Paulo e Cláudio Guerra não escondem a “revolta” que sentiram na noite do incêndio mas decidiram reerguer a empresa que ficou reduzida a escombros

Empresários não baixaram os braços e quatro meses depois já tinham retomado a laboração

Foi a empresa de Oliveira do Hospital com prejuízos mais elevados (avaliados em 15 milhões de euros), provocados pelo grande incêndio de 15 de outubro de 2017, mas as “cinzas” a que ficou reduzida não apagaram a vontade dos empresários, Paulo e Cláudio Guerra, de continuar a “luta”, ou melhor dizendo, a “guerra” pela manutenção do negócio de família, fundado pelo pai, há 52 anos.

“Nos dias seguintes já estávamos a reunir com os trabalhadores e à procura de máquinas para podermos comprar”, recorda o irmão mais novo, Cláudio, responsável pela área de produção da fábrica de passamanarias.

O engenheiro têxtil foi talvez o primeiro a aperceber-se que a fábrica ia “toda embora”, já que o irmão e o pai não se encontravam em Oliveira nesse dia e também não conseguiram chegar a tempo porque as estradas estavam todas cortadas, recebendo apenas algumas informações à distância.

Quando soube, “fiquei sem chão”, lembra Paulo Guerra, não escondendo a “mágoa” com a “inexistência” de “meios” no local. “O que mais nos choca é que nem sequer tentaram” porque “a certa altura podia-se ter salvaguardado o escritório que era o coração da empresa”, refere o gestor, passados cinco anos, e já a laborar na renovada fábrica na zona industrial, onde se encontram próximos de atingirem a capacidade produtiva que tinham antes do incêndio.

“Estamos a 80% mas o nosso objetivo é chegar aos 100%”, garantem, lembrando que apesar do financiamento de 85% às empresas, através do programa REPOR, ter funcionado “bem” e com “celeridade”, o “nosso investimento foi muito superior”, explica o responsável financeiro da empresa.

“Perdemos 15 milhões, investimentos 10 milhões e recebemos 5 milhões”, resume, dando a dimensão dos números da recuperação da J. Guerra. “Valeu-nos o nosso pai ter economizado para andar à frente com o dinheiro, antes dos apoios chegarem”, adianta ainda Cláudio, lembrando que o potencial produtivo da empresa está praticamente recuperado, apesar de ainda haver alguns produtos que não foi possível voltar a fabricar, porque “o investimento em alguns setores era demasiado elevado”.

“O objetivo foi fazer uma gestão de prioridades e tivemos de nos focar em determinados produtos e mercados para podermos ter capacidade de crescimento e ir recuperando os clientes e com o decorrer do tempo ir abraçando outras actividades, não chegámos ainda aos 100%, temos esse objetivo em mente, mas temos de fazer o resto do caminho para adquirir a maquinaria que falta”, explica Paulo Guerra, empenhado como antes do incêndio em fazer crescer a empresa que é uma das mais importantes do setor em Portugal, atualmente com 45 trabalhadores.

“Nós estamos igual a 15 de outubro, os nossos terrenos estão limpos, a questão do incêndio ter destruído a nossa empresa foi por fatores externos que nós não sabemos de quem é a culpa”, conclui Cláudio, temendo que não se tenham retirado “lições” deste grande incêndio e que futuramente possa acontecer uma tragédia semelhante.

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