e na bicicleta e com muito entusiasmo proporcionaram gargalhadas entre miúdos e graúdos.

O Origens, contou com Teatro de Rua e ainda com a pintura de um Mural Temático pelo artista plástico, Paulo Ribeiro. A fachada lateral da Escola Primária ganhou vida com a representação de uma fotografia tirada em Travanca de Lagos há mais de 40 anos, que foi o cartaz oficial deste ano. O recinto contou ainda com a Mostra Animal (Galinhas, Patos, Ovelhas, Coelhos, o Porco “Torresmo” e a quarentona Burra “Carriça”). Também houve Mostra de Alfaias Agrícolas, das charruas ao carro de bois, havia peças, já em desuso, por todo o festival.

“Travanca de Lagos trajou à moda antiga e saiu à rua.  De ano para ano, o Origens está a crescer e com ele cresce a cultura dos que o visitam. É este o objetivo do festival: no presente, preparar o futuro, com a cultura do passado. Queremos envolver todas as faixas etárias e culturais. Daí a vasta e diversificada programação. Este festival está a crescer a olhos vistos.  Realizamos todos os eventos com o coração e o sucesso destes, tem sido a moeda de troca” adianta Tiago Cerveira, diretor do festival.  Já Pedro Marques, Presidente da Liga de Travanca de Lagos está “muito feliz com tudo o que temos alcançado. Tivemos a sorte de juntar um grupo de jovens desta aldeia com um sentido de missão incrível e difícil de encontrar. Se Travanca de Lagos voltou a estar no mapa, por bons motivos, deve-se a este grupo fantástico. O Origens é mais um dos muitos eventos que fazemos para servir e não para nos servirmos. Logicamente, sozinhos jamais conseguiríamos, contamos sempre com as preciosas parcerias e apoios institucionais. Mas também trabalhamos muito para os merecer. Balanço extremamente positivo. Já estamos a pensar no Origens 2016” remata com um sorriso.

A vereadora da Cultura do Município de Oliveira do Hospital, Graça Silva disse que “o origens é um sucesso que está para ficar. O mérito é deste grupo de jovens que conjuga esforços e consegue um festival extraordinário”. Já o Presidente da Freguesia de Travanca de Lagos, António Soares regozija-se por “nestes três dias, Travanca de Lagos foi o centro das atenções do concelho, da Beira Serra e da região Centro de Portugal, por bons motivos. Aqui se cruzaram várias gerações e se receberam bem os visitantes. O Origens tem todas as condições para continuar porque este grupo de jovens tem provado que é possível, com poucos recursos, fazer muito.”

Nuno Santos, Presidente da OHsXXI disse que o Origens é “provavelmente a celebração mais genuína da nossa identidade rural. O cuidado aplicado às escolhas da animação da festa, o orgulho no património material e principalmente imaterial da sua aldeia e o espírito de camaradagem da Liga de Travanca de Lagos fazem-nos sentir orgulhosos por participar como parceiros, mais uma vez, neste festival.”

A entrada foi gratuita em todas as atividades e concertos. A Liga de Travanca de Lagos contou com a parceria da OHsXXI – Associação Cultural e Multimédia de Oliveira do Hospital e com o apoio da Junta de Freguesia de Travanca de Lagos, Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, ADI Tábua e Oliveira do Hospital e Secção do Pedal do Clube Caça e Pesca de Oliveira do Hospital.

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