Queijo Serra da Estrela em risco depois dos incêndios

Mais de três mil ovinos e caprinos morreram e poderá haver pelo menos mais dois mil animais ameaçados só em Oliveira do Hospital.

Pelo menos 3 mil ovelhas e algumas cabras morreram no concelho de Oliveira do Hospital, devido ao fogo, colocando em risco um dos ex libris gastronómicos desta região serrana que é o seu queijo Serra da Estrela.

Veterinário Municipal e representante da Confraria do Queijo Serra da Estrela, Pedro Couceiro, fala de um “cataclismo” que só na zona de Oliveira poderá atingir mais de 50% do efetivo animal de ovinos e caprinos. “Ainda não sabemos, mas números redondos podemos perder entre 5 a 6 mil animais”, porque “há aqueles que estão doentes por queimaduras e muitos por inalação de gases tóxicos” e que poderão perecer nas próximas semanas, adianta o veterinário oliveirense, que apesar da situação estar muito “complicada” na região Demarcada do Queijo Serra da Estrela, espera que esta “maravilha” não esteja em risco. “É o fenómeno que mais põe em causa o queijo DOP, não só por causa dos animais que se perderam e que se vão perder, mas porque não têm alimento.

Os pastos arderam completamente e sem pasto, sem alimentos secos não há leite e sem leite não há queijo”, constata o representante da Confraria do Queijo Serra da Estrela, deixando o apelo aos produtores para futuramente terem cuidados redobrados com a alimentação dos animais, pois poderão surgir “problemas nutricionais” que podem colocar em risco o efetivo que sobreviveu à tragédia do dia 15.

Com o número de animais e de rebanhos reduzido a metade, Pedro Couceiro espera, todavia, que este não seja o momento para desistir e que, pelo menos, os mais novos “com a “ajuda de todos”, tenham “coragem” de continuar com esta atividade, já que em relação aos mais idosos tenho alguma “dúvida”, diz. “ Chegou o momento dos responsáveis entenderem que isto é uma atividade fundamental para a região”, considera, deixando o apelo às entidades competentes para preservarem esta “pérola” gastronómica, já que “é das poucas coisas que temos para oferecer”. E se “a maior parte” dos animais apanhados pelas chamas são ovinos da raça bordaleira e de outras variedades autóctones, essenciais para assegurar a produção do Queijo Serra da Estrela com Denominação de Origem Protegida, os fogos que assolaram no passado dia 15 o concelho oliveirense mataram ainda cerca de 5.000 aves, em capoeiras domésticas e pequenas explorações, numa “estimativa provisória” que inclui mais de mil perdizes.

Produtores desanimados garantem que sem ajudas “não vai ser possível continuar”

Conhecido produtor de queijo Serra da Estrela, Paulo Rogério, com queijaria na Quinta da Cobrançã em Oliveira do Hospital, foi um dos mais afetados pela catástrofe do dia 15.

Surpreendido com a violência com que as chamas chegaram à sua exploração, o pastor salvou a casa e a queijaria, mas tudo o resto ardeu: mais de metade do efetivo composto por 300 ovinos, vedações, alimentos que tinha armazenados, abrigos dos animais, alfaias agrícolas, viaturas, deixando a exploração reduzida a cinzas e a produção de queijo e requeijão seriamente comprometida. “A produção da queijaria está praticamente parada”, conta o pastor, que desde o fogo se limita a produzir pouco mais de meia dúzia de requeijões por dia, quando nesta altura já “estávamos a arrancar em força”, e colocar largas dezenas de queijos e requeijões no mercado.

Ainda sem conseguir recuperar do pesadelo do dia 15, Paulo Rogério, encara o futuro com algum pessimismo e diz mesmo que se não houver ajudas “não vai conseguir sobreviver”, e muito menos reerguer-se das perdas. “Estimo ter perdido, por baixo, 100 mil euros, mas como nos próximos meses não vamos ter produção, não são 100 mil, são mais 50 mil ou mais”, garante o produtor oliveirense, cuja desolação é partilhada nesta altura por muitos outros produtores de queijo Serra da Estrela, que sentiram na “pele” a fúria de um fogo que lhes levou parte de uma vida de trabalho.

Exit mobile version