Quando decidiram trocar Odessa, na Ucrânia, pela região Centro de Portugal e pelo concelho de Oliveira do Hospital, em outubro passado, os pais de Katerina Artishchenko (a mãe ucraniana e o pai búlgaro) estavam longe de imaginar que uma guerra como aquela que está a devastar o seu país, rebentasse no espaço de tão poucos meses. “Escolheram Portugal como podiam ter escolhido outro país para viver” conta-nos uma portuguesa próxima da família a quem tem dado todo o seu apoio nos últimos dias.
Com os pais a salvo, Katerina, o marido e os dois filhos, de 7 e 10 anos de idade, não hesitaram em largar tudo e fugir para Portugal, mal a guerra começou a eclodir. Viajaram de carro durante quatro dias até Oliveira do Hospital, quase só com a roupa que traziam no corpo. “Foi muito duro, foi uma tragédia para o meu coração, mas agora estamos em segurança”, conta a jovem mãe ucraniana que teve a “sorte” de ter saído do país acompanhada do marido, “uma hora antes” dos homens terem sido mobilizados pelas tropas ucranianas.
“Se não temos saído logo, provavelmente já não teríamos conseguido atravessar a fronteira juntos” disse ao nosso jornal, no dia em que a família foi recebida pelo Município de Oliveira do Hospital, lamentando o que está a acontecer à Ucrânia e ucranianos que, dia após dia, não têm alternativa senão interromper as suas vidas e fugir da guerra.
“Felizmente estou aqui com os meus pais, mas estamos muito preocupados porque parte da nossa família, os pais do meu marido, os avós, ficaram lá”, diz, não sabendo ainda o que lhes vai acontecer porque as cidades – e nomeadamente em Odessa onde viviam – tem sido alvo de intensos bombardeamentos e está tudo fechado, as escolas, as lojas, os supermercados não têm comida, não há água. “Não sabemos como vai ser”, receia, manifestando uma enorme tristeza pelo que está a acontecer no seu país.
Ainda sem tempo para se adaptar a Portugal e à região, Katerina Artishchenko aproveita para agradecer todo o acolhimento e solidariedade manifestados por parte do Município de Oliveira do Hospital e dos oliveirenses com quem já contactaram nos últimos dias. “Temos de perceber agora como é que o país funciona, porque nós não conhecemos nada, as crianças precisam de aprender o português, nós precisamos de encontrar trabalho, vamos tentar recomeçar”, aguarda a jovem licenciada em gestão, ainda a tentar ambientar-se e para já focada em legalizar a situação da família em Portugal para poderem começar uma vida nova. Já que o regresso a Odessa vai ser difícil nos próximos tempos. “Não sabemos como é que o país vai ficar depois disto tudo, vai demorar certamente muitos anos a reconstruir”, observa, num misto de devastação e de esperança.