Várias empresas da zona industrial de Oliveira do Hospital e muitas outras fora desta área, arderam total ou parcialmente, no fatídico dia 15 de outubro, num prejuízo avaliado em mais de 100 milhões de euros.
Entre fábricas, armazéns, oficinas e ainda maquinaria, registam-se pelo menos 95 empresas devastadas, colocando em risco cerca de meio milhar de postos de trabalho.
Destroçado, o proprietário de uma carpintaria que empregava mais de 12 pessoas na Zona Industrial, encontrava-se no dia seguinte à tragédia, juntamente com alguns dos trabalhadores, nas traseiras daquilo que restava da empresa que fundou, há mais de 40 anos no concelho. Enquanto algum fumo saía de dentro dos armazéns de onde nada se salvou, surgia um silêncio entre proprietário e funcionários perante o cenário de completa destruição. “Ardeu praticamente tudo”, afirmava Fernando Brito, sem saber ainda o que fazer, mas apenas com a certeza de que “sem ajuda de alguém” não deve ter capacidade para se reerguer. “É um dia de luto”, afirmava ainda com a voz embargada.
Ali próximo, Aaron Vansant, de 29 anos, está sentado à frente da empresa que gere com o irmão e o pai, belgas a viver em Oliveira do Hospital desde 1986. A empresa especializada em sementes de relva de jardim viu parte dos armazéns a arder. Cerca de um terço do ‘stock’ ficou destruído e a cabine das máquinas “derreteu toda”, aponta Aaron, enquanto anda pela parte ardida, a coxear – resultado de um ferimento num prego solto enquanto tentava apagar o incêndio. Depois de uma noite a lutar para salvar a sua casa, foi de manhã que se deparou com o armazém ardido. “São doze postos de trabalho. Não sei se estão em risco, mas também não posso prometer nada”, afirmou, referindo que as pessoas “estão muito abaladas”.
Nas instalações da Socorreias, também ali próximo, o cenário não é mais animador e vê-se um carro calcinado que galgou o passeio e derrubou a vedação. Com 70, o seu proprietário, Artur Correia, jura nunca ter visto nada assim. “Isto é uma catástrofe. Foi uma coisa assustadora. A aflição, a agonia, aquilo que construímos durante anos e numa noite vemos tudo perdido”, conta o empresário que na noite de 15 para 16 de outubro não pregou olho, dividiu-se entre controlar as chamas perto da sua casa e ver se o fogo estaria próximo da sua empresa, ligada à construção e eletricidade. Quando se deparou com as chamas, apenas teve tempo de salvar viaturas e evitar a entrada das chamas nos armazéns. Mesmo assim, diz que terá “umas centenas de milhares de euros de prejuízo”. “Eu queria ver se não perdia os meus trabalhadores. Tenho aqui pessoas com 30 e tal anos de casa. Somos quase uma família e apertamos a mão a todos, que só por mim, a empresa não estava aqui passados 42 anos, também é deles”, contou. Apesar de algum desalento, Artur Correia diz que ainda há “pujança” para dar a volta, mas sozinho não consegue. “Só por mim, não consigo. Não há tesouraria que aguente. Têm que me ajudar”, contou à Lusa o empresário sublinhando que “só quem passa por elas é que sente”. “É uma tristeza”, constatou.