Hoje, proponho-me falar de um autor do concelho. Porventura o mais antigo que se conhece: Brás Garcia Mascarenhas.
Um livro é um mundo de sentimentos, de vivências, de emoções. É uma viagem através do tempo e do espaço, sem sair do lugar. Um livro é um objecto com páginas e páginas cheias de palavras, que vamos degustando com prazer. Palavras bordadas no papel, moldadas num torno de fantasia. Lendo, vivemos mais e melhor, porque, além da nossa vida, vivemos outras vidas.
Para que tudo isso aconteça, tem de haver autores: os artesãos das palavras.
Hoje, proponho-me falar de um autor do concelho. Porventura o mais antigo que se conhece: Brás Garcia Mascarenhas. Nasceu na Vila de Avô, Oliveira do Hospital, junto à Serra da Estrela, a 3 de Fevereiro de 1596, e faleceu a 8 de Agosto de 1656 no mesmo local. Foi estudar para Coimbra, mas teve de fugir para Madrid perseguido pela justiça. Viajou por vários países da Europa e fixou-se algum tempo no Brasil, regressando a Portugal na altura em que D. João IV foi aclamado rei. O poeta-guerreiro participou activamente nas lutas pela independência contra o domínio filipino. Pelos feitos então praticados e, como recompensa pelos seus serviços, o Monarca concedeu-lhe o cargo de Governador da Praça de Alfaiates, situada na fronteira.
Mais tarde acusado injustamente de traição, foi preso na torre de menagem do castelo de Sabugal.
Tendo sido aconselhado por um amigo a pedir ao rei clemência, assim fez. Mas como, se não tinha meios para escrever? Teve uma ideia. Mandou pedir ao Governador do Castelo linhas, tesoura e agulhas, para remendar o fato andrajoso.
Como não tinha papel nem tinta, lembrou-se de pedir ao Governador um livro que lhe servisse de consolação e um pouco de farinha de trigo para um remédio. O livro foi o Flos Santorum, um livro de Hagiografias, donde o recluso recortou com a tesoura todas as letras que lhe iam servindo para a sua carta ao Monarca, a fim de implorar clemência e para justificar os seus actos. Era esta carta uma missiva escrita inteiramente em verso.
Absolvido por D. João IV, terminou os dias na sua terra natal. Aí terá escrito parte da epopeia em vinte cantos e oitava rima Viriato Trágico (1699). Além desta obra, escreveu ainda Ausências Brasílicas e Labirinto do Sentimento na morte do Sereníssimo Príncipe D. Duarte, actualmente desaparecidas.
Assim se tornou autor concelhio. Deu nome a um famoso Colégio fundado em Oliveira do Hospital e também ao Agrupamento de Escolas. A casa onde nasceu e morreu lá se encontra debruçada sobre o Alva e, em boa hora, restaurada pelo Município.
Assim, se pode valorizar a cultura do concelho: lendo os seus autores e mantendo acesa a chama da criatividade e da inspiração.
Vivam, vivendo os livros!
Lucinda Maria
(não escrevo segundo o AO90)