Postes, postes e mais postes
Recentemente, no âmbito da nossa atividade como pequenos operadores turísticos, fomos recentemente contactados pela Câmara de Oliveira do Hospital para aderirmos a um programa de promoção da observação de céus noturnos denominado Dark Sky e que tem dado grandes frutos no Alqueva e que se pretende implantar em Oliveira do Hospital, através da Rede das Aldeias do Xisto.
Fiquei bastante agradado com a ideia, pois ela pode trazer bastante movimento turístico para a região, principalmente de pessoas cultas e civilizadas apreciadoras da observação de um céu noturno livre de poluição luminosa.
Na minha experiência bem sei o quanto os nossos hóspedes valorizam o céu de Alvoco. O quanto se espantam e apreciam ver um céu tão lindo, livre de grandes interferências luminosas, onde as estrelas, os planetas e as constelações são facilmente observadas a olho nu. As freguesias do sul do concelho de Oliveira, nas quais se inclui Alvoco das Várzeas têm condições ímpares para esta actividade pois a sua proximidade com o maciço da Serra do Açor, mas também com a Serra da Estrela, proporcionam vastos territórios com muito pouca poluição luminosa.
É pois com contínua estupefacção que assistimos há décadas, mas que pensávamos já ter terminado, a uma política de colocação de iluminação pública acompanhada dos horrendos postes, sem qualquer nexo ou planeamento, muitas vezes apenas para satisfazer caprichos das juntas de freguesia ou interesses privados.
Nas aldeias e quintas mais recônditas, a que Alvoco não escapa, é habitual encontrarmos postes de iluminação para servir javalis, raposas e outros animais selvagens.
Se por um lado foi este executivo municipal que há cerca de meia dúzia de anos teve uma excelente política de desligar alguns pontos de iluminação pública fruto do devaneio dos anos 90 e 2000, é também este executivo que permite, aparentemente de forma aleatória, a colocação de mais postes. Esta não política não se coaduna com a iniciativa Dark Sky Aldeias do Xisto e prejudica muito o sucesso deste excelente programa.
Esperamos pois que se adoptem algumas práticas de controlo do excesso de luminosidade noturna, como por exemplo a diminuição da potência da luz e a colocação de relógios em determinadas zonas, para não falar na possibilidade da colocação de sensores que apenas ligariam a iluminação aquando da passagem humana.
A esse propósito não podemos deixar de questionar que sentido faz, em plena época invernal, o parque de merendas de Alvoco estar profusamente iluminado toda a noite? Não faria mais sentido as luzes apagarem-se, por exemplo, à meia-noite? É que a questão não se põe só em termos de poluição luminosa, mas igualmente no que se refere à poupança de recursos energéticos e também no aumento da qualidade de vida dos animais selvagens e domésticos, fortemente afetados nos seus ciclos biológicos naturais pelo excesso de luminosidade durante a noite.
Desejo a todos os leitores um feliz Natal e de um excelente ano de 2021, já livre da insane pandemia que nos assolou!
José Vasco de Campos