A Biblioteca do Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital foi o local escolhido para a apresentação do livro “Brandos Costumes… O Estado Novo, a PIDE e os intelectuais” coordenado por Luís Reis Torgal e que conta com textos de vários autores, entre os quais, o seu filho, o professor do AEOH e também historiador, Luís Filipe Torgal.
O livro contou com a apresentação de António Campos, fundador do PS e uma das figuras de referência na luta contra a ditadura, que deu o seu testemunho de como era o país dos brandos costumes retratado nos vários textos que integram o livro. A abrir a sessão de apresentação do livro, o diretor do AEOH, Carlos Carvalheira, congratulou-se pelo facto desta iniciativa cultural ter acontecido em Oliveira do Hospital e, concretamente, no espaço da escola, o que “merecemos”, sendo uma forma, segundo o diretor, de fomentar, nos alunos, os hábitos de leitura e o conhecimento.
“É com orgulho que estou à frente de um AE com esta dinâmica e com professores com esta qualidade”, referiu. Igualmente satisfeito por esta apresentação ter lugar em Oliveira do Hospital, e de ter emanado da comunidade escolar, o Presidente do Município, José Francisco Rolo, afirmou estar perante uma obra de “referência” dedicada ao período do Estado Novo que é ao mesmo tempo “um alerta para os tempos que hoje vivemos”. “Vivemos tempos de populismo em que são postos em causa pilares fundamentais das sociedades abertas, democráticas e participadas e em que o populismo grassa de forma perigosa”, notou o edil, considerando este livro “um bom estimulo de reflexão” e “um bom alerta” para os perigos e desafios que as sociedades democráticas têm pela frente. “São eventos como este que valorizam a escola pública” e a própria comunidade escolar, considerou ainda o autarca oliveirense.
Presente nesta sessão de apresentação, o presidente da Assembleia Municipal de Oliveira do Hospital e atual deputado da nação, José Carlos Alexandrino, considerou também ele que este livro deve servir para refletir de que “a democracia não é um dado adquirido”, e que é uma questão que “nos deve preocupar todos os dias”, porque “as sociedades estão hoje muito mais radicais do que estavam”.
Deixando o testemunho na primeira pessoa sobre aquele que considerou um período “negro” da nossa história recente, António Campos felicitou os “Torgais” – pai e filho – por esta obra “fantástica” e pelo contributo que dá para um melhor conhecimento do chamado país de brandos costumes, já que “são poucos os historiadores de uma comunidade brutal de historiadores a obrigarem a pensar sobre a história da ditadura, que é de uma violência inacreditável”. António Campos falou na luta que cedo começou a travar contra a ditadura do Estado Novo, dizendo que apesar de “nunca lhe faltado nada em menino, e de ter tido sempre tudo, sentia fome de liberdade”.
Por esse motivo foi perseguido, expulso da Escola Agrária e impedido de trabalhar em empresas portuguesas, ele e também a sua mulher (professora) que esteve 12 anos em casa sem poder exercer a sua profissão, relatou, partilhando com alunos e professores que o escutavam o “sofrimento brutal” a que foi sujeito, ele e todos quantos tentavam combater o regime.
Coordenador e co-autor do livro, que reúne textos de sete autores, Luis Reis Torgal, falou da obra que é fruto de “um projeto de investigação” a partir dos anos 90. “Brandos Costumes porquê? Porque é uma expressão utilizada pelo próprio Estado Novo” e pela sua máquina de propaganda, que queria “distanciar-se do fascismo”. “Achámos que era uma expressão significativa e decidimos usá-la com ironia”, justificou o autor e conhecido historiador, chamando a atenção para o país de “brandos costumes que não era brandos costumes”, porque o que se seguiu era de uma forte “repressão contra os oposicionistas”, fez notar, fazendo questão de dedicar o livro a todos os professores e em particular à sobrinha, Natália Torgal Machado, professora do 1º Ciclo do AEOH, falecida em abril do ano passado
Co-autor do livro, Luis Filipe Torgal deixou também algumas notas sobre a sua participação na obra coordenada pelo pai, falando do texto sobre Tomás da Fonseca, quem apelidou de “patriarca das oposições”. O intelectual natural de Mortágua, filho de camponeses, morre aos 90, precisamente no ano em que Salazar “cai da cadeira”, lembrou o historiador que fala na extensa obra de Tomás da Fonseca – publicou mais de 40 livros- alguns dos quais de uma “critica feroz” à Igreja e a Fátima. A apresentação do livro encerrou com a leitura de um excerto do texto, pela aluna Mafalda Correia, que relata como até o funeral de Tomás da Fonseca foi absolutamente “controlado e escrutinado pela PIDE”.